Ibibio Sound Machine: ritmos africanos com pós-punk e eletrônica
Resenha - Uyai - Ibibio Sound Machine
Por Roberto Rillo Bíscaro
Postado em 27 de março de 2017
Nota: 8 ![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
Ibibio é a língua do povo de mesmo nome que vive na Nigéria. Entre 1,5 e 2 milhões de pessoas falam ibibio, dentre elas Eno Williams, cantora nascida em Londres, mas de origem nigeriana. Quando criança, na Nigéria, sua família contava-lhe estórias do folclore ibibio, as quais Williams usa nas letras do Ibibio Sound Machine, cantadas em sua maioria na língua de seus ancestrais.
Em época de radicalização nacionalista, o Ibibio Sound Machine é tapa na cara utópico na torpeza Trump. Trata-se dum coletivo multinacional formado por Eno Williams (vocais); Alfred Kari Bannerman (guitarra), de Gana; Anselmo Netto (percussão), do Brasil; Jose Joyette (bateria), de Trindade; Max Grunhard (saxofone e sintetizadores), da Austrália e pelos britânicos John McKenzie (baixo), Tony Hayden (trombone e sintetizadores) e Scott Baylis (trompete e sintetizadores).
Lotados na pós-colonial Londres Brexitosa, o Ibibio Sound Machine (ISM, daqui em diante) estreou com álbum homônimo, em 2014 e no início de março chegou Uyai, dúzia de canções que seguem a tônica de filtrar diversos ritmos e estilos africanos pelo prisma da música eletrônica e da New Wave ou pós-punk. Note a piscada para os anos 80 no nome, muito parecido ao Miami Sound Machine, de Gloria Estefan, que também fundia: pop com ritmos caribenhos. Uyai não soará alienígena nem para fãs da atual M.I.A. nem para veteranos da era do A Certain Ratio ou Quando Quango, porque os rigorosos elementos retrofuturistas são produzidos contemporaneamente.
Give Me A Reason abre Uyai e é súmula de sua beleza (uyai, em ibibio). Gélidos teclados Gary Numan, guitarra que oscila entre funk e rock e base afroeletro pós-punk angulosa. Batuque balouçante da moléstia; África sintética mesclada com diversos subgêneros ocidentais, que, na verdade, vieram de lá. Power Of 3 desloca cadeiras com sua mistura de disco music. Em Joy, a mistura vem com doideira techno, mas o baixo é soturnamente pós-punk; é Joy, mas Division. E é hora do mea culpa do resenhista, que, como tantos brancos ocidentais, percebe mínimas subdivisões de grime e prog rock, mas desconhece o nome de ritmos africanos, prevalentes em seu próprio país.
Em Guide You, brasileiras cuícas coexistem com trompete anárquico de free jazz, teclado de som de videogame e coro e base afroelétricos. Trance Dance tem samba, rock e alguma subdivisão grime. Um dos encantos de Uyai é como instrumentos coincidentes estão operando em convenções dessemelhantes, mas o resultado é convívio animado. Sunray é afro-progressive house com toda a repetição estrutural tanto de música tribal quanto do subgênero eletrônico. Dizem que a música ritual era repetitiva para se atingir o êxtase, com a ajuda de alguma substância alucinógena. Techno seria para alcançar o Ecstasy. E eis que The Pot Is On Fire transporta o ouvinte pralguma rua nova-iorquina ou londrina nos anos 80 com meninos multicoloridos dançando break ao som de Afrika Bambaataa influenciado por Kraftwerk (Telephone Call, do LP Electric Café). E não soa datado, porque repaginado em electro, uma das reencarnações da electronica oitentista.
O forte do ISM são as pauladas dançantes, mas as 3 ou 4 menos rápidas têm produção ambient-etérea e ritmos que as sustentam, mas é inegável que se for pra festar, quebram o clima. Ou, pode-se encará-las como oportunidade de retomar o fôlego. O curioso é que a canção de ninar do LP – literalmente, Lullaby – é midtempo: mamãe dá balançadinha de leve para fazer nenê nanar.
Acostumados a países onde a música africana predomina, certamente sentirão falta de certa malemolência, mascarada pela marcialidade gelo-angulosa do pós-punk ou pela artificialidade da electronica. Mas quem cresceu ao som dos anos 80 e do que veio depois, vai amar.
O Ibibio Sound Machine está no Bandcamp.
https://ibibiosoundmachine.bandcamp.com/
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



O guitarrista preferido de Mark Knopfler, do Dire Straits, e que David Gilmour também idolatra
Bangers Open Air divulga line-up da próxima edição, com In Flames, Fear Factory e Jinjer
Os 11 melhores álbuns de progressivo psicodélico da história, segundo a Loudwire
Nova música do Megadeth desbanca - temporariamente - Taylor Swift no iTunes dos EUA
Nick Holmes diz que há muito lixo no nu metal, mas elogia duas bandas do estilo
O subestimado guitarrista base considerado "um dos maiores de todos" por Dave Mustaine
A banda de forró que se fosse gringa seria considerada de rock, segundo produtora
Brent Hinds - O ícone do heavy metal que não gostava do estilo - nem de conceder entrevistas
Nicko McBrain compartilha lembranças do último show com o Iron Maiden, em São Paulo
Regis Tadeu detona AC/DC e afirma que eles viraram "banda cover de luxo"
As melhores de Ronnie James Dio escolhidas por cinco nomes do rock e metal
Danilo Gentili detona Chaves Metaleiro e o acusa de não devolver o dinheiro
As 3 teorias sobre post enigmático do Angra, segundo especialista em Angraverso
O principal cantor do heavy metal, segundo o guitarrista Kiko Loureiro
A canção proto-punk dos Beatles em que Paul McCartney quis soar como Jimi Hendrix
Max Cavalera elege as cinco músicas que definem a sua carreira
Motley Crue: A primeira impressão de Tommy Lee sobre o Rio de Janeiro
De AC/DC a ZZ Top: Origens dos nomes de bandas e artistas de rock
Trio punk feminino Agravo estreia muito bem em seu EP "Persona Non Grata"
Svnth - Uma viagem diametral por extremos musicais e seus intermédios
Em "Chosen", Glenn Hughes anota outro bom disco no currículo e dá aula de hard rock
Ànv (Eluveitie) - Entre a tradição celta e o metal moderno
Scorpions - A humanidade em contagem regressiva
Soulfly: a chama ainda queima
O disco que "furou a bolha" do heavy metal e vendeu dezenas de milhões de cópias



