Como foram as três overdoses que Renato Russo sofreu: "Cheguei aos 50 kg"
Por Gustavo Maiato
Postado em 12 de outubro de 2025
Em seu livro "Só por hoje e para sempre", o cantor e compositor Renato Russo revelou detalhes dolorosos sobre o período em que viveu sob o abuso de drogas e álcool. Com extrema franqueza, o vocalista da Legião Urbana descreveu como quase perdeu a vida em três overdoses consecutivas, marcadas por descontrole, solidão e descuido com a própria saúde.
"Quase od'd três vezes (uma vez no Rio, em casa, após uso intenso de cocaína e álcool e novamente sem me alimentar, só na base do iogurte - outra no Rio também, e dessa vez tive que pedir para chamarem um médico em casa - e a pior de todas em Brasília, onde estava com um parente meu e fui parar no hospital já quase morto, eu acho, em pânico, com taquicardia etc.)."
Legião Urbana - Mais Novidades


Segundo ele, a última crise aconteceu após três dias seguidos de uso de cocaína e sem comer absolutamente nada. O cantor contou ainda que, após esse episódio, tentou abandonar o consumo da droga e se concentrou apenas no álcool - o que também trouxe consequências graves. "Parei então de usar cocaína e concentrei-me no álcool, o que deve ter me levado a uma reação alérgica tão forte toda vez que bebia um gole."

Renato escreveu que chegou a ficar abstêmio por mais de dezoito meses, período em que substituiu o álcool e as drogas pesadas pelo haxixe. Apesar disso, o corpo cobrou seu preço: "Tive uma hepatite B séria (muito séria aliás), certamente ligada às falhas na minha alimentação. Nunca gostei muito de comida por alguma razão e não comia mesmo. Cheguei aos 50 kg (o que para minha altura, 1,76 m, me fazia parecer alguém com anorexia nervosa)."
O músico explicou que, após o susto da hepatite, fez terapia e ficou dois anos sem beber, ainda que tenha feito uso de outras substâncias no período. "Usei haxixe, downers e heroína no intervalo anterior a isso e maconha no final desses dois anos (1990-92). Tudo isso foi extremamente prejudicial à minha saúde. Senti culpa, medo e vergonha, e minha família e amigos não sabem como continuei vivo", confessou.

Como era a relação de Renato Russo com tranquilizantes e álcool
Renato Russo sempre falou abertamente sobre o tema. Em entrevista concedida a Jô Soares, em 1994, o cantor explicou sua relação com tranquilizantes e bebidas: "Minha dependência química era com tranquilizantes, mas todo e qualquer tipo de droga pode ser uma dependência. Hoje, se eu quiser me acalmar, não posso tomar nada. Não posso tomar calmantes. É meditação, yoga e chá de camomila. Eu cheguei a ponto de procurar ajuda. Não posso falar das outras pessoas."

O líder da Legião Urbana também relatou que chegou a participar do grupo Alcoólicos Anônimos e refletiu sobre a romantização do uso de drogas na música: "O Cazuza já falava: 'Meus heróis morreram de overdose'. Essa coisa do romantismo... Fica uma coisa interiorizada. Eu sentia isso. Se eu quero ser poeta ou músico, preciso seguir esse caminho. Isso não é verdade de jeito nenhum."
Em uma fala que mostra o quanto o tema o afetava espiritualmente, Renato concluiu: "A palavra para álcool em latim é spiritus. Existe essa dicotomia do álcool transferir para a pessoa uma ilusão de espiritualidade e acabar minando a espiritualidade da pessoa. Dá um vazio terrível e uma sensação de que não existe Deus. É uma sensação de que a vida não vale a pena ser vivida."

Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps