Resenha - Autobiography - Morrissey
Por Roberto Rillo Bíscaro
Postado em 28 de dezembro de 2018
Os Smiths são os Beatles do indie rock e seu letrista/vocalista Morrissey, um dos ícones dos anos 1980. Controverso, bombástico, arrogante, sardônico, narcisista e marinado em autopiedade, esse homem é autor de algumas das letras mais pungentes do rock. A autoimportância do poeta começa pela escolha do sobrenome como nome artístico. Nomes de família eram reservados a eruditos. Mozart, Beethoven, Lizst. Morrissey. Musicalmente ignorado pela grande mídia o inglês possui fãs-devotos. Volta e meia alguma de suas provocações ganha manchetes. Ame ou odeie. Moz.
Para fechar contrato com a tradicional editora Penguin, estipulou que seu livro fosse publicado pela divisão dos clássicos. Marca de seu ego inflado, mas também truque comercial, o estratagema deu certo e Autobiography (2013) saiu pela Penguin Classics, gerando controvérsia, por isso, rendendo pautas.
Batizar seu produto com o nome que recebe por seu gênero literário lembra o P.I.L, que nomeou seus lançamentos de 1986, como Album, CD, Cassette, Video. Sabe Deus se Morrissey se lembrou disso, mas não custa recordar que o Public Image Limited era chefiado por John Lydon, que, com os Sex Pistols, influenciou Morrissey fundamentalmente.
Polêmica e jogada comercial há muito passadas, a Penguin Classics amargará a piada de ter lançado um texto longe de aspirar ao estatuto de clássico em sua incensada subdivisão, merecedora, agora, de menos incenso.
Autobiography apresenta o familiar estilo palavroso de Morrissey: linguagem rebuscada, cheia de ecos, assonâncias, aliterações, trocadilhos. Mais de um punhado de passagens cheiram a pretensão. Quem conhece bem suas letras, facilmente reconhecerá alusões e referências.
O problema é que o texto engana o leitor. Ao terminar de lê-lo não conhecemos Morrissey melhor, sequer contatamos outra faceta que não a do sardônico mártir, incapaz de admitir erros, mas apto a fazer os mais cruéis (e malevolamente engraçados) julgamentos sobre desafetos.
Morrissey nunca está ou faz nada errado; o mundo eternamente conspira contra ele, corroborando a autoimagem de gênio vegetariano antimonarquista incompreendido e fadado ao isolamento.
O final dos Smiths vem numa simples frase; tiveram reunião com seu contador e o grupo acabou. Claro que não foi simples assim! Falou-se muito de que finalmente o crooner admite sua homossexualidade, revelando o nome do primeiro caso amoroso. Verdade, mas nada é contado sobre o fim do relacionamento. Moz tem a decência de não jogar a culpa no ex-namorado, mas o namoro se esvai das páginas mais discretamente do que entrara.
Algumas seções de Autobiography – que impiedosamente é destituída de capítulos ou qualquer tipo de espaço entre partes – são imperdoavelmente monótonas e repetitivas. Será que Moz proibiu edição?
Quando o ex-Smith Mike Joyce deflagra o famoso processo requerendo 25% dos royalties embolsados por Morrissey-Marr, somos submetidos a dezenas de páginas esmiuçando e reclamando sobre cada ervilha comida pelo juiz John Weeks, que passou sentença desfavorável a Morrissey. Provavelmente se sentindo como seu ídolo Oscar Wilde, Moz se compraz no papel de injustiçado e eternamente destruído, enquanto nós leitores, chegamos a desejar tal danação, como vingança pela tortura do lenga-lenga choroso e repetitivo.
Querendo ser ácido, o narrador por vezes se trai. Quando um músico abandona sua banda e propaga coisas horríveis sobre o ex-patrão, Morrissey diz que era, claro, tudo verdade. Então, como o leitor pode crer nas tantas outras histórias de conspiração onde todo mundo estava errado, menos Moz?
A porção final é dedicada a exaustivo relato de suas andanças por casas de shows nem tão grandes, em cidades nem tão importantes, onde o cantor se sacia em se sentir amado por plateias escandinavas ou mexicanas. No começo até interessa, mas quando se chega pela terceira vez à Suécia, nos perguntamos onde tudo isso vai dar.
E não dá em nada, como toda a obra.
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



Show do AC/DC no Brasil não terá Pista Premium; confira possíveis preços
Download Festival anuncia mais de 90 atrações para edição 2026
O disco do Metallica que para James Hetfield ainda não foi compreendido; "vai chegar a hora"
Os melhores guitarristas da atualidade, segundo Regis Tadeu (inclui brasileiro)
As duas bandas que atrapalharam o sucesso do Iron Maiden nos anos oitenta
A música do Kiss que Paul Stanley sempre vai lamentar; "não tem substância alguma"
Regis Tadeu explica por que não vai ao show do AC/DC no Brasil: "Eu estou fora"
"Guitarra Verde" - um olhar sobre a Fender Stratocaster de Edgard Scandurra
Max Cavalera fala sobre emagrecimento e saúde para turnê desafiadora
Mais um show do Guns N' Roses no Brasil - e a prova de que a nostalgia ainda segue em alta
Wolfgang descarta gravar álbum com ex-membros do Van Halen
A banda que Dave Grohl acha "indiscutivelmente a mais influente" de sua geração
Greyson Nekrutman mostra seu talento em medley de "Chaos A.D.", clássico do Sepultura
Como era sugestão de Steve Harris para arte de "Powerslave" e por que foi rejeitada?

A banda que Julia Roberts ainda adora, mesmo discordando das ideias políticas do vocalista
Morrissey em entrevista a crianças de nove anos em 1984: "Nunca gostei de crianças"
O dia em que um ex-jogador do Flamengo tomou umas e resolveu ir à casa do vocalista do The Smiths
Eu Sou Ozzy - A Autobiografia de Ozzy Osbourne


