Como era versão original da letra de "Exagerado" do Cazuza e os versos que foram cortados
Por Gustavo Maiato
Postado em 08 de julho de 2025
Em vídeo publicado no YouTube, o jornalista e pesquisador Julio Ettore revelou como era a versão original da letra de "Exagerado", primeiro grande sucesso da carreira solo de Cazuza. A composição, feita em parceria com Ezequiel Neves e Leoni, passou por cortes e alterações antes de se transformar na faixa-título do disco lançado em 1985. Segundo Ettore, a versão enviada à censura, em 9 de julho daquele ano, era bem diferente da que chegou às rádios.
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A canção nasceu em meio à turbulência da saída de Cazuza do Barão Vermelho. Embora ainda não tivesse anunciado oficialmente sua decisão, o cantor já montava o repertório do disco solo. Ezequiel, seu mentor artístico e companheiro de excessos, foi peça central nesse processo. "O Cazuza declarou que o ‘Exagerado’, na realidade, era o Ezequiel Neves. E foi pensando nele que o cantor escreveu essa letra no primeiro semestre de 85", conta Ettore.
Entre os versos da primeira versão está uma estrofe que acabou completamente reescrita:
"Paixão feroz, desenfreada
Em Portugal te chamam fado.
O nome certo talvez seja exagerado."
O trecho foi substituído na versão final por:
"Paixão cruel, desenfreada.
Te trago mil rosas roubadas
Pra desculpar minhas mentiras, minhas mancadas."

O refrão original também tinha diferenças:
"Exagerado, jogado aos teus pés
Eu sou mesmo exagerado, só gosto de amor inventado."
Segundo Ettore, "comenta-se que o Cazuza também pode ter se inspirado na Elza Soares para fazer essa parte, porque teve um dia em que ele mesmo se jogou aos pés dela num show da cantora no Maracanã." O cantor teria contado a pessoas próximas que Elza foi uma das inspirações da música.
Outro trecho cortado aparece na segunda parte da letra:
"Eu venho com mil rosas roubadas
Desculpar minhas mancadas
Eu venho sozinho, chapado
Achando tudo ‘nunca mais’."
Esses versos acabaram fundidos a outra estrofe da versão final. Já o encerramento da versão original trazia um final inusitado:
"Eu vou morar numa cabana, num kitnet em Copacabana.
Vou mendigar, roubar, matar
Pra ter você ao meu lado.
Não leve a sério, porque eu sou exagerado."

Julio Ettore observa que, apesar de a versão final parecer mais suave, alguns códigos foram mantidos.
"Talvez você não tenha reparado, mas ali tem um trocadilho com drogas, algo que Cazuza sempre fazia quando podia", diz. Ele se refere aos versos:
"Por você eu largo tudo: carreira, dinheiro, canudo."
Ettore explica: "A carreira é de pó, o dinheiro é o que molda a carreira e o canudo é pra aspirar." Esse trecho chegou a ser cortado por Carlos Leoni, baixista do Kid Abelha, chamado por Ezequiel para compor a melodia após a rejeição da versão feita por Frejat. Foi o próprio Frejat quem sugeriu que a frase fosse reinserida, mesmo após ter sido descartado do processo.

Ao falar sobre os cortes, Ettore lembra que "Cazuza comentou que ele [Leoni] teria que enxugar um pouco a letra, só que enxugou demais, cortou ótimos achados." Ezequiel completou: "Era pra amenizar um pouco, mas na verdade ele tirou tudo o que de melhor havia nela."
Com pitacos de todos os lados — de Ezequiel, de Frejat e de Leoni — a música foi sendo lapidada até chegar à versão definitiva. A história da letra de "Exagerado" revela não só o processo criativo de Cazuza, mas também o clima de transição em que ele se encontrava: entre a rebeldia juvenil e a maturidade artística, entre o Barão Vermelho e a carreira solo, entre a persona pública e as dores privadas.

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