Ultramen: Entrevista exclusiva com a banda alternativa gaúcha
Postado em 19 de maio de 2003
Por Rodrigo Simas
Encontrei o pessoal da Ultramen em um hotel na Glória, Rio de Janeiro, no dia 26 de abril, poucas horas antes de uma apresentação da banda na cidade maravilhosa. Além de terem em mãos um novíssimo CD entitulado "O Íncrivel Caso Da Música Que Encolheu e Outras Histórias" e carregar na bagagem mais dois CDs (entre eles o maravilhoso "Olelê"), a banda tem planos para o futuro e estão no caminho certo para o reconhecimento em todo Brasil. A conversa rolou bem animada com três integrantes da banda (Tonho Crocco – Vocais, Pedro – Baixo, Malásia – Percussão) e vale ressaltar a atenção, a humildade e a camaradagem dessa "gauchada nervosa" ao longo da entrevista. Se você que está lendo a entrevista não conhece a Ultramen é só correr pra loja de CDs mais próxima de sua casa e comprar "O Íncrivel Caso", você não vai se arrepender!!! Com vocês, os Ultramanos...
Whiplash - A banda agora conta com 8 integrantes. Como é a vida em turnê, como vocês levam isso de cidade para cidade? Vocês se dão bem?
Tonho / Ah, rola de tudo, rola momentos de briga, de paz, concentração pra fazer um show bom, acho que assim, todo mundo é diferente, mas o objetivo é o mesmo. Normal como qualquer banda. Agora eu e o Pedro viemos sozinhos, ficamos mais de 30 dias em São Paulo, viemos pra tentar fazer um trabalho de divulgação... a banda sabe dividir as tarefas.
Pedro / Tem até o lance de... com oito integrantes, são duas percussões, teclado e DJ... isso encarece um pouco o show e dificulta a produção. Isso é uma das dificuldades de se trabalhar com o Ultramen, mas compensa, a gente vai aprendendo a trabalhar com isso, vai exigindo um certo profissionalismo da gente, e na hora de tocar com todo mundo junto o som compensa.
Whiplash - Houve um certo hiato entre o lançamento do "Olelê" e do "O Íncrivel Caso" , mas eu sei que vocês não ficaram esse tempo parados. Quais foram as coisas que rolaram entre o lançamento desses dois discos? Vocês lançaram umas edições em vinil, não é?
Pedro / Cara, esse hiato que você falou não existe. Levar uns dois anos pra gente é o necessário para compor e preparar um CD. Engraçado que as pessoas aqui do Rio e São Paulo tem essa idéia de achar que a gente sumiu. Na verdade a gente tocou muito no Rio Grande do Sul, principalmente com o "Olelê", que foi o disco que colocou a gente dentro do circuito de shows e de rádio... na verdade a gente já tinha entrado com o primeiro disco, mas com o "Olelê" ficou mais forte, a gente se tornou uma banda bem mais conhecida. É uma pena que as pessoas nem saibam que o Rio Grande do Sul tem uma cena forte, com um público interessado, com muito trabalho pra fazer lá. Inclusive com um público interessado não só na cena de lá, mas na música do país todo.
Whiplash - As bandas do sul ainda tem aquele negócio de só fazer sucesso no sul... e é estranho porque é bem segmentado, as bandas do Rio Grande do Sul, as bandas de Santa Catarina, o Dazaranha mesmo lá em SC... como o Ultramen fica nisso, já que desde o disco "Olelê" vocês tem tentado entrar no mercado nacional?
Malásia / Desde 94... desde a nossa primeira demo nós estamos tentando...na verdade a gente sempre consegue fazer alguns shows aqui, o problema é manter uma continuidade.
Whiplash - Mas vocês estão sentindo que está melhorando esse mercado, ou ainda é aquela coisa de banda do Rio Grande do Sul e acaba ficando fechado?
Tonho / A culpa não é nossa de ser banda do Rio Grande do Sul... ou baiana... o lance também é ter um pouco de sorte, de alguém comprar a briga por ti, uma rádio, sei lá, como tem banda que cresceu pela MTV, como tem banda que cresceu tocando no circuito do SESC.... mas tem uma coisa também de ter oportunidade de veicular o som na rádio, ter o seu clipe, ter aceitação do público, não adianta enganar as pessoas... sei lá... o principal também é não ficar com esse vácuo que você falou, tipo... não ficar só nas suas capitais... eu vejo as bandas de Brasília, as bandas de Minas que emplacaram... é porque elas começaram... não digo morar no Rio ou em São Paulo, mas elas não deixaram essa lacuna, não deixaram de vir pra cá sempre. Também tem outra coisa, a gente mudou de gravadora né...antes era a Rock It, que era do Rio de Janeiro, então a gente tava bem mais presente por aqui, agora é a Sum Records, que é uma gravadora de São Paulo... então é isso, desde 94 + ou – a gente tenta, mesmo com as fitas demos... até foi por causa delas que a gente tocou no Super Demo, no Arpoador (RJ) em 95... desde aí a gente veio todos os anos pra cá... você tinha falado antes dos discos... pois é, a gente fez essas outras coisas, fez até um CD ao vivo pra Rádio Atlântida, metade ao vivo, metade ao vivo em estúdio, foi bacana... entre esses dois discos a gente também lançou dois discos em vinil. Tem o Dj Anderson (Dj da banda), que tem o selo dele, o Nego Preto Produções... é um material de trabalho pra ele e pros outros DJs... o "Olelê" ... a gente fez um EP dele, com 6 músicas, então ficou "Olelê 6 Tiros" e o outro é o "Terrorismo Sonoro", que é: duas capelas, efeitos das nossas músicas, e coisas dos outros, roubadas mesmo...
Whiplash - E quem quer comprar isso?
Tonho / Pode tentar entrar em contato nos shows mesmo, o "Terrorismo Sonoro" a gente fez uma série bem limitada, entre 50 e 100 cópias, era mais pro Dj Anderson e para ele distribuir para os DJs, mais como material de trabalho mesmo... então foi um disco específico pra DJs, e não foi muito comercializado. Na galeria do rock em São Paulo até chegaram algumas cópias. Aqui no Rio nenhum lugar vende. A gente vende o vinil do "Olêle" nos shows, na turnê, mas pela página também, quem quiser mandar um e-mail dá pra mandar por correio. Na galeria do rock também tem, nas lojas lá de baixo.
Whiplash - E o clipe da "Máquina do Tempo", como rolou a produção? A gravadora está dando um apoio maior pra banda? Eu achei o clipe o mais produzido, o mais "pensado" da banda, vocês concordam?
Tonho / Não sei cara, eu acho que é o mais barato que a gente fez...
Pedro / O legal do clipe é que a equipe que produziu é um pessoal que tá acostumado a fazer clipe de música eletrônica, que é o tipo de clipe que a gente mais gosta, eu considero os clipes mais inovadores, com as idéias mais criativas... e esse clipe tem bastante disso, uma idéia simples, acho que a direção de câmera é bem criativa, o tipo de tomada... gravamos em São Paulo...
Tonho / Naquele viaduto que eles chamam de minhocão, de noite fecha, e nos domingos fecha também pra lazer, as pessoas ficam ali, fazendo exercícios estranhos, e eles captaram, eles são muito de pegar as coisas que acontecem...
Pedro / Por exemplo, da nossa participação... eles queriam que a gente jogasse futebol no clipe, aí a gente falou em jogar outra coisa... taco é mais original e tem mais a ver com a gente, acho que ninguém da banda joga futebol legal... quase ninguém...quero ver como vai ser o Rock Gol da MTV agora...
Whiplash - Ahhh, então vocês vão participar?
Tonho / Então... agora eles dão os nomes pros times... vai se chamar Cruz Torta, nós, o Catedral e o Peninha (do Barão Vermelho). O lance do clipe, eu achei o mais barato... porque todos outros clipes foram gravados com película, o "Dívida" , o "Bico de Luz", o "Vou a mais de 100"... que na verdade foi a gravação mais cara.
Whiplash - Vocês vão fazer o clipe de "De Canto e Sossegado" também???
Tonho / Já está pronto, gravamos em Porto Alegre com o mesmo diretor do "Dívida".
Whiplash - Algumas vezes já eu vi o pessoal do Los Hermanos dizendo que eles não se auto-rotulam porque isso implicaria numa "prisão" para o estilo deles. Eu considero o som de vocês completamente sem rótulo também... vocês tem essa preocupação de não seguir nada, ou é uma coisa que vai surgindo no estúdio naturalmente?
Malásia / Acho que a idéia é seguir tudo... todo mundo gosta de alguma coisa diferente...tudo é sua referência... e isso acaba influenciando e refletindo no nosso som... a gente também não gosta de ser rotulado, de ser uma banda de reggae, uma banda de rock, uma banda de pop...
Pedro / Não é nem que a gente não goste, é impossível rotular uma banda assim... como vai rotular uma banda que toca tantos estilos? Tenho consciência que é uma particularidade da banda, que é difícil rotular... mas é natural, cara... é um reflexo do que a gente ouve, e a gente ouve tudo.
Whiplash - Desde o lançamento do Olelê vocês tiveram uma divulgação nacional, e dentro da mídia/crítica especializada vocês foram vistos como uma nova promessa do rock brasileiro. Vocês sentem alguma pressão na hora de lançar um próximo CD? Com o "O Incrível Caso da Música..." vocês pensaram que teriam que lançar uma coisa que surpreendesse tanto quanto o "Olelê"?
Tonho / A gente deixou fluir, a gente trabalhou do mesmo jeito do disco anterior... claro... nada é igual...mas foi um trabalho muito sincero de composição... nada assim... "vamos compor uma coisa que seja melhor que o "Olelê""... duas músicas acabaram ficando prontas quando a gente começou a gravar ... "Coisa Boa", que não tinha letra, e o Luís Vagner fez a letra, e a outra foi "Grama Verde" que é uma versão do "Pau Brasil". A gente acabou elas assim... gravando... foram coisas espontâneas... o resto dessas músicas já estavam prontas... ou seja... se tem uma cobrança é íntima., tipo, eu queria que fosse tão bom ou melhor que Olelê, não dá pra associar isso...
Pedro / ...mas é engraçado...acho que todo mundo sente um pouco isso... você disse na mídia nacional... eu senti isso mais lá no sul, no público mesmo, 10 vezes mais, 100 vezes mais do que no resto do Brasil. Lá foi forte. Tinha uma expectativa muito grande do público... lembro que a gente tava gravando... não tinha uma pessoa que eu encontrava na rua que não perguntava como seria o novo CD...
Whiplash - A faixa "Fantasmas" seria um tributo ao Fantomas do Mike Patton?
Tonho / Também. A gente queria fazer um som desse tipo... daquele estilo... a gente ouve... sei lá, não tem nada de novo no rock faz tempo... tá, tem o Nu-Metal, mas na minha opinião ainda é um negócio meio rústico... tá, mas voltando, a "Fantasmas" é pro Fantomas e pro Melvins....
Whiplash - Como as pessoas reagem ouvindo o CD, já que no meio dele entram umas "porradas" como a própria "Fantasmas", a "Confessionário" e a "3"? Conheço gente que chega nessas música e pula... e eu acho bom pra caramba...
Malásia / Alguns amigos meus fazem isso... tipo, a parte demoníaca eu não curto (risos)... mas gostam da banda...
Pedro / Mas cada um tem seu jeito de curtir, tinha uma amiga que a música que ela mais gostava era "Confessionário" e eu achei que ela gostava de metal, mas nem era... por isso é legal Ultramen, tem várias maneiras de gostar da banda... e de "desgostar" também!! (risos)
Whiplash - No meu ponto de vista, a cada disco que passa eu vejo mais influência de Hip-Hop e Rap nos discos do Ultramen... isso é uma coisa que tende a crescer? Vocês acham que esse estilo está se sobressaindo no estilo do Ultramen? Ou é um estilo que tá dentro ali...?
Tonho / Acho que é isso, é um estilo que tá dentro ali, mas tem vezes que ele surge, acho que ele está tão junto quanto os outros elementos.
Pedro / Acho que talvez no começo da banda tivesse ainda mais rap que agora... no começo da banda tinha bem menos melodia...
Whiplash - De onde veio o nome "O Íncrivel Caso da Música que Encolheu e Outras Histórias"?
Tonho / Foi uma idéia do Pedro, num dia que ele tava três dias sem dormir, louco de café, e sei lá, tinha um bando de explicação... mas depois todo mundo tinha alguma explicação e esse ficou sendo o barato... cada um ter sua interpretação... tem também o lance das músicas realmente encolherem, compondo ou gravando elas.
Pedro / Na verdade quando eu inventei esse nome veio uma história na minha cabeça... já contei pro Tonho, é que o guitarrista da banda gosta muito de comer pizza e não tem relógio em casa, e tem uma música lá da Ultramen que ele sabe que a música dura exatamente o tempo da pizza ficar pronta. Ele põe no forno, põe a música lá e quando acaba a música a pizza tá pronta. Um dia por sorte, quando ele foi começar a botar no forno a pizza , começou a tocar a música na rádio. Acabou a música ele tirou a pizza e ela ainda tava crua. E ele pensou que o forno tava estragado... chamou alguém pra consertar e o cara disse que o forno não tinha nenhum problema... ele explicou a história e tal... e o cara perguntou se ele não sabia que no rádio os caras "encurtam" as músicas pra caber mais músicas na programação... (risos) é o "incrível caso da música que encolheu"!
Whiplash - Como é feita a seleção de músicas para o set list da banda? É uma coisa que vai mudando de noite pra noite? Tem banda que escolhe na hora do show...
Pedro / Atualmente a gente tem umas 15, 16 ou 17 músicas que tem entrado no show, mas isso tem mudado um pouco... as vezes a gente tem vontade de tocar uma, não tocar outra... a gente tem tido um pouco de problema com isso. Com o "Olelê" a gente demorou uns 6 meses pra "achar" o set list ideal, e depois que a gente achou, manteve ele até o final. E agora já tá um pouco pior, são três discos, sempre tem música que um quer tocar... as vezes dá umas brigas, mas na boa...
Whiplash - Vocês tem alguma banda que esteja influenciando vocês hoje em dia?
Pedro / Acho que a banda brasileira que tá todo mundo mais ouvindo é o Nação Zumbi, todo mundo se amarra.
Malásia / A gente ouve muita banda de lá do Sul...
Whiplash - Mandem um recado pra galera que ta lendo vocês na Whiplash!
Tonho / Bom rapaziada, leitores, continuem ouvindo heavy metal, heavy metal é legal... mas um dia que vocês estiverem ouvindo um sambinha, não fiquem com vergonha de gostar de outras coisas. Esse é o meu recado. (risos!!!)
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