Lars Ulrich revela a música do Deep Purple que o marcou para sempre na infância
Por Bruce William
Postado em 18 de outubro de 2025
Quando Lars Ulrich era criança, seu pai o levou para assistir ao Deep Purple em Copenhague, em 1973 - um show que mudaria sua vida. O futuro baterista do Metallica contou, no podcast Music And We (com transcrição do Blabbermouth, que foi ali que começou sua jornada musical. "Tudo que chegava à Dinamarca naquela época vinha da Inglaterra. O Deep Purple foi o começo de eu expandir meus horizontes musicais", recordou.

A música que o marcou naquela noite foi "Child in Time", que ele conheceu por meio do álbum ao vivo "Made in Japan". Não era apenas o alcance vocal, nem o solo de guitarra: o que prendeu a atenção do garoto foi o clima épico, a sensação de que a faixa crescia e recuava como uma história dita em capítulos. "Era uma experiência que ia se transformando conforme você ouvia", disse.

Com o tempo, Lars percebeu que havia ali algo além de uma grande composição: cada apresentação parecia outra música. No relançamento de "Made in Japan", que trouxe os três shows completos (15, 16 e 17 de agosto de 1972, em Osaka e Tóquio), essa impressão virou certeza. "Nos três shows do 'Made in Japan', a duração, a dinâmica e até o humor eram distintos, dependiam do estado de espírito dos músicos, especialmente de Ritchie Blackmore", explicou.

Foi o primeiro contato dele, dentro do rock, com a lógica do improviso que costumava associar ao jazz. Ele cita nomes como Miles Davis e John Coltrane para dar a medida do que sentiu: música que vive e respira conforme o momento. "Era música que vivia e respirava, dependendo do humor dos artistas. Isso me marcou profundamente." A descoberta não era apenas técnica; era conceitual - a ideia de que uma canção não precisa ser idêntica toda noite para continuar sendo a mesma.
Esse choque estético ajudou a formar o olhar de Ulrich para o palco. Mesmo no Metallica - uma banda famosa pela precisão de execução - há lampejos dessa visão: interlúdios que se alongam, finais que ganham variações, trechos que respiram conforme o público reage. A lição que ficou de "Child in Time" foi menos "toque como o Deep Purple" e mais "deixe espaço para a música acontecer".

Também pesa o contexto de descoberta. Na Dinamarca do começo dos anos 1970, a avalanche criativa que vinha da Inglaterra (T. Rex, Sweet, Slade, entre outros) moldava a cabeça de quem quisesse ouvir rock. O Deep Purple, com seu impacto de palco, abriu uma porta diferente para o garoto: uma mistura de peso, virtuosismo e liberdade, difícil de explicar e impossível de esquecer.
Ulrich encerrou a lembrança com uma nota quase melancólica: a espontaneidade que ele viu naquela época ainda mais rara hoje, em um cenário dominado por setlists fechados, click tracks e produções que miram a perfeição. Justamente por isso, "Child in Time" permanece como um marco pessoal: a canção que ensinou que o rock também pode improvisar, arriscar, respirar e, por alguns minutos, ser diferente toda vez.

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