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Raimundos Acústico: Identidade renovada

Resenha - Acústico - Raimundos

Por Luis Fernando Ribeiro
Postado em 30 de abril de 2017

Nota: 9 starstarstarstarstarstarstarstarstar

Eu poderia começar essa resenha falando que há cerca de dezesseis anos o front-man do RAIMUNDOS, Rodolfo Abrantes, deixava a banda e iniciava-se assim um declive acentuado na carreira do quarteto brasiliense, colocando-os quase no underground do Rock Nacional novamente, mas estamos aqui para falar exatamente do contrário, afinal, nesse novo disco a banda enterra um passado de glórias e fracassos para iniciar um novo tempo de colheita dos frutos de trabalho duro e entrega para a música.

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Vinte e três anos depois do lançamento do debut "Raimundos", de 1994, a banda teve a capacidade de se reinventar, dando à luz a um disco que, apesar de desfilar clássicos já conhecidos por todos os fãs da banda, mostra uma banda com uma capacidade de renovação incrível e uma liberdade musical poucas vezes vista em um cenário tão pacato e quadrado quanto o do Rock brasileiro na atualidade.

Gravado na cidade de Curitiba em novembro de 2016, no Teatro Positivo para cerca de 4.000 espectadores de todas as idades, "Raimundos Acústico", ou "O Verdinho", como a banda vem anunciando, foi disponibilizado no último dia 28 de Abril em serviços de Streaming e no próximo mês deve ganhar formato físico em CD e DVD.

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Se em "Kavookavala" a banda ainda se mostrava meio perdida com a nova formação, apesar de algumas boas composições, em "Cantigas de Garagem", os RAIMUNDOS voltaram à posição de onde nunca deveria ter saído, reassumindo seu posto de maior banda de Rock Nacional da atualidade. "Raimundos Acústico" apresenta uma banda madura, muito mais técnica e segura, dando vida nova a antigos clássicos e aos petardos de seu álbum mais recente, englobando músicas de todos os seus discos de estúdio (Se você não considerar "Éramos 4" entre eles).

Todas as músicas ganharam novos e belos arranjos, contando com, além dos instrumentos acústicos executados pelos membros da própria banda, a presença de violinos, cellos, teclado, piano, acordeão, percussão e metais. Em algumas canções chega a soar cômico a mescla entre o instrumental e arranjos belíssimos com as letras escrachadas e cheias de palavrões. Porém, dado o humor e sarcasmo da banda, a intenção, muito provavelmente, deve ter sido exatamente essa.

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No mesmo dia em que lançam "Raimundos Acústico" tive a oportunidade de assistir a um show no formato tradicional da banda em um festival na minha cidade, Florianópolis, o que fez com que a intensidade dessas palavras pesassem ainda mais e deixando a expectativa por muitos outros excelentes materiais que a banda venha a lançar no futuro, afinal, como todo mundo sabe "O Raimundos nunca vai se acabar".

A primeira faixa a ser liberada em áudio e vídeo foi "Bonita", causando grande expectativa pelo lançamento do disco. Se a música já era bonita (Com o perdão do trocadilho) em sua versão original, ficou ainda mais profunda e tocante com as belíssimas intervenções dos metais e teclados e com destaque para o vocal de Digão, que vem evoluindo cada vez mais nessa função que assumiu desde a saída de Rodolfo, imprimindo uma beleza sutil à canção.

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O disco abre com "Gordelícia", faixa do mais recente álbum de estúdio e material de trabalho da banda em rádios e demais mídias. A música já contava com arranjos de metais, então ficou bastante parecida com a original, porém mostrando-se ainda mais divertida e dançante com a adição de teclados, percussão e instrumentos acústicos. Logo em seguida a execução primeiro clássico do disco, "Palhas do Coqueiro", outra que ficou divertidíssima e em que os metais caíram maravilhosamente bem, em especial no tradicional "Pa Pa Pa Pa", contando com intensa participação da plateia.

"O Pão da minha prima" é a primeira a ganhar uma roupagem totalmente nova. Canisso e Caio ditam o ritmo totalmente dançante de uma das mais animadas de todo o disco e com um medley sensacional com a clássica Mokey Man (Toots & The Maytals), com destaque para os teclados e ótimos backing vocals em coro. "Papeau nuky doe", a única do "Cesta Básica" segue a linha das anteriores e ficou ainda mais legal que a versão original, me fazendo pensar que é praticamente impossível que a plateia presente no Teatro Positivo tenha assistido ao show sentada, dado o ritmo contagiante que essa releitura deu às músicas.

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"Rapante" originalmente bastante pesada e agressiva manteve essa veia e mesmo nos instrumentos acústicos, os riffs mais encorpados ainda convidam o ouvinte a "bater cabeça" no ritmo da música. Os destaques ficam para o belíssimo solo de acordeão mais ao meio e suas intervenções precisas em vários trechos da música, assim como os riffs, que mantiveram sua propriedade original mesmo nos violões. A sequência de clássicos da velha escola ainda conta com "Sereia da Pedreira", já explorada outrora no formato acústico pela banda, mas agora num ritmo mais adequado e mais cadenciado.

"El Mariachi" do "Kavookavala" mantém o ritmo da sua original, com destaque para a interpretação magnifica de Digão e dos vocais de apoio. Algumas passagens próximas ao Reggae e Ska dão um charme extra à essa que ficou entra as mais belas canções do disco.

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A clássica "Nega Jurema" definitivamente não tem riffs feitos para o formato acústico, mas ainda assim funciona muito bem, em especial quando flerta com o forró e convida a dançar a tradicional música nordestina, tão presente na história da banda.

Em "I saw you say (That you say that you saw)" chegamos em outro dos pontos altos do disco, numa versão bem mais lenta, intimista e absolutamente bela com arranjos de violino, cello e piano (A cargo de Rick Campos, filho do vocalista Digão) com participação novamente e inevitavelmente intensa da plateia, em especial após o término da música, quando Digão e Canisso convidam o público a cantar a capella, num momento emocionante.

"Bê a Bá" que é já era sombria e tensa em sua versão original ficou absolutamente soturna em sua nova e excelente versão, quase macabra. Nas partes mais pesadas e cadenciadas, mantém o peso apesar do formato acústico. Absolutamente tensa e épica.

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Com a participação de Dinho Ouro Preto (Capital Inicial) "Mulher de Fases" (que costuma ser executada nos shows da banda de Dinho) ganhou uma versão que horas flerta com o reggae, horas mantém sua veia original no rock, convidando a plateia a cantar em uníssono esse que é um dos maiores hits da carreira da banda. Ao final da canção, o tradicional momento de luzes apagadas e celulares acesso proporcionam um belo momento que poderá ser apreciado no DVD a ser lançado em breve.

Na sequência, seguindo a linha de "Bê a Bá", "Mas vó", apesar de passagens na levada do Reggae e do Ska, é absurdamente carregada e soturna, tal qual sua bela e forte letra. A música é uma das poucas de "Kavookala" que a banda ainda executa em seus set lists com certa regularidade.

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Mudando da água para o vinho "Dubmundos" devolve o ritmo pulsante ao disco, novamente com belíssima presença dos metais e acordeão. Nessa música, os trechos originalmente cantados por Sen Dog (Cypress Hill) foram interpretados pelos rappers do Oriente, com a letra agora em português e excelentes rimas. "Bonita" e "Opa, Peraí, Caceta" mantém o show animado com excelentes versões na mesma linha da anterior.

Em "Baculejo" do último disco e no hit "A mais pedida" temos a inusitada participação de Ivete Sangalo com sua voz potente, que combinou absolutamente na primeira canção, mas ficou um pouco deslocada na segunda, não fechando muito com a proposta original da canção, executada por Érika Martins, da banda Penélope. Não obstante, ambas receberam uma nova roupagem com maestria tal como todas as demais canções do disco, sendo "Baculejo" uma das mais bonitas do álbum e também uma das melhores presentes em "Cantigas de Roda".

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"Reggae do maneiro" passeia por vários gêneros, mas provavelmente só deu o ar da graça no set list devido a sua popularidade. Ainda assim, soa divertida e tem o refrão cantado a plenos pulmões pela plateia.
Fred Castro, baterista original da banda é a participação especial nas faixas seguintes, "Cintura Fina" que arranca lágrimas dos fãs mais tradicionais não acostumados a vê-la presente no repertório e a épica e hilária versão de "Selim", que ao ser ouvida por alguém que não tenha compreensão da língua portuguesa, poderia facilmente ter uma impressão absolutamente diferente do conteúdo da canção. Ambas as músicas foram originalmente executadas pelo baterista Fred no disco de estreia da banda, sendo "Selim" o primeiro single de sucesso do RAIMUNDOS. Outra participação fica por conta de Alexandre Carlo, da banda Natiruts, que ao lado de Black Alien já havia participado da versão original de "Deixa eu Falar", presente no disco "Só no Forevis". Essa música tem um momento espetacular em seu solo, ao qual eu acredito ter sido feito com uma cítara, seja ela tocada originalmente ou sampleada.

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Mantendo o nível alto das participações especiais, Marcão (Charlie Brown Jr.) faz parte da belíssima e emocionante homenagem ao CBJR em "Lugar ao Sol". O músico já vinha participando do disco tocando violão, mas nessa faixa fica responsável por parte dos vocais também. "Me Lambe" é outra a ganhar uma roupagem Reggae/Ska começa lenta, mas ganha velocidade e ritmo no seu desenvolvimento.

Encerram o disco as clássicas "Puteiro em João Pessoa", "Esporrei na Manivela" e "Eu quero ver o oco", que se não ficam tão distantes de suas versões originais, não poderiam de maneira alguma ficar fora do set list.

Inevitavelmente para uma banda com a quantidade de clássicos que tem o RAIMUNDOS, muitas músicas importantes acabam ficando de fora, algumas por talvez não combinarem com o formato, outras por não caberem no repertório mesmo, tais quais "Tora Tora", "Baile Funky", "Bestinha", "Pintando no Kombão", "Tá querendo desquitar", "Marujo", "Andar na Pedra", "Pequena Raimunda", "Carrão de Dois", entre tantas outras. Mas que indecisão boa essa, ter que descartar músicas por ter excesso de canções consagradas.

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Falar dos músicos do RAIMUNDOS é chover no molhado, Digão e Canisso seguem sendo sensacionais e conduzem a banda com maestria, já Marquim e Caio mostram cada vez mais que foram as escolhas acertadas para reerguer a banda nessa nova fase, sendo deveras superiores em técnica e carisma que seus antecessores em seus respectivos postos na banda. Completam o time Marco Britto (Violão), Jorge Bittar (Piano/Teclado), Renato Azambuja (Percussão), Felippe Pipeta (Trompete), Pedro Vithor (Sax Barítono), Will (Trombone), Alexandre Brasolim (Violino), Juliane Weingartner (Violino), Péricles Gomes (Cello) e Samuel Pessatti (Cello).

Os fãs mais xiitas e que esperam aqui um disco mais do mesmo, podem passar longe. Mas aqueles que estão abertos a ver uma banda que soube se reinventar com liberdade e criatividade, terão, assim como eu, horas e mais horas de diversão, afinal, o disco está tocando na minha casa e carro desde a sexta-feira de seu lançamento de forma incessante.

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Tu quer é rock, mininu? Isso aqui é rock sim!

Set List CD:
1 – Gordelícia [Disco Original: Cantigas de Garagem]
2 – Palhas do Coqueiro [Disco Original: Raimundos]
3 – O Pão da Minha Prima [Disco Original: Lavô Tá Novo]
4 – Papeau Nuky Doe [Disco Original: Cesta Básica]
5 – Rapante [Disco Original: Raimundos]
6 – Sereia da Pedreira [Disco Original: Lavô Tá Novo]
7 – El Mariachi [Disco Original: Kavookavala]
8 – Nega Jurema [Disco Original: Raimundos]
9 - I Saw You Saying (That You Say That You Saw) [Disco Original: Lavô Tá Novo]
10 – Bê a Bá [Disco Original: Raimundos]
11 – Mulher de Fases [Disco Original: Só No Forévis]
12 – Mas Vó... [Disco Original: Kavookavala]
13 – Dubmundos [Disco Original: Cantigas de Garagem]
14 – Bonita [Disco Original: Lapadas do Povo]
15 – Opa! Peraí, Caceta [Disco Original: Lavô Tá Novo]
16 – Baculejo [Disco Original: Cantigas de Garagem]
17 – A Mais Pedida [Disco Original: Só No Forévis]
18 – Selim [Disco Original: Raimundos]
19 – Reggae do Manero [Disco Original: MTV Ao Vivo]
20 - Cintura Fina [Disco Original: Raimundos]
21 – Cera Quente [Disco Original: Cantigas de Garagem]
22 – Deixa eu Falar [Disco Original: Só No Forévis]
23 – Lugar ao Sol [Charlie Brown Júnior]
24 – Me Lambe [Disco Original: Só No Forévis]
25 – Puteiro em João Pessoa [Disco Original: Raimundos]
26 – Esporrei na Manivela [Disco Original: Lavô Tá Novo]
27 – Eu Quero Ver o Oco [Disco Original: Lavô Tá Novo]

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Sobre Luis Fernando Ribeiro

Apaixonado por música, cinema, escrita, literatura e pela zoeira infinita. Inserido no mundo da música pesada em 2004 com Destruction, Metallica e Blind Guardian, quando ainda se compartilhava música através de fitas K7.
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