Edu Falaschi: no topo novamente com "Vera Cruz"
Resenha - Vera Cruz - Edu Falaschi
Por Frederico Santos
Postado em 24 de maio de 2021
Nota: 10
Quando Edu Falaschi iniciou em meados de 2020 a divulgação das primeiras informações sobre o desenvolvimento de um primeiro álbum solo muitas questões rapidamente surgiram entre os fãs do gênero. Seria um álbum temático ou algo que lembrasse suas bandas anteriores? Algo inédito para o gênero ou para a carreira do cantor? Com o auxílio da internet vários vídeos seguintes comprovaram o que já era uma quase (e bem vinda) certeza: o trabalho tinha grandes chances de seguir a linha melódica de criações anteriores do mestre, fosse ou não baseado em seus dias de Angra ou Almah. E agora, poucos meses depois de pipocarem as primeiras informações, temos o resultado final com "Vera Cruz", seu tão aguardado primeiro álbum solo que, dadas as devidas proporções, certamente é o debut necessário para que Edu tenha uma extensa lista de próximos e fantásticos trabalhos.
O álbum é conceitual e narra a história de um jovem destinado a dizimar o legado de terror causado por uma seita pagã em Portugal na idade média, simultaneamente ao período em que o Brasil foi descoberto pelos Portugueses. Ao longo de sua jornada ele terá que lidar com questões envolvendo medo, confiança, sabedoria, honestidade e altruísmo, em uma história tão rica em detalhes que não pode simplesmente ser lida e digerida em um primeiro momento, sendo necessárias várias audições para que todo o contexto possa ser compreendido em seus mínimos detalhes.
A epopéia do álbum se inicia com a introdução "Burden", um rápido epílogo onde nos são apresentados com um breve resumo todos os elementos que permearão todo o resto da história. "Kill the ancestry!" é a frase proferida por um dos personagens da trama ao final dessa introdução e é justamente a frase de ponte para a faixa de abertura, "The Ancestry", um verdadeiro espancamento sonoro em forma de música! Um Power Metal extremamente intrincado e pesado que já deixa o ouvinte completamente atordoado e perfeitamente adaptado para o que virá durante o restante do álbum. Os guitarristas Roberto Barros e Diogo Mafra aqui já entregam uma performance simplesmente magnífica, com um desfile de harmonias e palhetadas sweep que com certeza fará muitos guitarristas suarem a camisa para reproduzir com perfeição todas as notas milimetricamente aqui executadas. Comparações serão inevitáveis já nesse primeiro momento com vários pontos chave da carreira do Angra, a banda onde Edu permaneceu por mais de dez anos e ajudou a criar diversos arranjos de músicas hoje clássicas. Muitos automaticamente farão ligações imediatas com os tempos áureos de sua antiga banda, especialmente no que diz respeito ao período onde o álbum "Temple Of Shadows" predominou e alcançou o status de cult, o que pode gerar pontos dissonantes de compreensão que podem soar equivocados dependendo da conclusão alcançada. Mas mesmo para essas pessoas há uma resposta mais do que satisfatória: sim, o álbum não possui somente uma, mas DUAS músicas no padrão Speed Metal de "Spread Your Fire", sendo essa faixa inicial uma delas e ao longo do texto vocês saberão exatamente onde está essa segunda música.
A viagem prossegue logo em seguida com "Sea Of Uncertainties", outro Power Metal incrivelmente bem trabalhado que mantém o nível do álbum lá em cima. Cabe aqui um adendo latente e que será facilmente constatado por todos: as faixas seguirão com refrões imponentes e grandiosos e isso se mostra uma verdade inquestionável e grandiosa durante toda a execução do play!
Falaschi sempre mostrou um talento diferenciado na hora de compor baladas e aqui não poderia ser diferente. "Skies In Your Eyes", a faixa seguinte, pisa no freio positivamente para inserir o ouvinte em uma bela melodia emotiva e cativante e que certamente será entoada em uníssono pelo público durante sua execução nos shows da banda. A rápida introdução seguinte, "Frol De La Mar", é o gatilho para a veloz e imponente "Crosses", com seu refrão épico e grudento e uma interpretação certeira do cantor. Aquiles Priester aqui volta a pisar no acelerador sem escassez, nos presenteando enfim com a segunda candidata a "Spread Your Fire" do disco. Aliás esse cidadão será ovacionado de maneira justa em uma parte do texto dedicada exclusivamente a ele, pois sua performance aqui simplesmente excede a perfeição.
Eis que a música seguinte entoa o grito proferido por Pedro Álvares Cabral ao vislumbrar pela primeira vez a ilha que dá título ao álbum. "Land Ahoy" (terra à vista) é a faixa seguinte e a responsável por nos inserir, com seus nove minutos, por completo no universo de descobrimento da ilha que batiza o álbum. A banda nos presenteia aqui com um classudo desfile de inspiração e técnica por parte de todos os seus integrantes. A música, praticamente Prog Metal, possui arranjos e corais complexos que proporcionam uma experiência única para o ouvinte e acerta em cheio na proposta de apresentar aos personagens da história um universo ao mesmo tempo rico e repleto de incertezas. Instrumentos e ritmos brasileiros aqui são abundantes e atuam de maneira fenomenal para dar o clima ideal para que o ouvinte desfrute da mesma sensação de descoberta que os personagens têm. Todos os músicos aqui brilham e o resultado é realmente algo digno de ser alcançado somente por quem entende de fato a manha do negócio.
A faixa seguinte é a cadenciada e robusta "Fire With Fire", onde Fábio Laguna desfila sua maestria e técnica com teclados impactantes e não menos que épicos! Uma faixa pesada e melódica na medida certa, com uma interpretação magistral de Falaschi e um final simplesmente apoteótico. Só que a cadência dura pouco mais de seis minutos, pois "Mirror Of Delusion" já chega chutando a porta novamente convocando o ouvinte a enfiar o pé no acelerador sem olhar para o retrovisor! As guitarras e o baixo de Raphael Dafras aqui por pouco não soltam faíscas e, juntamente com a bateria de Aquiles Priester, proporcionam um duelo de instrumentos que certamente deixará os ouvintes de queixo caído. A quase balada "Bonfire Of The Vanities" é a faixa seguinte, também um pouco mais cadenciada que as demais mas com um belíssimo instrumental que não deixa por menos e não permite que a peteca caia.
Pois é caro leitor, se você chegou até aqui você já percebeu que estamos diante de um trabalho rico em referências históricas e melódico com a exatidão que é solicitada. Mas prepare-se, pois o que vem a seguir é algo simplesmente de outro planeta! Uma bela introdução em tom aventuresco tem início e isso pode até enganar os desavisados mas não se engane: esteja sentado quando a bateria de Aquiles Priester der seus primeiros sinais de vida! Pois é em "Face Of The Storm" que o álbum atinge seu clímax e abandona de vez a veia melódica que mantinha predominante até então, abraçando sem ressalvas o Thrash Metal de uma maneira estupidamente insana! A melodia da faixa aqui é relegada unicamente ao pré-refrão e ao refrão propriamente dito, já que são cantadas por Falaschi com a competência de sempre. Mas o grande destaque aqui é unicamente a parte gutural dos vocais, que necessitam transmitir a sensação de caos e desordem que o contexto da história pede. Entretanto ainda assim o que Max Cavalera faz aqui é simplesmente desumano: seu vocal gutural praticamente tranforma a faixa em um UFC de notas sonoras! É disparada a faixa mais brutal do disco, com uma fúria técnica poucas vezes vista na carreira solo de Edu e até mesmo no metal nacional. A rispidez de sua interpretação assusta e é tamanha que muda completamente e positivamente a concepção do trabalho que tínhamos até então.
Passado o massacre sonoro anterior eis que o trabalho atinge seu ponto final e decisivo com "Rainha do Luar", uma excepcional balada que facilmente levará o ouvinte às lágrimas. Contando com um dueto simplesmente divino entre Edu Falaschi e Elba Ramalho a faixa te pega pela mão e o conduz a um oceano de leveza e sentimentos, pontuados por um instrumental coeso e cativante que apenas engrandece ainda mais a canção. A interpretação de Elba aqui beira o angelical e é praticamente impossível não se comover com suas linhas vocais suaves e musicalidade que representam tão bem a identidade cultural do povo brasileiro. O desafio aqui é tentar não se emocionar ao ouví-la praticamente rezar a canção e transformá-la em uma das mais belas poesias sonoras já compostas nos últimos tempos, o que é praticamente impossível.
- Edu Falaschi, após diversas entrevistas, posts e Vlogs, prometeu e cumpriu: seu primeiro álbum solo é simplesmente magistral! Desde a concepção lírica até o desenvolvimento das músicas o resultado aqui é não menos que grandioso. A mescla de faixas extremamente energéticas com baladas pontuais mostra-se novamente um acerto em sua carreira e já pavimentam as bases para seus futuros trabalhos solo. Sim, após o sucesso de "Vera Cruz" eles certamente virão!
- Roberto Barros e Diogo Mafra estão simplesmente incendiários aqui! Suas guitarras ocupam todos os espaços possíveis e ambos brilham e desfilam uma técnica invejável nas seis cordas para dar vida a toda a batalha melódica que permeia o trabalho. Harmonias furiosamente velozes, como a que compõe uma parte do solo de
"Face Of The Storm", dão a tônica do play e certamente já são referência para futuros trabalhos da carreira solo de Edu.
- Raphael Dafras quase faz seu Baixo aqui pedir perdão por qualquer pecado cometido pois suas linhas estão incrivelmente velozes e firmes. Acompanhar o festival de BPM's acima de 180 não é tarefa das mais fáceis para qualquer músico, especialmente para um baixista, e nesse aspecto ele dá um show! A pulsação que pode ser sentida nas músicas mais rápidas do álbum merece nota máxima e o torna, também, parte indispensável dos próximos trabalhos de Falaschi.
- Fábio Laguna prova aqui mais uma vez que o metal melódico e até mesmo o Power Metal não seriam os mesmos sem a adição de teclados classudos aptos a criar climas irresistíveis e fascinantes para qualquer composição para esse estilo. Assim como Jens Johansson do Stratovarius ou Alex Staropoli do Rhapsody Of Fire Laguna se firma como um dos mais importantes e talentosos tecladistas nacionais e internacionais e aqui seu nome novamente é elevado aos patamares mais altos dentre os músicos do estilo.
[an error occurred while processing this directive]- Mas nada disso seria possível se não houvesse um baterista que provasse ser o nome ideal para comandar as baquetas em músicas tão complexas e velozes e, convenhamos, nisso Aquiles Priester é craque! Sua performance nesse trabalho é de deixar qualquer fã do instrumento ou até mesmo bateristas profissionais impressionados: sua técnica aqui chega a ser absurda de tão precisa! Alternando partes de relativa tranquilidade com outros de brutalidade sem igual há momentos em que seus bumbos duplos alcançam velocidades humanamente possíveis somente com horas e horas de treino e dedicação. Aqui ele novamente prova ser merecedor do título de melhor baterista de metal nacional, já conquistado por ele em diversas ocasiões, e um dos maiores e melhores do mundo. Cada nota na caixa, tons e bumbos é executada com uma precisão cirúrgica alcançável somente por quem é um perito no instrumento.
"Vera Cruz" se firma com isso como o primeiro passo de uma vindoura e bem vinda carreira solo de Edu Falaschi. Após tantos momentos de incerteza quanto a seu futuro musical somos presenteados de sua parte com um trabalho de altíssimo nível e definitivamente com personalidade própria. Seu talento refinado mostra que mais projetos com temática similar podem ser criados para continuar nos proporcionando vivenciar futuras histórias metálicas que permaneçam para sempre na mente e no coração dos fãs.
Músicos:
Edu Falaschi - Vocais
Roberto Barros - Guitarra
Diogo Mafra - Guitarra
Raphael Dafras - Baixo
Fábio Laguna - Teclados
Aquiles Priester - Bateria
Tracklist de "Vera Cruz":
01 – Burden
02 – The Ancestry
03 – Sea Of Uncertainties
04 – Skies In Your Eyes
05 – Frol De La Mar
06 – Crosses
07 – Land Ahoy
08 – Fire With Fire
09 – Mirror Of Delusion
10 – Bonfire Of The Vanities
11 – Face Of The Storm (feat. Max Cavalera)
12 – Rainha do Luar (feat. Elba Ramalho)
Ano de Lançamento: 2021
Gravadora: MS Metal Records
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