Fernando Noronha: entrevista com o bluesman
Por Maximiliano P.
Fonte: Its Only Rock n Roll
Postado em 01 de junho de 2010
Esta é uma matéria diferente e bastante especial. Afinal de contas, não é todo dia que se consegue entrevistar um dos maiores bluesmen do país. Digo isso com sinceras referências de respeito a Big Gilson, Celso Blues Boy e ao excepcional Flávio Guimarães, entre outros, merecidamente mitos do Blues nacional.
Conheci o trabalho de FERNANDO NORONHA e da BLACK SOUL (FNeBS) há 12 ou 13 anos. Algumas vezes, na reunião da galera da boemia, ouvíamos o excelente CD "Blues From Hell", e chegávamos à conclusão de que o som blueseiro dele era o que fazia a gente beber mais.
Tenho muita identificação com o rock`n blues que FNeBS tocam. Talvez seja o meu estilo preferido de som, é verdade, mas as minha referências positivas não se esgotam nisso. Meus elogios são baseados em vários fatores: a pegada típica de Stevie Ray Vaughan, as performances inacreditáveis do bem influenciado tecladista Luciano Leães, as incursões bem dosadas no rock sulista norte americano, no blues clássico e até mesmo no soul e no jazz... Essa mescla é o que enriquece o som deles e faz os caras terem um estilo praticamente único.
Apesar de ter rodado bastante e de ter tocando com lendas do blues e do rock`n roll, FERNANDO NORONHA é um cara bastante simples e acessível. Deu retorno imediato ao meu contato, respondeu as perguntas numa boa e me deixou bastante satisfeito pelas várias possibilidades que terei de vê-los em ação nos próximos meses.
Abaixo, então, segue o interessantíssimo bate papo que tivemos na semana passada.
Para mim e para muita gente você é o maior blueseiro nacional, um cara que incorpora o rock`n blues como poucos. Claro que esse tipo de reconhecimento, vindo de um cara normal que curte seu som, deve ser importante pra você... Agora, qual o impacto de receber um elogio de uma lenda viva do blues, como você recebeu de B.B. King há alguns anos?
Com certeza é importante. Agora, realmente o elogio do B.B.King foi foda. Me lembro que na hora estávamos atrás do palco quando ele falou e foi muito emocionante. Aquilo nos deu mais motivação ainda para nos dedicarmos cada vez mais.
Quem é o seu maior ídolo entre os muitos guitarristas que o influenciaram?
O maior para mim foi Hendrix. Mas Albert King, Stevie Ray Vaughan, T-Bone, Rory Galagher, Johnny Winter e Billy Gibbons são muito importantes.
Jimi Hendrix disse uma vez: "O blues é fácil de tocar, mas é difícil de sentir". Você concorda? Como vocês buscam equilibrar técnica e feeling?
Ele está certíssimo! O blues requer feeling. Isso a pessoa tem ou não tem. A técnica ajuda a aprofundar o sentimento, na medida em que enriquece o vocabulário. Por outro lado, o excesso de técnica pode matar o feeling.
Entre as influências dos componentes da BLACK SOUL estão nomes do rock, hard rock, blues e até mesmo do soul. De que forma isso é dosado na hora em que vocês desenvolvem novas músicas?
A liberdade de expressão vem sendo nossa diretriz nos últimos anos. No começo havia uma preocupação de se fazer um trabalho mais purista, mas hoje buscamos trazer algo de novo e encontrar nossa própria sonoridade.
Muitos o chamam de "Stevie Ray Vaughan dos Pampas", e ele certamente foi uma grande influência para você. De que maneira o trabalho e o estilo blues rock de Stevie conduziu o estilo da banda?
De muitas maneiras. Foi através dele que eu conheci os grandes nomes do Blues. Eu tinha 17 anos e queria saber quem eram os caras que ele escutava. Fora isso o que me alucinou nele foi o som de guitarra. Eu nunca tinha ouvido um som tão limpo e gordo na minha vida. Fiquei anos estudando cada frase dele, usava chapéu e bota. Era totalmente fissurado. Até que chegou um momento em que eu estava me transformando numa caricatura dele. Quando percebi isso, larguei o chapéu e fui tentar ser eu mesmo. Mas ele sempre permanecerá como um dos meus grandes heróis.
Como foram as experiências das tours de vocês pela Europa? Deve ter histórias suficientes para escrever alguns livros...
Realmente! Temos uma década de tours pela Europa. Tivemos momentos maravilhosos e também roubadas homéricas. Mas a estrada é assim mesmo, tudo pode acontecer.
Para mim é bem perceptível a mudança do som de vocês desde o início da carreira, partindo de uma influencia maior do blues para um som mais roqueiro, com toques de rock sulista norte americano. Isso é verdadeiro? Quais as bandas que fizeram sua cabeça para essa metamorfose no som de vocês?
É real! Sou um grande fã de bandas como Lynyrd Skynyrd, Allman Brothers, Wishbone Ash, Thin Lizzy, Bad Company, Free, Dire Strais, Steve Miller, BTO e Faces. Isso foi o que eu escutei dos 7 anos em diante e escuto até hoje.
Qual sua opinião sobre o blues britânico? De alguma forma ele influenciou sua carreira?
Gosto muito do Blues Britânico.O que seria do mundo sem Clapton, Page e Beck?
E o blues nacional? Quais são os grandes ícones na sua opinião?
Celso Blues Boy, André Cristóvam e Blues Etílicos abriram as portas e foram os pioneiros. Mas a nova geração vem com força. Igor Prado, Sun Walk e Os Blues Deville estão entre os mais talentosos.
Hoje, quem são os blueseiros que fazem a sua cabeça no cenário local e mundial?
Tenho escutado muito Eric Gales, irmão mais novo de Jimi King, Brian Setzer, Sony Landreth e Sun Walk, guitarrista de Ribeirão Preto.
Todos os membros da BLACK SOUL são ótimos músicos, mas o tecladista Luciano Leães é um verdadeiro monstro no palco. No último show de vocês que assisti, eu e alguns amigos ficamos abobados vendo o cara fazer mágica. O que mais se pode dizer sobre ele?
Monstro é um bom começo. O Luciano tem uma visão macro de música, por isso além de tocar cada vez melhor ele está explorando outros caminhos, como o de produtor musical. Nosso disco novo contou com a produção dele e o resultado ficou incrível.
O Blues já foi dividido e subdividido muitas vezes e de várias formas, conforme seu estilo e seus ícones. Como você vê o Blues atual e o Blues do futuro? Na mesma linha de raciocínio, o que podemos dizer do futuro do Blues?
Acho que o Blues não vai morrer tão cedo. Temos grandes talentos da nova geração no Brasil e ao redor do Mundo. É um tipo de música que toca o coração e alma das pessoas por isso é tão poderoso.
Um dos maiores momentos roqueiros que presenciei foi quando você e o notável Rafael Raposo fizeram um duelo irado em um festival de blues, no meio da galera. Você é um guitarrista renomado, mas Raposo é mais um daqueles anônimos geniais... Porque o mundo da música/show bizz dá tão pouco espaço para muitos que são tão bons?
Realmente existem muitos guitarristas magníficos que são pouco reconhecidos. O caminho autoral é uma das maneiras de se ganhar mais espaço e lutar por um lugar ao sol.
De que forma você vê a fusão do blues com alguns outros ritmos, como vários artistas clássicos e contemporâneos têm praticado de uma forma cada vez mais constante?
Acho muito válido desde que seja feito com bom gosto, afinal quase tudo já foi feito. O caminho natural para se criar algo novo é a mistura de estilos.
Quais os próximos passos de trabalho da banda?
Os shows de lançamento de nosso sétimo CD, "MEET YOURSELF". Começaremos por SP fazendo os SESC`s do interior. De lá vamos à Brasília para um festival de Blues e voltamos ao sul para fazer a capital no dia 11 de junho, no Teatro Túlio Piva. Depois seguimos lançando pelo interior de RS, julho em SC, setembro o Nordeste. Também estamos pra gravar um clipe novo e o DVD oficial.
Por fim, gostaria que você listasse: o seu melhor show, o melhor show que você já assistiu e com qual guitarrista você sonha dividir o palco.
Acho que nosso show mais marcante foi na Bélgica, no Antwerp Blues Festival, onde haviam 10 mil pessoas numa praça medieval e eu dividi o palco com Coco Montoya e Chris Duarte numa Jam inesquecível. O melhor show foi o do ZZ TOP em Nashville. E eu sonho dividir o palco com Johnny Winter e Billy Gibbons. É isso!! Valeu!!!!
http://www.fernandonoronha.com
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