O único hit dos Rolling Stones composto no interior de São Paulo após convite de banqueiro
Por Gustavo Maiato
Postado em 04 de junho de 2025
Em janeiro de 1969, no auge da fama e do caos que envolvia suas vidas públicas, Mick Jagger e Keith Richards, líderes dos Rolling Stones, trocaram os holofotes da mídia internacional pelo sossego de uma fazenda no interior de São Paulo. O destino? A pacata Matão, a 310 km da capital paulista, onde a dupla não só descansou como também compôs a canção que viria a se tornar um dos maiores sucessos da banda: "Honky Tonk Women".
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A visita inusitada foi resultado de um convite do banqueiro Walther Moreira Salles, após os músicos se desentenderem com seguranças durante o réveillon no Rio de Janeiro. A proposta era simples: esconder-se por um tempo da imprensa. A recepção, no entanto, foi tudo menos discreta. "A gente costuma falar aqui, com um orgulho no coração, que Matão fez parte da história do rock", resume o jornalista Matheus Carvalho, que documentou o episódio no filme Aliens 69. A história foi resgatada por matéria do G1.
A estadia dos Stones na Fazenda Boa Vista durou cerca de duas semanas. Lá, o ex-porteiro Wanderley Zanoni testemunhou momentos insólitos e bem-humorados: "Eles saíam pelados pela casa, bebiam cerveja em lata — que nem existia no Brasil ainda — e passavam os dias tocando violão no porão". Segundo o livro Vida, autobiografia de Keith Richards, foi em uma dessas varandas que a música "Country Honk" ganhou forma — versão embrionária da hoje clássica "Honky Tonk Women".

Os britânicos, que chamavam a atenção por onde passavam com suas roupas incomuns e cabelos compridos, também circularam pelo centro da cidade e chegaram a visitar um terreiro de umbanda em Araraquara, cidade vizinha. O ritual com atabaques chamou a atenção da dupla, mas não teve relação direta com a criação de "Sympathy for the Devil", composta anteriormente durante uma visita de Jagger à Bahia em 1968.
Mesmo cercada por seguranças e muros altos, a fazenda viveu dias de agitação. Uma festa junina fora de época foi organizada pelos músicos, que contaram com um sanfoneiro local. "O Mick e o Keith tocaram sanfona e o Richards se interessou muito pela afinação da viola caipira", contou Carvalho. A interação com a cultura brasileira foi espontânea — e surpreendente para os moradores.

Segundo outra matéria do G1, a chegada dos Stones a Matão virou lenda local. Fátima Calza, fã da banda, relembra com entusiasmo: "A maior relíquia é a lembrança. Eu vi eles peladões na piscina e ainda ganhei um tchauzinho". A experiência marcou não só os moradores, mas também a história do rock. "Foram dias que ajudaram a moldar uma das músicas mais icônicas dos Stones", conclui Carvalho.

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