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Ratos de Porão: o primeiro disco de uma banda punk no Brasil

Resenha - Crucificados pelo Sistema - Ratos de Porão

Por Daniel Abreu
Postado em 04 de outubro de 2019

Nota: 10 starstarstarstarstarstarstarstarstarstar

Para quem conhece um pouco da história da música, o marco inicial do movimento punk foi na segunda metade dos anos setenta. Já em terras tupiniquins, muito antes da "era das redes antissociais", os primeiros discos de punk começaram a chegar no fim daquela década e no começo dos anos oitenta.

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Quando Johnny Rotten estava moldando o som do pós-punk com o PIL (Public Image Ltd.), uma molecada por aqui estava descobrindo a estreia da sua antiga banda, os Sex Pistols.

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Existe uma discussão onde o movimento punk começou aqui no Brasil. Alguns dizem em Brasília, outros dizem na periferia de São Paulo. O único consenso é que o primeiro disco de uma banda punk foi lançado em 1984 pelo Ratos de Porão.

Este ano Crucificados pelo Sistema completa nada mais, nada menos do que 35 anos.

Formado em 1981, o Ratos entraria em estúdio na rua Augusta com João Gordo nos vocais, Jão na bateria, Jabá no baixo e Mingau na guitarra para gravar a estreia da banda. Um marco na história do punk mundial.

Com menos do que 20 minutos de pura agressividade juvenil e letras de um alto grau de realidade social brasileira, ele foi lançado pela Punk Rock Discos em uma época em que os engenheiros de som estavam acostumados a gravar MPB. Guitarra distorcida era algo de outro planeta.

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Sim, o disco é tosco e mal gravado, porém isso também o faz uma obra de arte da música nacional. É uma marca de uma época.

Composto por 16 músicas, o Ratos já mostrava um dom para gravar músicas de contestação social e que continuam atuais. Como não olhar as ruas do centro de São Paulo e das grandes capitais e não se lembrar de "Pobreza" ("olhe a pobreza desse mundo desumano"). Ou o jeito violento que muitas vezes as forças policiais utilizam contra os cidadãos e não pensar no hino "Agressão/Repressão" ("é preciso mudar o sistema policial porque eles estão matando a pau gente inocente").

O som é claramente influenciado pelas bandas de fora. São quatro moleques tentando ser tão rápidos e agressivos quando o Minor Threat de Ian Mackaye. A guitarra suja é algo lindo de se ouvir!

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A formação que gravou o Crucificados iria durar apenas esse disco. Com a saída de Mingau, Jão sairia dos fundos para assumir a guitarra e o Ratos iria seguir uma linha mais metal, crossover, nos próximos anos. Isso iria até gerar um estigma que dura até hoje, na minha opinião injusta, de traidores do movimento. Mas isso é papo para uma outra hora.

O que importa é que Crucificados pelo Sistema continua um disco incrível e que influenciou diversas bandas no Brasil e no mundo. Vale a pena dar uma olhada no DVD lançado em 2014 em que os quatro membros que gravaram essa tosqueira tocaram ele na íntegra no palco do Circo Voador no Rio de Janeiro. Como João Gordo disse: "Não morreu ninguém!"

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Faixas:
Lado A
1. "Morrer"
2. "Caos"
3. "Guerra Desumana"
4. "Agressão/Repressão"
5. "Obrigado a Obedecer"
6. "Asas da Vingança"
7. "Que Vergonha!"
8. "Poluição Atômica"
Lado B
1. "Pobreza"
2. "F.M.I."
3. "Só Pensa em Matar"
4. "Sistema de Protesto"
5. "Não Me Importo"
6. "Periferia"
7. "Crucificados pelo Sistema"
8. "Corrupção"


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Sobre Daniel Abreu

Jornalista formado pela Universidade Paulista (UNIP). Apaixonado por cultura desde moleque, começou a escrever sobre música na internet em 2014. Anos depois fundou o Literatura do Rock no Instagram, Facebook e Youtube, tratando apenas de livros sobre rock. Em 2019 fundou o Geleia Mecânica com a proposta de falar sobre cinema, arte e, principalmente, música da melhor qualidade. Atualmente, trabalha com levantamento de dados na Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Também é redator do Whiplash.Net, o maior site de rock e heavy metal do Brasil.
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