Corey Glover - Entrevista exclusiva com o ex-Living Colour.
Postado em 27 de agosto de 2000
Aos 22 anos de idade, Corey Glover, ao lado de seus amigos Vernon Reid, Muzz Skillings e William Calhoun, começava a escrever mais uma página na história do rock, com o lançamento do primeiro álbum do Living Colour, chamado "Vivid". Na época (anos 80 - 1988), o mundo era embalado por bandas de hard rock que seguiam sempre a mesma idéia, com cabelos e vestimentas extravagantes e que tinham quase em sua totalidade, integrantes brancos. O sucesso de uma banda de negros, que misturava rock com hip hop e funk, não era esperado, mas acabou se consumando com o Living Colour. Depois de 7 anos do lançamento do primeiro álbum (11 anos tocando juntos), eles decidiram parar com as atividades do Living Colour, deixando para toda uma geração de negros, brancos, orientais, etc, uma nova idéia de como o rock poderia ser feito e tocado e uma porta aberta para outras raças no rock e heavy metal.
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Hoje, chegando aos 36 anos de idade, o vocalista Corey Glover volta de vez à cena do rock, entrando de cara em um novo projeto, chamado Vice. Em entrevista exclusiva ao Whiplash!, ele fala sobre o novo trabalho, os tempos de Living Colour e outros assuntos diversos.
Por Thiago Corrêa
Tradução: Thiago Corrêa
Whiplash! / Você está trabalhando com uma nova banda, chamada Vice. Como foi, depois de tanto tempo e de trabalhos solos, voltar a trabalhar com uma banda em que você divide suas funções e idéias e não apenas tem músicos a seu lado para te acompanhar?
Corey Glover / Bem, para falar a verdade, eu só tive um álbum solo. Quando eu entrei em turnê para promover meu álbum solo, "Hymns", eu tinha esses músicos comigo e Michael [Ciro] produzimos duas músicas no trabalho solo. O novo álbum, no qual eu estava trabalhando durante a turnê estava sendo escrito e produzido por Michael e eu e o resto da banda tocava nele, então eu percebi que estava havendo algo mais em conjunto, com maior colaboração dos outros membros. No meu álbum solo, eu usei diferentes produtores e músicos e com o Vice é diferente. É mais uma coisa de banda mesmo.
Whiplash! / O guitarrista Michael Ciro é a principal figura do Vice, ao seu lado. Como você o conheceu e como surgiu a idéia de trabalharem juntos?
Corey Glover / O Michael era um músico muito conhecido em Nova Iorque. Ele tinha uma banda chamada Sophia's Toy e nosso trabalho era administrado pela mesmo pessoa (Guy Routte) e então, nós começamos a fazer shows juntos. Quando a banda dele se separou, Guy sugeriou que nós tocassemos juntos e foi isso que fizemos.
Whiplash! / Você e Michael escrevem muitas músicas em parceria. Como é seu relacionamento com ele e como vocês trabalham as composições juntos?
Corey Glover / Michael e eu somos grandes amigos. Ele normalmente vem com alguma idéia musical e aí eu ajudo a finalizá-la. Algumas vezes, ele me ajuda com melodias ou eu o procuro com uma idéia e ele me ajuda a fazê-la funcionar, ter lógica. Ele é um compositor e músico muito talentoso. Nós discutimos de vez em quando, mas é sempre no interesse de achar o melhor para a música.
Whiplash! / Booker King (baixista), Nathaniel Townsley (bateria) e o próprio Michael Ciro já haviam tocado com você. Porém, eles te acompanharam em álbuns de sua carreira solo. Quando e por que você decidiu formar uma nova banda com eles? Por que não seguiu em frente apenas com seu projeto solo?
Corey Glover / Esses são os caras com quem eu quero tocar e compor ao lado. Provavelmente, eu ainda faço coisas solo quando quero fazer música que não está dentro das características da banda. Essa é uma banda de rock e eu, muitas vezes, tenho interesse, em fazer algo mais 'soul' com outras pessoas. Porém, esses são os caras com quem eu gostaria de trabalhar, quando a idéia vem para a banda de rock. E o certo é nós compartilharmos os momentos bons e ruins como um time, considerando que nós compomos desta forma.
Whiplash! / Em "Hymns", Albert Menendez estava no teclado, ao lado dos outros músicos já citados, que hoje fazem parte do Vice. Por que não houve uma continuação no trabalho com Albert?
Corey Glover / Albert toca conosco. Ele está no novo álbum do Vice (não o ao vivo). Mas Albert não quer se envolver e estar 'preso' a uma banda. Ele sempre trabalhará e provavelmente, fará também turnês conosco.
Whiplash! / Como se deu a integração do novo tecladista, Gene Williams, à banda? Como você o conheceu e qual a sua opinião sobre seu trabalho?
Corey Glover / Gene não está na banda. Ele apenas tocou em alguns shows com o Vice. Eu gosto muito dele. Ele é um maravilhoso tecladista e é muito conhecido em Nova Iorque. Ele faz parte do Black Rock Coalition, do qual também sou membro. Nós nos conhecemos há anos. Ele tocou conosco porque quando gravamos o CD ao vivo, Albert não estava disponível para participar do trabalho.
Whiplash! / Como você definiria o som do Vice para aqueles que ainda não conhecem o grupo?
Corey Glover – Rock, pesado, boas músicas, grande musicalidade e letras sinceras.
Whiplash! / Faça uma comparação entre seu trabalho no Vice e em seu álbum solo, analisando, desde o estilo musical tocado até a forma de trabalho.
Corey Glover / Meu álbum solo era mais eclético. Você tem mais coisas, como cordas, diferentes tonalidades e muitos backing vocals. Estava mais ligado aos vocais do que ao funcionamento da banda em si. No Vice, é mais centralizado na banda. Fazendo a bateria, o baixo e a guitarra tão importantes quanto os vocais. É como um time de basquete jogando junto para ganhar um campeonato. Meu CD solo era como num jogo de tênis, e eu seria o jogador e tomava todas as decisões por mim mesmo. Com ajudas aqui ou ali de algumas ‘feras’, mas no final, tudo caia mesmo em meus ombros. O Vice é bem mais complicado que meu trabalho solo. É algo mais próximo do Living Colour, mas definitivamente, não é a mesma coisa. No meu álbum solo eu fazia tudo o que queria. Já este álbum do Vice é mais centralizado no rock que faço.
Whiplash! / Em 1997, você lançou um álbum ao vivo. Agora, em 2000, você lança mais um CD ao vivo, com o Vice. Você acredita que em álbuns ao vivo é mais fácil passar o feeling e a capacidade dos músicos para os fãs? Qual a razão para essa sua adoração por gravações ao vivo?
Corey Glover / Todo gravação é um registro daquele momento ao vivo. Eu acredito que tudo que faço é colocar para fora a vontade de tocar músicas ao vivo. Eu acho que é nisso que sou melhor. E acho, também, que é onde minha banda se destaca mais. Leva os fãs a entrarem em um momento onde eles gostam de ver que outras pessoas também curtem a mesma música. Ajuda aos fãs a experimentarem a música da maneira como ela deveria ser experimentada. Quando eu era pequeno, as gravações ao vivo eram as melhores coisas para mim.
Whiplash! / "Live At Wetlands" conta com a participação de Will Calhoun em "Cult of Personality", a única música do Living Colour presente. Como foi a reação das pessoas ao verem você e Will juntos novamente? E como você se sentiu gravando com ele depois de alguns anos?
Corey Glover / Will estava no show apenas para nos assistir, porém nós o convencemos a tocar no bis conosco. Ele é muito educado e perguntou ao Nathaniel [baterista do Vice] se havia algum problema. Logicamente, Nathaniel disse que não havia problema, pois também é uma pessoa muito boa. O povo foi a loucura. Eu acho que eles amaram aquilo. Nós (do Living Colour) temos um 'legado', contagiamos várias pessoas e respeitamos isso. Temos também um ótimo relacionamento, então podemos fazer coisas como essa. Will e Doug Wimbish tocaram no álbum solo de Vernon Reid. Will e eu ainda tocamos juntos em uma banda, ao lado de Doug, chamada Headfake. Então, nós continuamos trabalhando juntos. De toda forma, aquela noite foi mágica. Nós não tocávamos aquela música ao vivo desde 1995 e foi divertido. Me fez apreciar onde estou hoje e valorizar as pessoas com as quais estou tocando, porque aquela experiência me deixou ainda mais envolvido com a banda.
Whiplash! / Ainda falando sobre "Live At Wetlands". Este CD está disponível para download na EMusic. Como você vê essa relação da Internet com a música? Você acredita que seja algo saudável?
Corey Glover / A relação entre a tecnologia e a música é sempre muito importante. Você tem que aprender como ser criativo em um mundo que está em constante evolução. Eu acredito que é um erro evitar a tecnologia.. Você ainda não teria o álbum do Vice se eu não tivesse feito um contrato com a EMusic, porque eu não conheço muitas gravadoras interessadas em apresentações ao vivo. E essa distribuição imediata vinda da relação tecnologia / música é o motivo de estarmos conversando agora, sobre o álbum do Vice, lançado na Internet.
[an error occurred while processing this directive]Whiplash! / Aproveitando que estamos falando deste assunto, gostaria de saber sua opinião sobre a atitude do Metallica de entrar na justiça contra o Napster, por causa da circulação de mp3 da banda pela Internet. Você concorda com o que eles fizeram? Por que?
Corey Glover / Eu acho que o Napster ajuda o artista. Se o Metallica não quer participar disso, é uma prerrogativa deles. Porém, eu não vejo o Napster como um meio de roubo. É apenas uma maneira mais fácil e rápida de promover sua música. Eu não acredito que a maioria das pessoas vá parar de comprar CDs por causa do Napster. Para falar a verdade, eu acredito que mais pessoas vão comprar um álbum se ouvirem ele e o acharem bom. É como ir a uma loja de CDs e ficar ouvindo um álbum num local reservado para isso ou então, uma estação de rádio lançando antecipadamente algumas músicas do trabalho do artista. As pessoas só vão parar de comprar, se a banda for um lixo. O Metallica não é ruim, então eles não têm com o que se preocupar. Quem deveria se preocupar são as grandes gravadoras e distribuidoras, pois agora elas têm concorrência.
Whiplash! / Você, provavelmente, já imaginava que eu fosse perguntar isso. E acho que a partir do momento em que Will Calhoun participou de "Live At Wetlands", em um período em que várias bandas da mesma época do Living Colour e até mais antigas estão se reunindo, a pergunta que logo vem a mente de todos é: Há possibilidade de uma reunião do Living Colour? Vocês já conversaram sobre isso?
Corey Glover / Bem, tocar com Will é legal. Como eu já disse, toco no Headfake com ele e o baixista Doug Wimbish. O Living Colour foi um momento, uma coisa certa e acho que não conseguiremos recuperar isso e capturar o espírito de novo. E eu odiaria arruinar esse grande momento que tivemos. Isso não quer dizer que nunca nos reuniremos de novo, mas por agora, vamos deixar do jeito que está.
[an error occurred while processing this directive]Whiplash! / O que houve com o Living Colour? Por que vocês decidiram parar com suas atividades em 1995? Houve algum tipo de atrito entre os membros da banda?
Corey Glover / Eu acho que foi apenas uma questão de momento. Você chega a um ponto em que musicalmente não lhe resta mais nada a dizer. Não houve nenhum problema entre os membros da banda, mas cada um cresceu e amadureceu separadamente. Acho que parar ali foi o melhor para todos nós.
Whiplash! / Você sente muita dificuldade ao encarar um público que pede para que você toque as músicas do Living Colour, sendo que você, normalmente, toca uma ou duas a cada show?
Corey Glover / Eu não tenho problema quando as pessoas querem ouvir coisas antigas, porque aquilo ainda é meu. Ainda faz parte de mim. Eu escrevi várias dessas músicas e percebi que muitas pessoas estão interessadas apenas pela história da banda e das letras. Eu apenas espero que elas captem algo de meu novo material também. Mas, eu não estou fugindo de meu passado.
Whiplash! / Você ainda sente a mesma emoção que sentia na época do Living Colour, quando o público vai a loucura com músicas como "Pride", "Cult Of Personality", "Funny Vibe", etc?
Corey Glover / Eu amo tocar todas essas músicas e meu sentimento não muda. Eu tenho o mesmo sentimento tocando em um clube ou um estádio.
Whiplash! / Vernon Reid sempre destaca o "Time's Up" quando fala sobre o Living Colour. E você? Qual dos álbuns da banda você destacaria e diria que foi o de maior importância em sua vida, sua carreira?
Corey Glover / Todo o trabalho mudou a minha vida. Eu não posso apontar um álbum em particular, porque cada um deles representa diferentes coisas. Todos foram muito importantes.
Whiplash! / Logo no primeiro álbum, "Vivid", vocês contaram com a participação de Mick Jagger, uma lenda do rock. Como vocês conheceram Mick Jagger? Qual foi a reação de vocês ao verem que ele estava se interessando pela música que faziam?
Corey Glover / Vernon tocou em um dos álbuns solos de Mick. Então, Mick veio nos ver tocar e nos ajudou a acertar o contrato com a Epic. Além disso, ele produziu duas faixas no "Vivid". Foi uma verdadeira honra trabalhar e conhecer alguém como Mick. Depois ele nos colocou parar abrir os shows na turnê dos Rolling Stones e essa ainda é a maior turnê que já fizemos.
Whiplash! / Meses depois do lançamento de "Vivid", vocês já estavam abrindo os shows da turnê "Steel Wheels" dos Rolling Stones. Qual foi a sensação que vocês tiveram ao entrar em turnê com uma banda do porte dos Rolling Stones e tocar para verdadeiras multidões?
Corey Glover / Nós sempre estávamos na estrada e pensamos então que entenderíamos todo o processo. Mas não tínhamos idéia da grandeza daquilo tudo. A magnitude e o desafio da coisa não foi muito bem captada de início. Muitas das pessoas que iam ver os Stones, nem sabiam quem éramos. Nós tivemos nosso primeiro vídeo na MTV, e só aquele público mais antigo, que acompanhou isso, já nos conhecia. Todas as noites foram grandes testes para nós, pois precisávamos provar nossa capacidade. Afinal, as multidões não estavam ali para nos ver. Eles queriam ver as lendas do rock. E nós nos saímos bem. Fomos competentes.
Whiplash! / Na sua opinião, qual foram as maiores dificuldades que vocês enfrentaram nessa turnê? Como vocês conseguiram superar essas dificuldades?
Corey Glover / O convívio com a fama repentina, algo que não tínhamos preparo para enfrentar. Um dia você vai ao shopping tranqüilamente, e no outro você já não pode sair sem seguranças. Eu me recuperei depois de um tempo, mas realmente foi um grande choque.
Whiplash! / Conte-nos algum acontecimento engraçado, trágico-cómico, ou qualquer outra coisa, que você nunca vai esquecer dessa turnê que fez com os Rolling Stones.
Corey Glover / Nós fizemos shows com o Guns 'N' Roses naquela turnê. Eles tinham uma música chamada "One in a million", que ofendia negros e gays. A MTV perguntou o que nós achávamos e nós detonamos a música. No backstage, o Axl Rose encarou o Muzz [Skillings - primeiro baixista do Living Colour], e nós pensamos que ia sair uma briga pesada. Houve muita discussão, mas no final conseguimos nos entender.
Whiplash! / Como você conheceu Vernon Reid, Will Calhoun e Muzz Skillings? Como surgiu a idéia de montar uma banda?
Corey Glover / O Living Colour já era uma banda formada há um tempo quando eu entrei. Eu fui chamado para um teste e entrei na banda. Eu conheci todos eles nessa audição. Eles tiveram vários outros membros antes da estabilização com a formação original.
Whiplash! / Vocês não temiam o preconceito que poderiam sofrer, sendo uma banda formada
por negros?
Corey Glover / O preconceito está em qualquer lugar, independente de estarmos tocando ou não. Você deve apenas fazer o que quer e aprender a lidar com essa merda. Nós fizemos isso e tivemos alguns problemas, mas nossa ligação era com a música e nada mais.
Whiplash! / Acredito que vocês sofreram algum tipo de preconceito, pelo menos no começo
da carreira. Estou certo? Como vocês reagiam a essas atitudes?
Corey Glover / Nós ainda sofremos preconceitos sendo negros na América. As pessoas não achavam que nós deveríamos estar tocando rock (uma arte negra, eu diria) e quando nós fizemos sucesso, foi uma novidade. Living Colour, a banda negra de rock, ao invés das tradicionais bandas de rock. Você acaba pegando o bom e o mau da coisa. Nós já esperávamos as atitudes racistas, pois somos negros há um bom tempo. Não é porque tocávamos em uma banda de sucesso que isso iria mudar.
Whiplash! / Quando vocês lançaram "Vivid", o mundo inteiro estava vivendo do hard rock de bandas como Great White e White Lion. Você tem noção da importância que o Living Colour teve
para toda uma geração, principalmente de negros, mas também de brancos, orientais, etc?
Corey Glover / Eu acho que nós ajudamos a tapar o buraco que existia entre o Hard Rock e o Hip Hop. Nós tivemos o Public Enemy em nosso primeiro álbum e o Stetsasonic no remix de "Funny Vibe". Tivemos Queen Latifah em nosso segundo álbum. Muito do que rola no Limp Biskit e no KoRn é por nossa causa. [N. do T.: É, muito mesmo. KoRn, Limp Biskit & cia só esqueceram de aprender a tocar em um nível tão alto como o da banda que os influenciou]. O Rage Against The Machine costumava abrir shows para o Living Colour. Nós tivemos uma influência na música de uma certa forma.
Whiplash! / Você tinham consciência da responsabilidade que assumiriam se postando como representantes dos negros dentro de um estilo dominado praticamente, apenas por brancos? Como vocês conviviam com essa responsabilidade?
Corey Glover / Claro que tínhamos. Nós sabíamos que estaríamos representando nossa raça e também muitos músicos que gostariam de fazer o que nós fazíamos. Tivemos que ser mais responsáveis. Não podíamos ser viciados em drogas ou tarados. Não podíamos ser aqueles típicos rock stars, porque as conseqüências disso sobre nós seriam mais duras. Nós sabíamos disso.
Whiplash! / Vocês sempre colocavam elementos de funk, hip hop e até reggae em suas músicas, valorizando bastante a cultura negra. Isso era algo intencional ou apenas surgia no decorrer de suas composições?
Corey Glover / As duas coisas. Sempre usamos nossas influências para fazer música. Não era algo calculado, mas, era bem pensado.
Whiplash! / Uma das coisas que mais chamavam a atenção das pessoas, era o seu cabelo. Qual era o principal objetivo de toda aquela produção, digamos assim, colorida?
Corey Glover / Eram os anos 80. Eu sempre gostei de dreads e tranças, mas eu queria colocar algo que chamasse a atenção. Então, eu coloquei cores no meu cabelo e vejo que funcionou. Eu conheci a irmã do meu agente e ela é quem costumava arrumar meu cabelo.
Whiplash! / Will escreveu "Pride", que a cada linha, cada palavra, valoriza a cultura de vocês. Toda vez que a ouço, penso: "Esses caras tocam essa música com um orgulho e uma força inacreditável". Você acha que essa foi a música mais importante da história do Living Colour? Qual a importância dessa música em sua carreira?
Corey Glover / Não há uma ou outra música mais importante para mim, na história do Living Colour. São como crianças, você as ama igualmente, mas por diferentes razões. "Pride" é uma música muito importante, mas da mesma forma, são "Open Letter" ou "Love Rears" e não se esqueça de Cult ["Cult of Personality"] e "Middle Man".
Whiplash! / Quem deu a idéia do nome Living Colour? Foi um nome facilmente aceito por todos do grupo?
Corey Glover / O nome foi uma idéia de Vernon. Eu achei um bom nome e a banda já se chamava Living Colour quando eu entrei.
Whiplash! / Sempre achei o Living Colour uma banda de grande potencial ao vivo. Como você compararia o Living Colour no estúdio e ao vivo?
Corey Glover / Eu acho que ao vivo era mais emoção e em estúdio mais razão, algo mais cerebral. Ao vivo, você não pensa muito, você sente.
Whiplash! / Você já se envolveu com drogas? Alguém do Living Colour teve problemas com drogas? Como vocês lidavam com isso?
Corey Glover / Como eu já disse, nós não podíamos ser viciados em drogas e nenhum de nós teve problemas com isso. Nós éramos os nerds do rock.
Whiplash! / O que você ouvia na época em que a banda se formou? Quais foram suas principais influências no início de carreira?
Corey Glover / Minhas influências musicais são muito grandes para serem listadas. Eu sou influenciado por praticamente tudo o que ouço. Existem alguns óbvios, mas seria injusto falar alguns e deixar de mencionar outros.
Whiplash! / O que você tem escutado ultimamente?
Corey Glover / Eu gosto muito de Radiohead e há também um novo artista chamado DeLouie que é ótimo. Eu escrevi uma música no álbum dele, que vai sair pela MCA. Eu amo Rage [Agaisnt The Machine] e De La Soul. Basicamente isso. Amo o Vice também.
Whiplash! / Antes de vocês, quais artistas/bandas, você destacaria como grandes difusores da cultura negra na música?
Corey Glover / James Brown, Jimi Hendrix, Sly Stone, Earth Wind and Fire, Stevie Wonder, Run Dmc, Bambatta, Ottis Redding, Aretha Franklin, Ike and Tina Turner, Muddy Waters, Al Green, Curtis Mayfield, Isley Bros., Bob Marley, etc. Posso continuar? Esses sãoapenas alguns.
Whiplash! / E atualmente? Quais, você acredita, que são os principais divulgadores da cultura negra na música?
Corey Glover / R. Kelly, D'Angelo, Jill Scott, Jay Z, Lauryn Hill, Lenny Kravitz, Busta Rhymes, Wu-Tang, etc.
Whiplash! / O 'dance/techno' presente nas músicas de cantoras negras como Mariah Carey te agrada? O que você pensa sobre isso? Você acha que isso realmente faz parte da cultura negra?
Corey Glover / Eu gosto de alguma coisa disso. Isso faz parte da cultura negra, pois é derivado de negros de locais diferentes como Detroit e Londres.
Whiplash! / Me diga alguma coisa que você fez durante sua carreira, da qual se arrepende hoje ou teria vontade de fazer de maneira diferente. Alguma música, algum álbum, alguma atitude tomada?
Corey Glover / Eu não gosto de ficar pensando ou imaginando mudar alguma decisão que já foi tomada. Tudo acontece por uma razão e um propósito divino. Então, eu não questiono o que fiz.
Whiplash! / Você acha que há alguma diferença em relação ao preconceito que os negros sofriam nos anos 80 e o que enfrentam atualmente?
Corey Glover / Eu acho que os negros estão aceitando mais o preconceito hoje em dia. Parecem conformados. Atuamos menos do que antigamente. Não somos mais tão ativos como estávamos sendo no final dos anos 80. E precisamos voltar a lutar como naquela época.
Whiplash! / Dê sua opinião sobre as seguintes personalidades:
Corey Glover / a)- Hitler - O 'cartaz' para o ódio. Ele precisava de ajuda, e acho que não merece toda a culpa. Mas é importante falar sobre ele constantemente para prevenir e evitar que outras pessoas voltem com essas guerras e atitudes estúpidas, como em Kosovo. b)- Nelson Mandela - Um herói. Eu apenas desejaria poder ser cortês como ele, estando face a face com o ódio e a ignorância. c)- Michael Jordan - Grande atleta. Será ainda mais importante em sua vida, pela influência e habilidade que tem de cativar e mexer com as pessoas. Vamos ver como ele vai lidar com isso.
Whiplash! / Muito obrigado pela entrevista. O espaço é todo seu.
Corey Glover / Obrigado pelas perguntas e espero que vocês continuem gostando do que faço. Eu realmente espero ir ao Brasil em breve.
Site Oficial: http://www.coreyglover.com
Discografia: Living Colour - Vivid (1988); Living Colour - Time's Up (1990); Living Colour - Biscuits (1991); Living Colour - Stain (1993); Living Colour - Pride (1995); Corey Glover / Live at CBGB's (1997); Living Colour - Super Hits (1998); Corey Glover / Hymns (1998); Living Colour - Play It Loud (1999); Vice - Live At Wetlands (2000).
Participações em trilhas sonoras: Judgement Night (Soundtrack - 1993), ao lado do Living Colour e do Run D.M.C, com a música "Me, Myself & My Microphone"; True Lies (Soundtrack - 1994), ao lado do Living Colour, com a música "Sunshine Of Your Love".
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