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Opeth: Maior equilíbrio entre o peso e o prog em disco brilhante

Resenha - Sorceress - Opeth

Por Ricardo Seelig
Fonte: Collector's Room
Postado em 06 de outubro de 2016

Em 1968, o Fleetwood Mac surgiu como uma das mais perfeitas expressões do blues inglês. Uma banda jovem, capitaneada pelo vocalista e guitarrista Peter Green, com uma sonoridade refrescante. Uma porta de entrada perfeita para os jovens brancos ingleses se apaixonarem pelo blues nascido nas fazendas de algodão norte-americanas, onde os negros trabalhavam sem parar, dia sim, outro também.

No entanto, Green permaneceu na banda por apenas três discos, saindo em 1971. O Fleetwood Mac passou um par de anos meio sem rumo, até incluir em sua formação, durante o ano de 1974, o guitarrista e vocalista Lindsey Buckingham e a cantora Stevie Nicks. Com a nova formação, o som também mudou, culminando em um soft rock cativante e que ganhou o mundo com o best seller "Rumours" (1977), disco que vendeu mais de 20 milhões de cópias somente nos Estados Unidos.

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Foram dois períodos distintos, com sonoridades bastante diferentes entre si, criadas e desenvolvidas pela mesma banda. Ambas as eras da carreira do Fleetwood Mac são excelentes, e possuem fãs próprios. Uns preferem o período blues, outros a fase pop - e alguns ainda apreciam os dois momentos.

Corta para 2011. Após construir uma longa carreira como um dos nomes mais criativos do metal extremo, a banda sueca Opeth chocou os fãs ao lançar o seu décimo disco, "Heritage". O álbum deixava de lado os vocais guturais típicos do death metal e apostava em uma sonoridade vintage, enormemente influenciada pelo rock progressivo da década de 1970. Saíam o guitarrista Peter Lindgren, o tecladista Per Wiberg e o baterista Martin Lopez, fundamentais na primeira fase da banda, e chegava uma nova trinca de instrumentistas para fazer companhia ao vocalista Mikael Akerfeldt e o baixista Martín Mendez: Fredrik Akesson (guitarra), Joakim Svalberg (teclado) e Martin Axenrot (bateria).

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No lugar do death metal original e inovador da primeira fase - e que, é preciso ficar claro, sempre apresentou influências progressivas -, emergia uma nova sonoridade, totalmente distinta. Menos peso, mais nuances. Menos pancadaria, mais detalhes. Nada de guturais, tudo com vocais limpos. O choque foi enorme.

É preciso entender que o fã de metal, em sua maioria, possui um ouvido bastante conservador. Ele admite, é claro, inovações, mas desde que dentro do ambiente que conhece: o peso, os riffs, a violência sonora. Ao abrir mão disso, toda banda se vê diante de um desafio. E a resistência dos ouvintes é facilmente entendível. O ser humano, e não apenas aquele que ouve heavy metal, é naturalmente resistente à mudança. É difícil para nós, homens e mulheres, abrir mão do que conhecemos, daquilo que torna o nosso ambiente e o nosso cotidiano concreto, amigável e reconhecível. Caminhar por ambientes desconhecidos é sempre desafiador. Porém, é justamente ao entrar em contato com algo novo que aprendemos, experimentamos novas abordagens e conceitos e, consequentemente, nos desenvolvemos.

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O paralelo entre as trajetórias do Fleetwood Mac e do Opeth é interessante pois são situações similares. Exemplos de bandas que tiveram não apenas coragem, mas, sobretudo, talento e criatividade para se reinventarem de maneira radical, trilhando caminhos sonoros inesperados com o mesmo brilhantismo que já haviam apresentado antes.

Se "Heritage" chocou, "Pale Communion" (2014) trouxe um pouco mais de peso para a mistura, em um resultado que manteve o nível do álbum que rompeu com o passado da banda. Já "Sorceress", terceiro capítulo da história desse novo Opeth, surge como o mais sólido e consistente trabalho da segunda fase da banda. Conseguindo um equilíbrio maior entre as influências progressivas e o peso que, afinal, faz parte do seu DNA, a banda sueca gravou um disco que pode ser definido como uma espécie de "stoner prog". A aura pesada é predominante e divide espaço com o sempre presente requinte instrumental, com as decisões criativas dos arranjos e com a bem-vinda variação instrumental, capaz de entregar canções mais agressivas para logo em seguida exibir toda delicadeza instrumental da banda em trechos belíssimos.

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Lançado no dia 30 de setembro pela Nuclear Blast, "Sorceress" foi gravado no Rockfield Studios, no País de Gales. A magia e o clima da milenar região britânica parecem ter inspirado consideravelmente o grupo, que entregou um dos melhores trabalhos de sua longa, e variada, carreira.

"Sorceress" consegue apresentar referências tanto de álbuns anteriores como "Ghost Reveries" (2005) e "Blackwater Park" (2001) quanto explorar as inspirações que ganharam destaque nessa nova fase da carreira dos suecos. O resultado é um disco com uma musicalidade diversa, refletida em excelentes canções que, como convém à tradição da banda, nunca apresentam medo de experimentar. Há influência de ícones da música pesada, notavelmente os primeiros anos do Black Sabbath e do Deep Purple, assim como as faixas acústicas remetem ao clima agradável do terceiro álbum do Led Zeppelin. No meio disso tudo, a veia progressiva surge forte trazendo ecos de King Crimson, Gentle Giant e do Genesis da fase Peter Gabriel. Tudo embalado com um trabalho de composição excepcional. O resultado final é um disco brilhante, e que em certos aspectos parece fruto da união entre "Watershed" (2008) e "Heritage" (2011).

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A conclusão disso tudo leva a fatos bastante claros: alguns irão seguir preferindo a fase death metal do Opeth, enquanto outros se apaixonarão de vez pelo novo momento do grupo. Mas é impossível negar que o que ouvimos em "Sorceress" é algo excepcional, de uma qualidade incrível e que solidifica de vez a escolha do Opeth pelo desenvolvimento de uma nova sonoridade.

Acima de rótulos, períodos ou preferências pessoais, "Sorceress" é um ótimo disco, que recompensa o ouvinte com inúmeros detalhes e gratificantes canções. E, acima de tudo, é o registro mais bem resolvido e consistente desta nova cara mostrada pelos suecos.

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Comente: E você, prefere a fase death metal ou a atual?

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Sobre Ricardo Seelig

Ricardo Seelig é editor da Collectors Room e colabora com o Whiplash.Net desde 2004.
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