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Pitty: Cantora fala de "Anacrônico" e influências punk

Por Rafael Carnovale
Postado em 29 de novembro de 2005

Quem duvidava que Pitty chegaria ao segundo CD, depois do mega-sucesso de "Admirável Chip Novo" quebrou a cara. A baiana e sua banda formada por Martin (guitarra), Joe (baixo) e Duda (bateria), não só lançou "Anacrônico" como se re-inventou, numa sonoridade mais pesada e com um contexto bem mais complexo do que seu antecessor. Uma ducha de água fria naqueles que só pensavam em melodias fáceis e pop-rock de televisão. Aproveitando uma das folgas da turnê, e lançando a versão em DUALDISC de seu novo CD, com um interessante documentário e vídeos (o segundo DUALDISC lançado no mercado brasileiro, depois do DD da banda Matanza), conversamos via telefone com a cantora, que aproveitou para falar de presente, passado e futuro.

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Whiplash! – "Admirável Chip Novo" vendeu cerca de 250 mil cópias e agora Pitty não é apenas uma baiana transitando no meio underground. Inclusive, artistas como você e o Marcelo D2 foram acusados por muitos de terem se vendido ao mainstream. Como você sente esse momento com o novo CD?

Pitty – Na verdade apenas quisemos fazer algo de que gostássemos. Uma obra da qual pudéssemos nos orgulhar. E tivemos todas as condições para fazer exatamente o que queríamos, traduzindo totalmente nossos desejos enquanto banda. Este CD foi a vontade de 4 pessoas, e é o melhor prêmio que poderíamos ganhar.

Whiplash! - Algumas músicas já vinham sendo apresentadas nos shows da turnê anterior, como "Brinquedo Torto", que pude assistir no show no Canecão (RJ). Você experimentou mais músicas? O quanto acha que essa experiência pode influenciar na escolha de um novo repertório?

Pitty – Experimentamos algumas músicas novas durante os shows. Afinal, depois de dois anos excursionando, queríamos poder fazer algo novo, dar um atrativo, um estímulo diferente para os shows. Conseguimos uma ótima vibração experimentando esse material, e foi muito bom.

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Whiplash! - "Saideira" já tem início curioso com o "Ei, não vá ainda embora...". Seria uma espécie de introdução para o novo CD, um novo copo, como fala a música?

Pitty – É. Exatamente. A idéia neste CD é que a ordem das músicas conta uma história, bacana de ouvir e ler através do encarte. "Saideira" é uma espécie de convite para que a pessoa sente e passe a acompanhar o desenrolar dos fatos.

Whiplash! - "Anacrônico" fala sobre transformações nos seres humanos. Haveria algum caráter auto-biográfico na letra? Seria uma espécie de desabafo?

Pitty – Sim. Era essa a idéia. Só que esta música em particular é bem antiga. Ela foi escrita quando eu ainda estava no Inkhoma. Tem sim um lado de biografia, falando da evolução dos seres humanos, de como a vida e tudo que experimentamos afeta nossa evolução geral, mudando nossos valores e prioridades.

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Whiplash! - Já em "De você" há um enfoque em problemas que envolvem desde a segurança em nosso país até grandes questões mundiais. Qual é o muro que não vai te guardar quando o caos chegar?

Pitty – Eu quis falar sobre o fato das pessoas se protegerem tanto que acabam ficando presas em sua insegurança, seja num vidro de carro, num muro ou numa corda de bloco no carnaval. É um conceito falso de liberdade, que nos impede de andar na rua, sair para passear, e acaba nos deixando presos.

Whiplash! - "AAHHH...!" é um hardcore simples com pitadas punk e que remete a trabalhos de bandas como o Ramones. Você ainda escuta hardcore? Que bandas te influenciam deste estilo?

Pitty – CARALHO! É claro que o Ramones me influencia. Eu nunca deixei de escutar hard-core. Desde que ouvi Ramones, Bad Brains e Dead Kennedys eu pirei. Essas bandas ajudaram a formar meu estilo musical, o que eu queria fazer, o que eu gostaria de escrever. São definitivamente influências.

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Whiplash! - Não poderia deixar de mencionar o fato de você ter gravado "Ignorin´u" e o lado mais "dark" que a mesma apresenta. Como isso se originou?

Pitty – "Dark"? (Risos). É... concordo com essa idéia. Isso surgiu devido ao clima da música, que puxa mais para o jazz, para o blues, e gera uma melancolia, com harmonias diferentes e intervalos idem. Ficou bem legal. E me diverti gravando-a.

Whiplash! - Podemos considerar que "No Escuro" traz um contexto romântico, já que fala de maneira implícita sobre a intimidade das pessoas a quatro paredes?

Pitty – Pode ser... é um enfoque interessante para a faixa. Mas eu pensei mais na conforto da ausência da visão, no julgamento que fazemos sem precisar ver, apenas pelos outros sentidos. Existe muito conforto quando não precisamos ser vistos para ser analisados. Mas o que você falou é verdade, pois é bem legal transar no escuro (risos) e muita gente gosta.

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Whiplash! - Considero "Anacrônico" como um CD auto-biográfico, e que seria um repasse de toda a sua carreira até o primeiro CD. Você concorda com isso? Seria a faixa "Guerreiros São Guerreiros" um prenúncio do que pode acontecer no futuro com Pitty e banda?

Pitty – Você pescou a parada. É por aí mesmo. Mas nada foi pré-estabelecido. Não entramos no estúdio pensando nisso. Pensamos em montar uma história. Mas essa não chega a concluir a mesma. É mais um estímulo para que continuemos sendo fortes, que não deixemos nos levar pelas coisas que nos puxam para trás. A história mesmo acaba com a pergunta que eu faço na última canção... concluindo o pensamento.

Whiplash! - A banda perdeu seu guitarrista durante as gravações do novo CD. Como foi a adaptação de Martin ao grupo e como ele contribuiu no processo de composição?

Pitty – Martin já era um amigo das antigas, um "brother". Vivia em nossa casa, logo tivemos uma transição tranqüila. Fiquei surpresa e feliz ao ver que ele iria se juntar a nós, porque além de tocar bem ele soma muito a banda; contribui com idéias bem legais e é um puta arranjador. Ele trabalha para a banda, e nós trabalhamos para a música, sem conflitos de ego ou coisas do tipo.

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Whiplash! - A banda já fez vários shows da nova turnê. Como tem sido a escolha do repertório? Você acha que a geração teen que aclamou "Admirável Chip Novo" poderá assimilar a maior complexidade e o peso de "Anacrônico"?

Pitty – Não sei dizer. Na verdade nunca pensei nisso. Já me perguntaram isso várias vezes, e já me peguei pensando: "Será que ninguém entendeu porra nenhuma?" (risos). Na verdade não posso me preocupar com isso, o objetivo é e sempre será fazer uma obra que seja OK de escutar quando a finalizarmos. E para isso passamos 2 anos juntos, tocando, vivendo o dia-a-dia das turnês, o que nos deixou bem livres no estúdio, sem medo de ousar.

Whiplash! - O DVD "Admirável Vídeo Novo" continha um bom documentário sobre os shows, e outro excelente mostruário das gravações de "covers", com a presença de vários convidados. Mas não só eu como muitos fãs sentiram falta de um show completo. Há chances de isso ocorrer nesta turnê?

Pitty – Quem sabe... mas não falamos sobre isso ainda. Desde o início a idéia era fazer um DVD diferente. Logo que se fala em DVD, pensa-se num show completo, com todas as músicas. Mas quisemos fazer algo diferente, tipo uma câmera na mão, com uma estética bem particular. Há trechos de shows, mas não há um show completo. Era uma idéia nova, que alguns não entendem que pode ser bem melhor.

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Whiplash! - Como se deu a idéia de lançar "Anacrônico" no formato DUALDISC?

Pitty – Na verdade sempre que você entra em estúdio acaba registrando as sessões, seja para um "making of" para a imprensa ou para guardar esse momento. Só que a coisa foi ficando tão grande e intensa que virou um mega-documentário, cheio de detalhes, com vida própria. Aí surgiu a possibilidade de fazer essa edição especial, como um presente de fim de ano para os fãs, no qual daríamos a eles acesso as sessões de estúdio, como se eles estivessem lá com a gente. Tanto que você pode ver que não olhamos para o interlocutor nem para a câmera, para dar a estética de que a pessoa está lá participando.

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Whiplash! - O documentário "Sessões Anacrônicas" é bem interessante. Mas um fato chama a atenção: Você e o produtor Rafael Ramos (o Jack Endino brazuca) discutem constantemente (algumas vezes nota-se que são discussões que acabam em risos). Como foi o ambiente em estúdio?

Pitty – Foi bom. Pode ter certeza que o máximo de baixaria que rolou é o que saiu no DVD (risos). Isso surgiu porque nós e o Rafa somos grandes amigos, gostamos muito uns dos outros e temos um respeito mútuo muito grande. A opinião dele é muito relevante para nós, e ele sabe muito sobre o assunto. Na verdade somos uma democracia. É bom que rolem pensamentos diferentes, isso é saudável. Nós sempre decidimos tudo em conjunto. Pode rolar um conflito, mas é coisa normal.

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Whiplash! - O clipe de "Anacrônico" é muito interessante. Há planos para novos vídeos?

Pitty – Na verdade acabamos de fazer um vídeo para "Memórias", que estréia dia 21. Foi feito pela mesma galera que dirigiu o documentário do DVD, mas desta vez quisemos fazer um lance tipo "filme B" de terror. Tipo uns amigos entrando numa casa abandonada, com o jogo do copo (conhecido também como a Tábua de Ouija) e coisas do gênero.

Whiplash! - A galeria de fotos do DUALDISC é bem feita, e a música "Seu Mestre Mandou" muito boa. Porque ela não entrou no CD?

Pitty – Você fala no CD normal? Não cogitamos coloca-la porque tínhamos muitas músicas novas, e ela é bem antiga, costumávamos tocá-la em nossos primeiros shows. Mas como não queríamos escondê-la do público, colocamos no DVD. Não a abandonamos (risos).

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Whiplash! - Você pensa em lançar seu primeiro CD como DUALDISC, contendo o DVD "Admirável Vídeo Novo"? Como analisa este novo formato?

Pitty – BOA IDÉIA! Não tinha pensado nisso. Quem sabe quando tivermos 30 anos de carreira, se nenhum de nós tiver morrido devido aos excessos da vida de rockeiro (risos). Quem sabe...

Whiplash! - Muito obrigado pela entrevista. Este espaço é todo seu...

Pitty – Eu que agradeço pelo espaço que vocês sempre nos dão e que dão para as bandas alternativas. Desejo longa vida ao site e nos vemos nos shows.

* (Agradecimentos a Kelyta Lira e Luana – Deckdisc, e Luciana, assessoria pessoal da cantora).

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Sobre Rafael Carnovale

Nascido em 1974, atualmente funcionário público do estado do Rio de Janeiro, fã de punk rock, heavy metal, hard-core e da boa música. Curte tantas bandas e estilos que ainda não consegue fazer um TOP10 que dure mais de 10 minutos. Na Whiplash desde 2001, segue escrevendo alguns desatinos que alguns lêem, outros não... mas fazer o que?
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