The Neal Morse Band: Evolução em relação ao lançamento anterior
Resenha - Similitude of a Dream - Neal Morse
Por Victor de Andrade Lopes
Fonte: Sinfonia de Ideias
Postado em 13 de dezembro de 2016
Nota: 9
Esta resenha é escrita com um mês de atraso e na mesma semana que um dos maiores nomes do rock progressivo nos deixa: Greg Lake (King Crimson; Emerson, Lake and Palmer). Mas a morte dele não me fez apenas lamentar que perdemos mais uma lenda. Fez-me pensar quanta coisa boa as pessoas deixam de curtir por quererem sempre uma cópia do passado.
Uma dessas coisas é The Similitude of a Dream, décimo nono álbum do vocalista, tecladista e guitarrista estadunidense Neal Morse, e o segundo lançado sob o nome The Neal Morse Band - um grupo que junta ele, o lendário baterista Mike Portnoy, o antigo parceiro e baixista Randy George e dois músicos relativamente desconhecidos, mas bastante rodados e habilidosos - o tecladista Bill Hubauer e o guitarrista Eric Gillette.
Este disco, conceitual e baseado no livro The Pilgrim's Progress (John Bunyan), mostra uma evidente evolução em relação ao álbum anterior, The Grand Experiment. Por mais que o lançamento do ano passado já tenha sido feito sob um sistema de banda "de verdade", e não apenas com os membros se adequando às composições de Neal, ele ainda soava como uma obra solo de Neal Morse.
Em The Similitude of a Dream, contudo, a formação soa muito mais entrosada, com uma forte química entre os membros, concedendo-a um ar mais de "Neal Morse e amigos" - sim, a marca Neal Morse ainda é onipresente, ou a banda não levaria seu nome. E depois que você assiste ao making of do álbum, tudo fica mais claro. Dá para ver com clareza a fluência musical que eles demonstraram em estúdio, a maneira como todos estavam bem à vontade sozinhos com seus instrumentos ou gravando em grupo.
O documentário retratou a concepção do álbum de forma tão honesta que até um desentendimento entre Portnoy e Morse foi tornado público - o baterista era contra fazer um disco duplo porque o Dream Theater, sua ex-banda, já havia lançado um trabalho conceitual duplo no começo do ano (The Astonishing) e ele temia comparações. Um medo um tanto tolo - são duas obras musicalmente bem diferentes, lançadas por grupos que não estão exatamente perdendo a virgindade nessa coisa de disco duplo.
Enfim, falemos da música do álbum em si: The Similitude of a Dream justifica sua calorosa recepção pela crítica. Não o colocaria no pedestal de lançamento do ano como alguns estão fazendo, mas é obviamente um discaço, e todo aquele entrosamento enaltecido parágrafos acima resultou em mais de 20 faixas, totalizando quase duas horas de rock.
Elas variam de breves peças leves e acústicas como a abertura "Long Day" e "The Dream" a trabalhos de média duração com riffs mais pesados e instrumentação mais complexa como "City of Destruction", "Draw the Line" e "So Far Gone". Outras faixas trazem seus charmes próprios: o solo de saxofone de Bruce Babad em "Shortcut for Salvation"; os toques country em "Freedom Song"; o solo de baixo em "I'm Runnin"... Sem falar nos instrumentais "Overture", "The Slough" e "The Battle".
Mesmo que você não se identifique com todas, certamente encontrará ao menos algum momento de prazer auditivo neste disco. E a banda faz isso tudo sem perder foco e coesão. Você consegue visualizá-los o tempo todo da maneira que foram retratados no making of: livres, leves e soltos.
Graças a Dio, Mike Portnoy foi vencido pelos outros quatro membros e o álbum rendeu os dois discos que sempre foi destinado a render. E como eu não resenhei The Grand Experiment, aproveito para registrar comentários sobre os dois membros novos da banda:
O tecladista Bill Hubauer acaba um pouco ofuscado por Neal Morse, cujo instrumento principal é o próprio teclado, embora nos clipes deste álbum ela seja mais visto empunhando guitarras ou violões. Mas o trabalho apresentado até aqui dirime qualquer dúvida quanto ao seu talento. Soube criar harmonias e melodias que se encaixaram bem em todas as canções.
O jovem guitarrista Eric Gillette teve relativamente mais destaque. No começo do ano passado, antes mesmo do The Grand Experiment, Portnoy comentou o quanto Eric Gillette se parecia com seu "antigo parceiro de crime" - era uma óbvia referência a John Petrucci, seu ex-colega de Dream Theater. A referência se revelou precisa. A influência que o barbudo exerce sobre Eric é grande - às vezes, grande demais. Em alguns momentos o que se houve é uma tentativa de imitar os dedilhados de Petrucci. O solo de "Breath of Angels", por exemplo, parece uma junção dos solos de "The Best of Times" e "The Ministry of Lost Souls", ambas do Dream Theater. Por outro lado, recai sobre ele grande parte da responsabilidade da qualidade do disco: especialmente por executar bem todos os riffs e por saber casar o som de sua guitarra com os teclados, que sempre desempenham papel fundamental na música de Neal Morse.
Um exemplo de rock progressivo bem feito, um exemplo de trabalho duplo e conceitual. Uma aula de instrumentação e composição. Podemos até discutir se este é o "álbum progressivo do ano". Mas não podemos discutir sua beleza, nem sua qualidade.
Abaixo, o vídeo de "The Man in the Iron Cage":
Track-list:
Disco 1
1. "Long Day"
2. "Overture"
3. "The Dream"
4. "City of Destruction"
5. "We Have Got to Go"
6. "Makes No Sense"
7. "Draw the Line"
8. "The Slough"
9. "Back to the City"
10. "The Ways of a Fool"
11. "So Far Gone"
12. "Breath of Angels"
Disco 2
1. "Slave to Your Mind"
2. "Shortcut to Salvation"
3. "The Man in the Iron Cage"
4. "The Road Called Home"
5. "Sloth"
6. "Freedom Song"
7. "I'm Running"
8. "The Mask"
9. "Confrontation"
10. "The Battle"
11. "Broken Sky/Long Day Reprise"
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