Metallica: o que Jason Newsted pensava na época do Black Album
Por Alessandro Eduardo
Fonte: Blog S&V
Postado em 06 de outubro de 2013
Reveja, sob a ótica do então baixista JASON NEWSTED, quais eram os planos da banda com o lançamento desta bolacha, conforme matéria publicada na revista Bizz.
Em sua esperadíssima volta ao vinil, o METALLICA abandonou as epopeias sonoras e partiu para a simplicidade: um disco de rock rápido e pesado. O baixista JASON NEWSTED revela as dificuldades da produção deste adeus ao thrash, que está sendo considerado o melhor disco da banda.
A única coisa que indica que o homem à minha frente é o baixista de uma das maiores bandas de rock do planeta é seu anel: uma caveira rodeada de serpentes, em ouro.
Jason Newsted acaba de acordar - na verdade ainda está meio dormindo. Ele se joga no sofá, ajeita os óculos e suspira. "Já fizemos dois shows desta turnê Monsters Of Rock... amanhã em Donnington é o terceiro. Ainda estamos nos aquecendo... depois de tanto tempo longe dos palcos, é difícil." Ou seja: o METALLICA está de volta - e com um disco aclamado como o melhor de sua carreira.
Para quem andou se perguntando onde estava à banda, a resposta é simples: depois de um ano e meio na estrada promovendo o álbum ...And Justice For All, eles pararam para descansar. Casaram, construíram casas, cuidaram da vida.
Depois de um tempo bateu a necessidade de retomar o grupo. Jason, o vocalista/guitarrista James Hetfield, o guitarrista Kirk Hammet e o baterista Lars Ulrich se uniram novamente para começar a trabalhar no seu quinto disco. Depois do sucesso de crítica e vendas do álbum duplo Justice, não deve ter sido fácil.
Pois eles conseguiram: superaram Justice. Metallica, o disco, entrou direto no primeiro lugar da parada britânica; o single "Enter Sandman" entrou direto em quinto lugar. Nos Estados Unidos, o single é uma das músicas mais pedidas nas rádios.
Uma novidade importante: em vez de temas longos e elaborados, o disco apresenta doze músicas curtas, diretas. Provavelmente por influência de Bob Rock, produtor do disco, que trabalhou antes com o Cult, Mötley Crüe e Bon Jovi. Mas que ninguém pense que a presença de Bob amenizou o ataque do Metallica. Eles continuam rápidos e pesados - só que agora em canções de três minutos, não dez.
A recepção excelente que o disco recebeu não caiu do céu. A gravadora planejou o marketing do álbum cuidadosamente, e até a capa de METALLICA, bolada pelo próprio grupo, se encaixa neste esquema.
A famosa capa é uma ideia de gênio: nada de monstros ou cores fortes. Ela é totalmente negra; se você forçar a vista, verá o nome da banda num canto e uma serpente em outro.Mas o METALLICA não estaria vendendo tão bem, nem estaria na capa de Melody Maker, NME, e até Q e Time Out (que geralmente ignoram totalmente este gênero musical) se o disco não tivesse sido verdadeiramente bem recebido por quem realmente interessa - os fãs.
Acima, os melhores momentos da entrevista com Jason. Ele recorda todos os passos na produção de METALLICA, do período de preparação ao estouro, da colaboração de Bob Rock à concepção do novo estilo do grupo. De quebra, relembra o Brasil, analisa o metal atual, elogia Police e Rush e revela seus discos prediletos no momento - você acreditaria em Ziggy Marley e Tom Waits?
PAUSA PARA MEDITAÇÃO
"Depois de dezoito meses na turnê de And Justice For All, estávamos esgotados. Precisávamos parar e gastar um pouco de dinheiro."
"Foi um período importante para nós. Compramos casas, tentamos dar um jeito em nossas vidas domésticas. É importante ter uma âncora. Tocar numa banda é como viver duas realidades diferentes. Quando estou em casa me pergunto como é que consigo fazer show após show. Mas depois de dois dias na estrada, já esqueci onde minha casa fica! "
A PRESSÃO DA VOLTA
"Ninguém de fora nunca tentou interferir com a ´fórmula´ do METALLICA. Mas nós nos impomos um certo padrão ideal. Sabíamos que tínhamos que criar nosso melhor álbum. Reposicionar o METALLICA para os anos 90... queríamos começar esta década com a força anterior."
FAZER SUCESSO SEM SE VENDER
"É uma coisa muito positiva, poder compor e tocar exatamente como queremos, e conseguir alcançar tanta gente. Nunca dissemos ´vamos escrever músicas curtas para agradar as rádios e a NME´. Produzimos um disco mais acessível, mais audível porque quisemos."
"O importante para nós é que o disco tivesse um bom groove, mais alma que os anteriores. O groove aconteceu com nossa tentativa de simplificar. Fomos jogando fora tudo que era supérfluo, indo direto ao assunto."
"Chega de músicas com vinte partes, seis mudanças de tempo, toda aquela coisa progressiva! O Lars começou a tocar de maneira mais básica, eu fiquei mais solto, deixando as guitarras fazerem o que tinham de fazer, e os vocais do James ficaram mais cheios de emoção."
A PRODUÇÃO DE BOB ROCK
"Queríamos uma pessoa com ideias novas e diferentes. E quando conhecemos o Bob. vimos que ele era a pessoa certa. É tão diferente ter alguém no estúdio que tenha know-how, sem falar em seu incrível ouvido. Ele sabe obter os resultados que quer: sabe que botões apertar, que máquinas usar."
"É óbvio que o Bob conseguiu fazer com que déssemos o melhor de nós". Foi incrível assistir às mudanças que ele trouxe ao James: ele foi se soltando, deixando as emoções fluírem."
ESTÚDIO
"No total, passamos nove meses e meio no estúdio. Houve momentos de tensão, um quase estrangulando o outro. Mas sabíamos onde estávamos indo. E acho que, no final, conseguimos a melhor qualidade de som jamais produzida em metal."
A CAPA
"Tivemos a ideia da capa preta quando estávamos trabalhando nos títulos. A ideia inicial tinha mais detalhes, mas, como na música, fomos tirando tudo que era desnecessário. Não queríamos nada que desviasse a atenção da música."
"É engraçado como as pessoas interpretam o que veem numa capa. Se você vê os monstros, espera certo tipo de música. Nós também temos culpa, fomos parcialmente responsáveis pela criação daquelas imagens típicas do heavy metal."
EVOLUÇÃO
"Não dá para ficar se repetindo ano após ano. Todas as grandes bandas - como o Black Sabbath, o Led Zeppelin, o Police, o Rush - davam ou dão um passo à frente com cada novo disco. Crescem como músicos, compositores, pessoas."
THRASH
"Não quero parecer arrogante, mas acho que o METALLICA está totalmente sozinho no que faz". Chame de thrash, speed, o que quiser. Eu prefiro música rápida e pesada... Talvez tenhamos começado o movimento thrash nos Estados Unidos, mas não podem nos culpar pelo que as outras pessoas fazem (risos)..."
BANDAS
"Toda nova música é uma reciclagem de algo anterior. Antes de nós havia tanta gente! Mas poucas bandas no gênero são tão distintas quanto o METALLICA. O SLAYER é uma delas, apesar de não concordar com tudo que eles dizem. Do ANTRHAX... Bem, não sei se conseguiria identificar uma música deles."
"O Faith No More... no The Real Thing eles conseguiram ir a tantas direções diferentes! Da última vez que falei com o Jim (Martin) ele disse que estava feliz com algumas coisas, infeliz com outras, das gravações do novo disco. Ele estava tentando fazer a coisa ficar mais pesada. Quanto ao Primus, é fantástico."
"Do Sepultura ouvi pouco, através do Phil, do Sacred Reich, mas gostei do que ouvi. Tem tanta coisa acontecendo no rock e no heavy metal! Tantas combinações! Olha só o Mordred: guitarra pesada, baixo funky e scratching... Todo mundo está explorando, e é assim que deve ser."
BRASIL
"Foi uma loucura! Foi bem no final de uma turnê de dezoito meses. Estávamos acabados. O engenheiro de som ficou doente, o Kirk ficou doente. Mas foi legal. Só queremos voltar e mostrar do que realmente somos capazes."
TOP FIVE
"Meus discos prediletos? O novo de Ziggy Marley, Jahmekya. The Early Years, do Tom Waits. Legend do Bob Marley... gosto de tudo do Bob Marley. Thin Lizzy, Bad Reputation. I Stand My Ground do Clarence Gatemouth Brown. E qualquer coisa da Motown: Jackson Five, Temptations etc. As únicas bandas pesadas que ouço são o Sacred Reich e o Violence. Talvez se eu ouvir mais o Sepultura eles entrem na lista."
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