Twilight Aura: maturação em caldeirão de influências
Resenha - For a Better World - Twilight Aura
Por Marcelo R.
Postado em 26 de dezembro de 2022
Nota: 10
Esta resenha é uma adaptação do texto que escrevi há algumas semanas, publicado, originalmente, no espaço virtual Rock Show, sob o título "Os 10 melhores álbuns de 2022".
Participo, como colaborador, de um espaço virtual construído entre amigos, denominado Rock Show, abrigado no site Medium (link acima) e no Instagram. Os assuntos de cada matéria são livremente escolhidos por parte de cada autor, respeitado, obviamente, o conceito do espaço (produção textos envolvendo a temática do rock).
Para o mês de dezembro, estipulou-se que cada colaborador encaminharia uma lista particular contendo os dez álbuns favoritos de 2022. Convencionou-se, ainda, que os autores deveriam comentar, ainda que sucintamente, a escolha do primeiro colocado.
Após discorrer sobre o álbum por mim eleito como primeiro colocado – For a Better World, do Twilight Light –, percebi, revisando-o, que a estrutura estava próxima à de uma resenha. Decidi, então, compartilhar a matéria, também aqui, a esse título – de resenha –, com as adaptações necessárias.
Eis, então, o resultado. Boa leitura.
Categorizar os dez melhores lançamentos de 2022, num ano especialmente pródigo de ótimos lançamentos, é tarefa árdua.
A lista que idealizei enumera catálogo que, evidentemente, não esgota a fértil fonte de notáveis trabalhos que viram a luz do dia no segmento do rock e de seus múltiplos subgêneros ao longo do ano.
Particularmente, sou apreciador entusiasmado de heavy metal nacional (do gênero e de suas inumeráveis vertentes). A cena brasileira, para a alegria dos fãs, foi fecunda, em quantidade e em qualidade, em lançamentos.
Indo direto ao ponto: o melhor lançamento de 2022 foi, para mim, o álbum For a better world, do Twilight Aura.
Aos primórdios de sua existência (no início dos anos 90), a banda, nascida na cidade de São Paulo, atendia apenas pelo nome de Twilight. Lançou, em 1995, o álbum de estreia Watching the Sky e, após considerável hiato, o conjunto deu vida, em 2022, ao full-length intitulado For a Better World, agora já sob o nome completo de Twilight Aura.
Àqueles que não estão familiarizados com o conjunto, o Twilight Aura é a banda de André Bastos, músico que figurou brevemente na formação do Angra, em seus primórdios – entre os anos de 1991 e 1992 –, ocupando a função de guitarrista e, ainda, assumindo os backing vocals.
Também para situar: atualmente, o Twilight Aura conta, na posição de vocalista, da exímia Daísa Munhoz, que canta no Vandroya (e que já participou do projeto de metal opera brasileiro Soulspell).
For a Better World, do Twilight Aura, impressiona logo na primeira audição. A música entregue ao ouvinte é estruturada na linha do power metal, mas desfila por diversos outros subgêneros, sendo notáveis as influências de progressive metal e, em doses mais discretas, de hard rock e, até mesmo, de thrash metal.
A produção é limpa e nítida, permitindo ao ouvinte a experiência de degustar, com clareza, de cada instrumento e dos vocais.
As canções são contagiantes, daquelas que cativam logo às primeiras notas e permanecem ecoando aos ouvidos espectador-ouvinte, uma vez findas as faixas. Aqui, o termo pegajoso alcança a acepção mais positiva do termo, estimulando o ouvinte a repetir a audição por tantas outras vezes.
Caracterizar For a Better World como homogêneo representa elogio valoroso, no melhor dos sentidos. É dizer, com induvidoso acerto, que o material preserva qualidade de alto nível ao longo de toda a audição.
Há faixas mais rápidas e agressivas, com alguns potentes vocais masculinos, a exemplo de Living Is More than Surviving e de Prayer (essa última, não tão rápida, mas bastante pesada).
De todo modo, o comando das vozes é predominantemente capitaneado por Daísa Munhoz, que, com surpreendente versatilidade, alterna, hábil e tecnicamente, estilos mais suaves de canto com impostações mais agressivas e intensas, a depender do que a canção exige.
Em resumo, o ouvinte encontrará, em For a Better World, momentos de leveza e delicadeza e, noutros, explosões sonoras com maior potência e agressividade, preservando-se sempre, porém, o caráter melodioso e técnico das composições.
For a Better World foi maturado num caldeirão de diversas influências, predominantemente estruturadas nas raízes do power metal, mas o álbum flerta por outros subgêneros, já citados, conferindo consistência e identidade ao resultado alcançado.
Audição altamente prazerosa. Vale a pena conhecer todo o material. De todo modo, apenas para citar uma faixa que, por certo, cativará o ouvinte logo na primeira audição, convidando-o a conhecer integralmente o material, menciono a canção Sunlight , cuja audição convido, desde logo.
Por fim, uma menção honrosa a Shouting in the Dark, especialmente pelo conceito de sua letra. Ao fundo da canção – aproximadamente em sua metade, precisamente na sua passagem instrumental – há ecos, ao estilo de reportagens, citando claramente o nome de George Floyd, afro-americano morto por estrangulamento numa abordagem policial em 2020 nos Estados Unidos da América. Esse fato alcançou projeção midiática em escala mundial e impulsionou o movimento antirracista Black Lives Matter, existente desde 2013 (fonte: wikipedia).
O conteúdo dos ecos inseridos ao fundo da canção não foi reproduzido no encarte, mas as menções a George Floyd são perfeitamente perceptíveis. Com base nessa informação, a completa compreensão da letra de Shouting in the Dark é facilmente captada e representa uma contundente declaração da banda em prol de iniciativas e movimentos antirracistas. Transcrevo a letra, cujo conteúdo, uma vez ciente o seu contexto e finalidade, merece ser conhecido e divulgado:
"You’re not alone, we’re here right now
United against the challenges ahead
No longer can we allow to
Ignore all these issues as they spread
How did we lose sight of it?
We must change this systems for us to progress
You heard them: "I can't breathe"
Their unheard cries are still not addressed
What do I see today?
The start of the change but still so far away, so far away
We’re raising our voices
We’ll continue to be this loud
It’s time to make our choices
Either we’re all in or we’re out
We’re trying to repair
Those mistakes that stain our past
Still, it’s so unfair
Look around you can see all the contrast
But it seems that I still have to explain
Opportunities are never the same, it’s a shame, a rigged game
We’re shouting in the dark
Justice will be our end game
We’re crying in the night
It’s time to put an end to this shame
We’re shouting in the dark
We’ll be sure that change is here to stay
We’re crying in the night
The world will never be the same
The treatment is different that's for real, that's for sure
By most of those who should make us feel secure, so we are
Shouting in the dark
Justice will be our end game
We’re crying in the night
It’s time to put an end to this shame
We’re shouting in the dark
We’ll be sure that change is here to stay
We’re crying in the night
The world will never be the same"
Parabéns à banda pela adoção de postura clara e incisiva em tema tão sensível, com letra que contém declaração firme na defesa de grupos inseridos na órbita da vulnerabilidade social.
Eis, em síntese, meus apontamentos sobre For a Better World, que é, para mim, o melhor álbum lançado em 2022.
A todos, uma boa audição.
Deixo registrada, por fim, minha lista particular dos dez melhores lançados em 2022:
Twilight Aura – For a better world.
Caravellus – Inter Mundos.
Deep Memories – Why do we suffer?
Kreator – Hate über alles.
Saxon – Carpe Diem.
H.E.A.T - Force majeure.
Skid Row – The Gang’s All Here.
As Dramatic Homage – Symbolic.
Ratos de porão – Necropolítica .
Low Levels of Serotonin – In the Entrails of My Mind.
Alguns álbuns recentes não figuraram nessa lista, uma vez que os respectivos lançamentos são anteriores ao ano de 2022. De todo modo, consigno algumas menções honrosas, todas elas dignas de atenta audição (sem qualquer ordem de preferência):
Aquaria – Alethea (um dos maiores primores do metal nacional que ouvi recentemente);
Anderuvius – Painter of the universe;
XFears – The first;
Ego Absence – Serpent’s Tongue;
Rage in my eyes – Spiral;
Living Metal – Do You Believe in Steel?
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