Conceituais: 7 álbuns que fizeram história contando uma história
Por Danilo F. Nascimento
Fonte: Obvious
Postado em 06 de agosto de 2015
Conceber um álbum requer inúmeros requisitos que precisam ser preenchidos e realocados de forma deveras apropriada, e quando estamos falando de um álbum conceitual, o processo tornar-se ainda mais complexo.
Fazer história contando histórias é uma tarefa comumente transmitidas a escritores, porém, há de se salientar que também existem bandas que já navegaram por estas linhas turvas e criaram verdadeiras obras primas conceituais
Confira abaixo os sete álbuns que fizeram história contando uma história.
01. TOMMY - 1969 (THE WHO)
Tommy é o primeiro álbum do mundo a ter sido classificado sob a alcunha de opera rock. Lançado em 1969, e composto quase integralmente pelo guitarrista Pete Townshend. A obra apresentava uma narrativa e construía arcos de história, com um personagem, através das canções.
Ou seja, a opera rock do The Who contava uma história, construída a partir personagens, cenários situados no tempo e espaço, e um foco narrativo bem estabelecido.
O álbum apresenta a biografia fictícia de Tommy Walker, filho de um capitão do exército britânico, que se perdeu durante um combate na primeira guerra mundial. Porém, o capitão retorna em 1921 e é brutalmente assassinado pelo amante de sua esposa, a mãe de Tommy.
O pequeno Tommy, então com sete anos de idade, presenciou esta cena e a mesma fora responsável por mudar e atormentar a sua vida para sempre. Traumatizado, Tommy perde a visão, a audição e torna-se um ser acéfalo.
Após uma infância conturbada, na qual o jovem sofreu inúmeros abusos físicos e emocionais, Tommy torna-se adulto e mesmo permanecendo em uma situação catatônica, vira um mestre no jogo de pinball, atraindo a atenção de inúmeras pessoas.
Posteriormente, Tommy fora curado por um médico, tornou-se uma espécie de "Messias" e angariou um exército de seguidores. A missão de Tommy passa a ser levar os seus seguidores para encontrar a "luz" que encontrou em sua jornada espiritual.
Durante os setenta e cinco minutos que compõem o álbum, o ouvinte é convidado a sofrer, chorar, sorrir e torcer por Tommy. O álbum teve sua versão cinematográfica lançada em 1975 e é até hoje considerado um dos melhores discos da história do rock.
02. THE WALL - 1979 (PINK FLOYD)
Os oitenta e um minutos que compõem a magistral opera rock concebida por Roger Waters, David Gilmour, Nick Mason e Richard Wright, são atordoantes e dignos de amedrontar o mais cético dos seres humanos.
O álbum é baseado na história de vida fictícia do jovem Pink, que perdeu seu pai durante a Segunda Guerra Mundial (Another Brick in the Wall Part 1), foi oprimido pela mãe super-protetora (Mother) e também por seus professores, que comportavam-se como verdadeiros tiranos, ditadores cruéis que atormentavam a vida de Pink (Another Brick in the Wall Part 2).
Após uma infância conturbada e traumática, Pink torna-se uma estrela do rock e um dependente químico. A utilização desenfreada de drogas, contribuí para que o personagem construa um muro em sua mente, que o isola do resto do mundo.
The Wall começa com a voz de Waters proferindo a frase "We came in?", que será complementada ao final do disco pela expressão "Is not here were", formando assim a expressão "Não é aqui que nós entramos". "Outside the Wall", última canção do álbum, transparece a ideia de que tudo é cíclico, e que mesmo um momento ruim pode ser transformado em um outro bom, e que nada, absolutamente nada, dura para sempre.
O muro construído durante o álbum, nada mais é do que uma "bolha de tijolos" onde o personagem Pink permanece preso ininterruptamente. The Wall também recebeu uma versão cinematográfica em 1982.
03. THE RISE AND FALL OF ZIGGY STARDUST AND THE SPIDERS FROM MARS - 1972 (DAVID BOWIE)
The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars foi responsável por apresentar as canções mais antológicas de David Bowie, tudo isto sob uma estética interessantíssima e originalíssima.
No ano de 1972, David Bowie atingiu o cerne da cultura jovem e desafiou as barreiras da sexualidade ao fabricar para si uma imagem dotada de androginia, que culminou no simbologismo expoente do glam rock.
O conceito do álbum passa pelo alienígena Ziggy Stardust, cujo único intuito é dar esperança aos seres humanos remanescentes do holocausto que se tornou o planeta Terra.
O cenário em que o álbum se passa é apocalíptico. Devido a deterioração e ausência de recursos naturais, o prognóstico do planeta Terra não é dos melhores. Restam apenas cinco dias antes do fim catatônico e proeminente. A população desiste de enfrentar a crise e espera apenas a hora da morte.
Em seus sonhos, Stardust é visitado por outros alienígenas, que viajam o universo através de buracos negros e que estão a caminho da Terra para tentar salvá-la. O jovem é convencido a cantar para dar esperança à população do planeta, surge aí a épica Starman.
Ziggy Stardust é a epítome da caricatura do rock star: promíscuo, egocêntrico, usuário de drogas e portador da paz. E a incursão mental nos problemas de um planeta desconhecido, colaboram para deixar o jovem louco.
04. CLOSE TO THE EDGE - 1972 (YES)
Clássico absoluto do rock progressivo, Close To The Edge fora o quinto álbum lançado pelo Yes e é uma representação perfeita do gênero.
O álbum traz uma banda em seu ápice de criatividade, aliado à uma áurea comercialmente palpável, tornando-se um clássico absoluto da música, não apenas pela estrutura das canções, mas também pelo conceito que abordava.
o disco conta a história de Siddharta, um rapaz desacreditado que inicia uma jornada de plenitude espiritual, onde precisa passar por diversas barreiras, desafios e dificuldades para tentar compreender a si mesmo internamente.
Três faixas e uma duração aproximada de 35 minutos. Close To The Edge pode até assustar um mundo que não tem mais tempo para parar por uns minutos e apreciar a audição de um álbum completo, mas continua sendo um dos mais finos retratos de um contexto em que entendia-se que, para a música avançar, era necessário primar pela técnica, em detrimento dos compassos tradicionais da música pop da época. Quem foi que disse que a técnica não pode ser aliada à alma? Estupendo álbum!
05. THE LAMB LIES DOWN ON BROADWAY - 1974 (GENESIS)
Conhecido como o último trabalho de Peter Gabriel antes de deixar
o Genesis, The Lamb Lies Down on Broadway é um dos registros mais desvalorizados e subestimados da fase clássica do grupo.
O conceito do álbum é concebido a partir da história de um jovem porto-riquenho que, ao mudar-se para os Estados Unidos, assume a identidade de Rael e se alia a gangues de rua, cometendo vários delitos até o momento em que sofre um acidente. A partir daí, Rael inicia uma viagem no plano metafísico em busca do irmão John (seu verdadeiro eu).
Rael vive na frente do teatro da Broadway, e a obra confronta a beleza e o esplendor da Broadway com a vida miserável dos desfavorecidos que se arrastam incólumes nas ruas. A história mergulha numa viagem espiritual de Rael, que se vê em meio à várias situações estranhas, deparando-se com inúmeros personagens mitológicos, cujos quais o jovem tentar se desvencilhar, visando encontrar seu irmão e alcançar a tão sonhada redenção.
O Genesis nunca foi popular como outras bandas do gênero, como Yes ou Pink Floyd, pelo contrário, a banda sempre teve uma conotação "cult" entre os fãs de rock progressivo. E The Lamb Lies Down on Broadway desperta curiosidade e fomenta debates até hoje entre os fanáticos pelo gênero.
06. SONG FOR THE DEAF - 2002 (QUEENS OF STONE AGE)
A mente inquieta e genial de Josh Homme começou a conceber este álbum conceitual no início da década passada. Na época de seu lançamento, a mídia e a crítica especializada da época colocou o Queens Of Stone Age ao lado do The Strokes, sob a alcunha de "salvadores do rock".
E a história prova que esterótipos e termos genéricos não contribuem em nada para a progressão de uma banda, pelo contrário, apenas torna-a mais pressionada.
Enquanto o Strokes nunca mais conseguiu repetir o sucesso alcançado com o álbum Is This It, o Queens Of Stone Age tomou a dianteira e continuou lançando inúmeros trabalhos interessantíssimos, que culminaram em Like Clockwork (2013), melhor álbum do grupo até então.
Mas falemos de Songs for the Deaf. A história do álbum passa-se em uma viagem de carro do Deserto de Mojave até Los Angeles, onde estações de rádio de cidades locais vão sendo sintonizadas entre uma música e outra. Algo inédito, que funciona muito bem, amarrando as vinhetas das rádios às faixas do disco.
O disco surpreendeu pela abordagem cru e visceral que dominava todas as canções, e o videoclipe de "No One Knows" tornou-se febre na MTV.
07. AMERICAN IDIOT - 2004 (GREEN DAY)
Mal dá pra acreditar que American Idiot já possuí onze anos. Embora muitos fãs de rock n' roll torçam o nariz para essa fase do trio Green Day, é impossível não mencionar o "boom" que o álbum trouxe ao mercado fonográfico.
Esta opera punk de cinquenta e sete minutos traz alguns dos momentos mais marcantes da carreira do grupo capitaneado por Billie Joe Armstrong, elevando a banda para o status de "rock de arena" e catapultando a premissa de que uma banda que se auto-intitula punk "não pode ter canções com mais de três ou quatro minutos".
O redator que vos escreve ainda era um adolescente na época, e assim como milhares de jovens pelo mundo, identificou-se com os personagens Jesus of Suburbia e St. Jimmy, criados por Armstrong.
O álbum apresenta três personagens centrais: Jesus of Suburbia, um jovem suburbano e talentoso que decide se aventurar na cidade grande; St. Jimmy, um anti-herói identificado com a cultura e filosofia do punk rock, e que luta desenfreadamente por saciar o seu desejo de liberdade; e Whatsername, uma linda, rebelde e misteriosa mulher que atiça a curiosidade de quem participa e acompanha a saga.
Tanto St. Jimmy quanto Whatsername, ilustram a "raiva contra o amor" e isto torna-se um dos temas mais impactantes do álbum, mostrando que "você pode se tornar um rebelde cego e auto-destrutivo, mas têm de entender que o mundo possuí outra faceta, que é movida pelo amor que, por muitas vezes, assola a ética e as crenças. E é aí que Jesus of Suburbia realmente quer estar".
American Idiot reúne todas as fases do Green Day em um único álbum. Há punk rock, mas também épicas canções, como os mais de nove minutos de "Jesus Of Suburbia".
Armstrong nunca aceitou falar abertamente sobre a história do álbum, por acreditar que o ouvinte é quem tinha que interpretá-la, deixando no ar a questão: E na vida real, quem é o idiota americano?
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