Telefone sem fio: quatro histórias que separam o Megadeth da escola de samba Mangueira
Por Gustavo Maiato
Postado em 24 de abril de 2024
Em mais uma matéria da série Telefone sem fio, agora a ligação será entre a icônica banda de thrash metal Megadeth e a famosa escola de samba carioca Mangueira. Essa história começa com o samba da verde e rosa de 2003: "Os Dez Mandamentos: o Samba da Paz Canta a Saga da Liberdade".
Mangueira e o Antigo Testamento
No samba em questão, o saudoso intérprete Jamelão canta sobre histórias do Antigo Testamento. Passagens como Moisés libertando os hebreus do Egito são recordadas: "Moisés desafia o rei / A ira divina desaba na terra / Libertação! E num gesto encantado / O mar virou passarela".
Anos depois, em 2013, quem participou da gravação do samba da Mangueira foi Xande de Pilares, conforme ele relata em entrevista ao O Globo. Ao falar sobre a vitória da escola em 2019, ele disse: "Achei justa. A Mangueira, quando entra na avenida, não tem jeito. Às vezes eu fico até balançado, porque a minha família inteira é mangueirense, eu só fui ser Salgueiro aos oito anos, por causa do meu pai. Fiquei muito emocionado com aquela bandeira que a Mangueira levou para a avenida".
Xande de Pilares, Scorpions e histórias de Israel
O próximo nó da corrente é o fato de que Xande de Pilares adora a banda Scorpions, conforme ele revelou ao jornal Extra: "Lá em casa todo mundo gosta de música. Meu avô dizia para não escutar um disco sem saber quem produziu, quem é o compositor, em que ano foi gravado, onde foi gravado, quem foi que trabalhou naquilo tudo’. ]
A primeira vez que meu avô me falou de ficha técnica, eu nem sabia ler. O que eu gostava de ouvir era Ray Charles, Stevie Wonder, Jackson Five, Elton John, Gladys Knight, Scorpions, Bee Gees... Eu era internacional pra caramba", confessou.
O vocalista do Scorpions, Klaus Meine, já colaborou na música "Jerusalem of Gold" com a cantora israelense Liel Kolet. Essa canção originalmente foi escrita por Naomi Shemer é uma das mais tradicionais de Israel e fala sobre o anseio do povo judeu de retornar para Jerusalém. Essa passagem dos hebreus tentando retornar para sua origem estando escravizados no Egito é tema de uma música bem famosa do Metallica.
As pragas do Egito
Conta a Bíblia que o Faraó do Egito não queria libertar os hebreus da escravidão que já durava 400 anos. Foi então que Deus enviou dez pragas para "incentivar" o monarca a cumprir a vontade divina. Essa passagem está no livro do Êxodo e como conta Paulo Severo da Costa em matéria para o Whiplash.Net, essa história inspirou o Metallica a compor "Creeping Death", clássico do "Ride the LIghtning".
"As dez pragas do Egito, também conhecidas como as Dez Pragas, são descritas em Êxodo 7-12. As pragas foram dez desastres enviados sobre o Egito por Deus para convencer o Faraó a libertar os escravos israelitas da escravidão e opressão que tinha sofrido no Egito por 400 anos. Quando Deus enviou Moisés para libertar os filhos de Israel da escravidão no Egito, Ele prometeu mostrar suas maravilhas como a confirmação da autoridade de Moisés (Êxodo 3:20). Esta confirmação foi para servir pelo menos duas finalidades: para mostrar aos israelitas que o Deus de seus pais estava vivo e merecedor de sua adoração e para mostrar os egípcios que seus deuses não eram nada.
A inspiração para esta canção foi o filme "Os Dez Mandamentos" de Cecil B. De Mille, de 1956 - estrelado por Charlton Heston como Moisés. A pretexto de sinopse, a película trata das dez pragas lançadas por Deus segundo o supracitado livro. De acordo com o Texto Sagrado, as dez pragas do Egito, foram motes de vingança divina infligidas ao Egito para convencer o Faraó a libertar os escravos hebreus".
Israel, Irlanda do Norte, Dave Mustaine e "Holy Wars"
O ponto final dessa ligação curiosa é a música "Holy Wars", escrita por Dave Mustaine para o Megadeth no álbum "Rust in Peace". Essa canção também trata do assunto da religião e de Israel, embora sua inspiração principal tenha sido os conflitos entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte, como conta o próprio em entrevista a Loudersound.
"Estávamos na Irlanda do Norte. Eu estava bebendo Guinness e alguém explicou algumas coisas complicadas para mim de maneira simplificada e rápida, e eu acreditei. Eu disse algo do palco que não deveria e isso causou confusão. O David Ellefson não quis falar comigo no dia seguinte.
Eu disse, 'O que houve?' e ele disse, 'Você não sabe o que disse ontem à noite, não é?' Eu disse, 'Não, eu estava bêbado, é o ponto.' Ele me contou o que eu tinha dito. Que eu tinha meio que dedicado uma música para o Exército Republicano Irlandês e que fomos escoltados para fora da cidade em um ônibus à prova de balas. Fiquei tão decepcionado por ter dito aquilo.
Eu não sabia o que estava dizendo. Se você sabe o que está dizendo, é uma coisa, mas se está dizendo porque alguém te vendeu uma besteira... O cara disse que era 'pela causa', e eu estava tipo, 'Qual é a causa?' E ele disse que era apenas preconceito entre protestantes e católicos. Eu não sabia sobre toda a história.
No dia seguinte, saímos de Dublin para Nottingham Rock City e [baterista] Chuck Behler não estava em lugar algum. [Seu técnico de bateria] Nick Menza subiu na bateria e comecei a tocar o riff de ‘Holy Wars’... e logo depois escrevi a letra.
Minha atitude em relação às letras não mudou desde então. É a mesma coisa, cara. Ainda há guerras religiosas, ainda há pessoas que não sabem, como eu não sabia, ainda há pessoas que seguem tudo isso e não entendem a vida ou as culturas das outras pessoas, leis e coisas assim."
Ao expandir o tema para guerras religiosas de maneira geral, Mustaine engloba Israel na letra de "Holy Wars... The Punishment Due": "O fim está próximo, é evidente / Faz parte do plano mestre / Não olhe agora para Israel / Pois poderá ser sua terra natal".
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