Extra Ative: entrevista com a banda do underground paulista
Por Denis Santos
Fonte: Opinião Cult
Postado em 26 de janeiro de 2016
Formado em 2013, trio da Extra Ative é composto por Cleber (baixo e voz), Cesar (guitarra e voz) e Rafael na bateria. O nome da banda tem como conceito: estruturas compactas podem representar conteúdos grandiosos, este foi inspirado no termo extrair conteúdo de arquivos compactados em computadores. A ideia é mostrar que eles têm a capacidade de extrair uma sonoridade sólida.
A conversa com a banda norteou os atuais rumos do Rock nacional, a luta por espaço do gênero musical, e principalmente a sobrevivência diária dos novos nomes do underground. Veja a entrevista abaixo:
1- Recentemente saiu uma lista com o resultado das 100 músicas mais executadas em rádios por todo o país em 2015. Esta foi quase que ocupada exclusivamente por um único estilo, o Sertanejo. Já o Rock ficou de fora, um estilo que durante mais de uma década liderou as rádios nacionais, responsável por introduzir um maior espaço para nomes brasileiros nas rádios. De qual forma a banda enxerga toda essa mudança nas rádios, e no público brasileiro?
Acreditamos que nas décadas de 80 e 90 o povo brasileiro passava por uma realidade econômica diferente dos dias de hoje. O poder de compra era bem menor comparado à atualidade. Acreditamos que a insatisfação trazida pela condição financeira do povo naquela época certamente era determinante para que a população se interessasse mais por músicas que possuíam o protesto em suas essências. Talvez agora, com o aumento de casos de escândalos políticos, aumento da inflação e diminuição do dinheiro para fazer festas, o povo volte a ter o desejo pelo protesto, e busque mais pela atmosfera ácida e de rebeldia encontradas no Rock.
2- A vida já está complicada para grandes nomes do rock Brasil, antes acostumados ao principal holofote, agora remetidos a menor espaço na grande mídia. O que dizer então de nomes em início de carreira. Como é atualmente ingressar no rock? E quais as principais dificuldades de se trabalhar com o gênero musical?
Atualmente com o surgimento do programa ‘Super Star’ da rede Globo, bandas "novas" como Scalene e Supercombo conseguiram obter um pouco mais de visibilidade, porém sem conseguir o mesmo patamar das duplas sertanejas. Já no underground, por incrível que pareça, o Rock está muito vivo. Nós da Extra Ative, por exemplo, fazemos uma média de duas apresentações por semana. Muitas bandas boas estão surgindo para a galera que frequenta os moto clubes e bares de rock. A maior dificuldade fica por conta do baixo retorno financeiro trazido pelas apresentações. Fica difícil fazer a manutenção de instrumentos, transporte e produção em estúdio musical. Muitas vezes os integrantes das bandas tiram dinheiro do próprio bolso para conseguir manter os conjuntos musicais vivos.
3- O problema de se lançar uma banda de rock no Brasil, em parte é derivado da predominância de um público saudosista que a todo momento se prende a comparar novos nomes aos oriundos dos anos 80, os mais exaltados costumam dizer que o rock brasileiro morreu nos anos 90, a partir daí nada de relevante surgiu. Em outra corrente estão os fãs exclusivamente de bandas internacionais, esses são ainda mais "radicais", tudo que é de origem tupiniquim tem uma qualidade inferior. Em meio a mentes pouco receptivas ao novo, está a batalha por um espaço da Extra Ative, qual a opinião da banda em relação ao público de rock do país?
Nós da Extra Ative também somos muito fãs das bandas brasileiras das décadas de 80 e 90. Elas são nosso grande referencial. Nas nossas apresentações sempre mesclamos o repertório autoral com músicas de sucesso do Rock brasileiro. A galera realmente possui um pouco de preconceito com as bandas mais atuais. Nem mesmo algumas de grande repercussão, como por exemplo Charlie Brown Jr estão livres dos comentários negativos. Já a galera que curte Rock internacional é ainda mais radical. Muitas vezes não poupam nem as grandes bandas brasileiras dos anos 80. Nossa estratégia de palco é a seguinte: intercalar nossas músicas com os sucessos do Rock para não cansar o público com uma enxurrada de músicas ainda desconhecidas, e aos poucos acostumar a galera com a nossa sonoridade.
4- São Paulo ainda mantém um bom cenário underground e duas rádios fortes destinadas exclusivamente ao Rock: a rádio Rock e a Kiss. Ano passado, a rádio Rock completou 30 anos no ar, a comemoração ocorreu da melhor forma possível, um festival de bandas de diferentes gerações em uma Arena Anhembi lotada, dentre eles, nomes consagrados no país, nascidos na década de 80: Paralamas do Sucesso, Titãs, Capital Inicial. Bandas que se popularizaram no fim do anos 90, início de 2000, tais como: Pitty, CPM 22, Raimundos, e alguns nomes da nova geração: Scalene, Supercombo. Pra vocês qual a importância do cenário underground atual, da sobrevivência de rádios desse gênero no Brasil, e qual o papel de São Paulo nesse contexto?
Muitas bandas importantes do Rock brasileiro vieram de outras partes do país, como Rio Grande do Sul ou Brasília, porém, os principais palcos sempre estiveram aqui em São Paulo. Essas rádios que você citou são muito importantes, pois apresentam uma variedade de estilos dentro do Rock, e levam mais pessoas ao interesse por esse tipo de música. O Rock sempre teve essa coisa do "faça você mesmo". Sendo assim, se as pessoas escutam essas rádios e se interessam pelo estilo musical, é muito provável que muitas bandas novas aparecerão, e isso fortalece muito a cena Rock aqui de SP. A rádio com certeza é a grande mídia de maior relevância para o Rock. Já as bandas atuais, dificilmente conseguem se apresentar em casas importantes de shows, porém, o underground encontra-se muito forte e mantém a cena Rock bem viva.
5- Um fator perceptível em relação à banda, talvez seja a de não se prender em um único estilo, alia o trabalho mais rebuscado e elaborado do Hard Rock, a urgência, contestação e expressão do Punk. Isso pode ser notado no próprio repertório, que percorre músicas da lendária Led Zeppelin, Guns ‘n Roses, representando a influência Hard, balanceados pela veia Punk de Bad Religion. Também estão presentes de referência nomes de peso do rock brasileiro: Legião Urbana, Capital Inicial, Engenheiros do Hawaii. Pra vocês é importante não se prender ao estigma de um único estilo, poder se expressar de diferentes formas, desse modo possibilitar mais liberdade e expressão musical à Extra Ative?
Para nós isso é muito importante. Somos uma banda de Rock, não só de Punk ou de Hard. Somos do universo Rock! Lutamos com todas as forças contra o preconceito interno que existe dentro do nosso estilo. Adoramos fazer coisas do tipo: tocar Bad Religion e na sequência Bon Jovi. É legal que às vezes você vê um cara de moicano curtindo "It´s My Life". Essa mistura que fazemos fica muito perceptível em nossos sons próprios. Sábado mesmo, em uma apresentação que fizemos no Escorpiões Moto Clube, um rapaz nos falou: "Caras! O som de vocês tem um andamento não muito pesado, mas com umas nuances de Hard Rock e Metal. Isso muito me agradou". Nossas referências musicais são diversas e é impossível não percebê-las em nossas composições. Temos todas as intenções de continuar com essa pegada por muito tempo.
6- Pra finalizar, quais são os planos da Extra Ative para 2016?
Pretendemos continuar com um grande número de apresentações, e principalmente gravar algumas de nossas músicas em estúdio. Queremos que mais pessoas saibam cantar nossas músicas. Precisamos ampliar o número de pessoas que nos acompanham. Além disso também queremos nos apresentar mais vezes fora de São Paulo. O Rock ainda tem bastante espaço em algumas cidades do interior e no litoral paulista.
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