A música que Jimi Hendrix estava de saco cheio de tocar ao vivo
Por Bruce William
Postado em 20 de outubro de 2025
Todo artista que vira ícone ganha um "cartão-postal", aquela música que o público exige no bis, custe o que custar. Com Jimi Hendrix não foi diferente. O problema é quando o cartão-postal vira cárcere.
No caso dele, a faixa em questão era "Foxy Lady". Um hino incendiário no estúdio, peça obrigatória no palco e, paradoxalmente, a canção que mais cansou o próprio autor. Quem contou foi Alice Cooper, que conviveu com Hendrix no início da carreira e ouviu a confissão diretamente do guitarrista nos bastidores, relembrou a Far Out: "Cara, se eu tiver que tocar 'Foxy Lady' mais uma vez, vou enlouquecer." A reação do jovem Cooper foi a mesma que qualquer fã teria: "Se eu estivesse na plateia e ele não tocasse 'Foxy Lady', eu me sentiria trapaceado."


Eis o dilema clássico: a música que coroou o artista é a mesma que o aprisiona na repetição. Dá pra entender os dois lados. Para o público, "Foxy Lady" é o feitiço - aquele grave vibrando, a sexualidade no riff, o solo que parece dobrar o ar. Para o guitarrista, noite após noite, pode virar ritual mecânico, mais dever do que descoberta.
Mesmo assim, Hendrix raramente pulava a faixa. A assinatura pesa: expectativa coletiva, desenho do set, responsabilidade com quem esperou a vida inteira por aquele momento. Ele sabia. O curioso é que a rejeição não diminui a canção - explica o cansaço de quem a carregou nas costas. Em palco, genialidade também cansa; e ninguém, nem Jimi, está imune à fadiga de tocar a própria estátua.

"Foxy Lady" acabou ficando como marca registrada e como lembrete do preço da fama: a música que incendiou o mundo podia, às vezes, asfixiar o incendiário. E ainda assim, ele ia lá e acendia o fósforo de novo.
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps