Rinoceronte: casca grossa do Rock'n'Roll
Por Ben Ami Scopinho
Postado em 25 de março de 2012
Algumas coisas são certas sobre o Rinoceronte: é rock´n´roll pesado da melhor estirpe, cantado no bom e velho português e seu habitat natural é o palco. Na ativa desde 2007, o trio gaúcho tem no currículo o EP "Rinoceronte" (09) e o debut "Nasceu" (10), que possibilitaram que tocassem pelas regiões sul, sudeste, centro-oeste e nordeste, além de terem passado pelo Uruguai – e este escriba teve a oportunidade de vê-los ao vivo para comprovar que os caras destroem tudo... O Whiplash.Net conversou com o vocalista e guitarrista Paulo Noronha, que contou um pouco da história da banda e deu informações de seu próximo álbum. Confiram aí!
Whiplash.Net: Olá pessoal! O Rinoceronte pode ser considerado um novato na cena musical. Que tal começarmos com uma breve biografia da banda?
Paulo Noronha: A Rinoceronte vem trabalhando desde 2007, comigo, Paulo Noronha (guitarra e voz) e Luiz Henrique Dalla Costa, o ‘Alemão’ (bateria) na formação base, experimentando com vários baixistas e forjando uma sonoridade que foi sendo pensada à medida que íamos arranjando as músicas. Em 2008, dois episódios acabaram nos ‘mostrando’ a um público maior: o início de uma parceria com o Macondo Lugar (bar emblemático dos sócios Atílio Alencar e Jeferson Bernardo, que flertavam cada vez mais intensamente com o ‘Circuito Fora do Eixo’, inserindo Santa Maria na rede nacional e nos colocando no circuito dos festivais de música independente), e também nossa seleção entre 10 bandas do sul do país para o reality show MTV Procura com Cachorro Grande, onde obtivemos uma ótima performance.
Paulo: A exposição foi rápida e em 2009 tivemos a entrada do Vinicius Brum (baixo e voz) na banda. O elo se completou. Então com menos de uma semana de formação gravamos um EP em Porto Alegre, nos estúdios da Marquise 51, chamado "Rinoceronte" e tudo passou a fluir diferente. Negociamos a ótima capa do EP com o coletivo de design ‘Bicicleta Sem Freio’ de Goiânia e a partir disso teve início uma relação com uma galera roqueira de lá que se estende até hoje. Enquanto isso, via Abrafin/CFE, entrávamos em alguns dos maiores festivais do Brasil como Goiânia Noise, Calango (Cuiabá), Demo Sul (Londrina), Gig Rock (POA), Virada Cultural, enfim, não dá pra listar tudo aqui. Desde então fizemos duas tours pelas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, lançamos o primeiro disco "Nasceu" pela Monstro Discos, circulamos constantemente, participamos de vários festivais, firmamos grandes parceiros e ganhamos inúmeros fãs que realmente curtem a banda. Fizemos nossa primeira incursão no exterior com um grande show em Montevideo no Uruguai, lançamos um single na virada 2011 / 2012 e, por fim, no último carnaval fomos ao Psicodália, um grande momento do Rinoceronte. Agora estamos na pré produção do segundo disco e trabalhando no próximo clipe que deve estar em breve no ar. Ou seja, não vamos parar, estamos sedentos por dar continuidade a tudo isso.
Whiplash.Net: O álbum "Nasceu" mostra um trio que faz um um Heavy Rock bastante direto, mas que sabe dar o devido valor a cada um de seus instrumentos. O resultado é orgânico e funciona muito bem! Que elementos vocês acham cruciais para um disco bem feito?
Paulo: Bem, em primeiro lugar, na banda, sempre concordamos que uma pré produção bem feita é altamente importante pro resultado final. Sempre pensamos que chegar no estúdio sabendo o que quer é fundamental. Daí um bom técnico de estúdio, um bom técnico de gravação que saiba traduzir o que você quer sonoramente e agilidade na hora de fazer os registros completam a receita. Obvio que a expertise desses elementos todos é que farão a qualidade do disco ser maior ou menor. No caso de "Nasceu", tivemos a companhia do grande Gustavo Vazquez e de Luis Maldonalle em todo o processo. Isso facilitou muito. Os caras sabem muito, então foi só deixar rolar. No entanto há pra nós um ponto crucial. Ser verdadeiro. Ser honesto. Nosso disco quase não tem edição, não tem autotune e foi feito pra ficar o mais próximo do ao vivo possível. Funcionou. Alcançamos nosso objetivo com isso, também.
Whiplash.Net: Suas letras revelam uma positividade e auto-confiança bastante consideráveis. Há algum motivo especial para isso, ou elas simplesmente refletem a atual fase de vocês?
Paulo: Não vejo tanta positividade ou auto confiança nelas. Certa vez disseram que nossas letras eram de auto ajuda, hehe. Penso que refletem a nossa atual fase, nosso presente. Pro novo trabalho que estamos fazendo as letras já estão tomando um outro rumo, mas constantemente idealizamos canções e letras com as quais o grande público se identifique. Em "O Choque", a letra é resultado de um incêndio que rolou na casa onde ensaiávamos, em "Caminhos", (‘... fortes ventos, estão soprando, a nosso favor...’) são a realidade daquele momento, isso estava rolando mesmo, e está. Definitivamente refletem nossos momentos.
Whiplash.Net: Sendo uma banda do interior do Rio Grande do Sul, como surgiu o interesse em gravarem "Nasceu" no Estúdio Rocklab de Goiânia (GO)? É longe de casa...
Paulo: Bem, quando lançamos o EP em 2009, conhecemos através do Atílio Alencar, a rapaziada da ‘Bicicleta Sem Freio’ lá de Goiânia, que fez a capa numa parceria incrível. Dois dos designers também fazem parte da banda Black Drawing Chalks, da qual somos fãs. Rocklab, Monstro Discos, MQN, Fabrício Nobre, Goiânia Noise, Hellbenders, Bolshoi, Bananada, Metrópolis, República tudo isso e muito mais veio na esteira, fomos conhecendo um a um da melhor forma, pessoalmente.
Paulo: Em 2008 fomos ao Goiânia Noise e na área aberta do festival tinha um estúdio móvel do Rocklab montado lá. Gravamos ao vivo num esquema, ‘inscreve-entra-grava’ e foi sensacional. Trocamos os contatos na hora e em seguida começamos as conversas, os orçamentos, etc. Testemunhamos a escolha de ‘Artista Igual Pedreiro’ do Macaco Bong, como melhor disco de 2008, da música ‘My Favourite Way’ do Black Drawing Chalks como melhor música de 2009, ambos gravados no Rocklab e aprofundamos na coleção de trabalhos produzidos pelo estúdio.
Paulo: Em 2010 rolou de montar uma tour com o Fora do Eixo que passava pela Virada Cultural em São Paulo e terminava quase um mês depois em São José do Rio Preto. Aproveitamos a viagem e ficamos 15 dias gravando, mixando e masterizando direto. Gustavo Vazquez é um grande produtor, um grande músico e principalmente uma grande pessoa, ao lado de Luis Maldonalle formam uma grande dupla que nos deixou ‘em casa’ e soube como ninguém traduzir nossa busca, confirmando totalmente nossas expectativas em relação ao Rocklab.
Whiplash.Net: Por que a escolha de "Anda no Ar" para virar seu vídeo oficial? Como rolou as filmagens?
Paulo: Bem, primeiro que "Anda no Ar" foi uma de nossas primeiras composições, que depois de um tempo sofreu uma grande transformação resultando no que foi gravado e que a gente considera um som muito bom, com todos os elementos do que a gente queria fazer. Além disso, é a primeira faixa do nosso primeiro registro, o EP de 2009. Não bastasse isso, uma querida amiga nossa, a Ariane Nogueira fazia um TCC que abordava divulgação viral. Ela nos propôs fazer o clipe, juntou a equipe, pensamos juntos o conteúdo e gravamos. A certa altura o Denis Carrion colou junto com o grupo. Ele toca a Normal Pictures em Santa Maria e foi responsável pela edição. Daí foi só alegria. O Denis também foi à Montevideo conosco e agora está organizando material de vídeo pro nosso próximo clipe a ser lançado muito em breve.
Whiplash.Net: Algo que chama muito a atenção na trajetória do Rinoceronte é sua gana para estar sempre tocando, tanto que já visitaram muitos estados desse Brasilzão e até mesmo passaram por Montevideu (Uruguay). Como o público vem reagindo às apresentações?
Paulo: A gente tem a sorte de ser sempre muito bem recepcionado e o público vem num crescente incrível. Em nossa cidade temos tocado sempre pra casas cheias e as últimas experiências fora dela tem sido incríveis. Quase 3 mil pessoas em Montevideo, umas 2 mil no Fórum Social Temático, aproximadamente 4 mil no Psicodália, durante o carnaval, e agora no fim de semana que passou umas mil na Concha Acústica de Santa Maria, num parque ao ar livre domingo de tardinha. Sensacional é a resposta.
Whiplash.Net: O Rinoceronte está em uma parceria frutífera com o Circuito Fora do Eixo. Como funciona essa rede?
Paulo: A Rinoceronte já colheu muitos frutos através da parceria com o Fora do Eixo, sim, e já se doou muito ao FDE também, numa troca muito positiva e saudável sempre. Trabalhamos muito na divulgação e criação do circuito, principalmente na região sul. Até 2011 eu fazia parte do Macondo Coletivo aqui de Santa Maria, do qual saí por motivos de falta de tempo, mas com o qual continuo colaborando, assim como a Rinoceronte. O Fora do Eixo se agiganta a cada dia e a dedicação necessária se torna cada vez maior. É uma grande rede de agentes culturais em âmbito nacional e que pouco a pouco se estende ao exterior. Temos grandes amigos na rede em todo o Brasil.
Whiplash.Net: Considerando que o Rinoceronte tem como proposta as origens do rock pesado, mas cantando em português, fica a questão: o rock brasileiro tem uma identidade definida, ou isso não existe?
Paulo: Penso que acompanhando o tamanho do nosso país gigante, se dá o número incrível de variações em cima do rock, da música enfim. Considerando o rock pesado cantado em português já notamos que afunila, e bastante.
Paulo: Inevitavelmente, as referências maiores estão na gringa, principalmente na parte instrumental, na parte que torna o lance pesado mesmo, mas na parte das letras e vocais, como cantamos em português também e, tomando as origens do rock como base, é inevitável citar nomes como Mutantes, Casa das Máquinas, Peso, Patrulha do Espaço, Rita Lee & Tutti Frutti, Made in Brazil, O Som Nosso de Cada Dia, O Terço, Secos e Molhados e mesmo Raulzito, entre tantos outros. Realmente não é tarefa fácil costurar um instrumental mais vigoroso com uma letra em português, nossas palavras não favorecem como o inglês na hora de cantar rock. Então acho que nesse ponto temos uma identidade sim. Vejo pontos semelhantes em todos esses artistas que citei. Encontram sempre lindas maneiras de usar nosso idioma no rock sem ser piegas ou mentiroso.
Whiplash.Net: "Qualquer Lugar" é a faixa inédita e disponível para download que dá uma prévia para o novo disco. Considerando a força que o debut "Nasceu", o que se pode esperar de seu sucessor? Dá mais detalhes aí...!
Paulo: Bem, nosso plano é gravar de novo no Rocklab com o Gustavo, assim como foi com "Nasceu" em 2010 e com "Qualquer Lugar", que gravamos também durante uma tour em 2011 e que vem repercutindo de forma maravilhosa. Estamos agora trabalhando na produção do restante do repertório e já na pré produção de algumas das músicas que deverão entrar no disco. O som tá um pouco diferente, mais maduro, principalmente na parte das letras, e teremos uma variação um pouco maior nos timbres. Alguns temas trarão algo um pouco mais agitado, mais sacolejante, mais veia negra groove enquanto outros serão ainda mais pesados que os anteriores, com afinações mais baixas e esse tipo de coisa.
Paulo: Os vocais devem vir mais equilibrados, mais duas vozes mesmo, sem primeira e segunda, com as duas emparelhadas, mais fortes. Devemos também lançar o disco já com dois ou três clipes prontos, pra fazer o pacote e seguir a tendência mundial de colar o audiovisual no escopo do trampo. O disco será lançado pela Monstro Discos e o trabalho com o selo deve se intensificar. Todos sabem que é uma tarefa árdua fazer discos bons um atrás do outro mas a gente vai tentar, rsrs. Nome e capa ainda são incógnitas.
Whiplash.Net: Curiosidade final: é nítida a influência que a sonoridade setentista exerce sobre tantas bandas em pleno novo milênio. A que vocês atribuem este fato?
Paulo: Acho que a música é cíclica. Chegamos num ponto onde é quase impossível criar algo ‘novo’. Essa década de 70 foi marcada pelo nascimento e desenvolvimento de muitos e variadíssimos novos estilos, novos artistas, novas tendências. Há muito pouco tempo tivemos um revival dos 60’s (e ainda temos não?) com bandas ‘mod’ pipocando por tudo quanto é canto e servindo-se naturalmente do que Beatles, Stones, Animals, Who e cia criaram. Pode ser que agora estejamos tendo um revival dos 70’s? Não vejo tantas bandas no Brasil acompanhando esta tendência, mas concordo que os 70’s estão aí, permeando o planeta de novo.
Whiplash.Net: Beleza, pessoal! O Whiplash.Net agradece pela entrevista e deseja boa sorte ao Rinoceronte. Fiquem à vontade se quiserem acrescentar algo, ok?
A gente que agradece a força e o espaço. Abraços!
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