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Helloween: Lembranças de um garoto em "Seven Keys" Part II

Resenha - Keeper of the Seven Keys Part II - Helloween

Por Rodrigo Contrera
Postado em 02 de setembro de 2016

Pois então. Vim a saber AGORA o que foi ou é o chamado Power Metal. E como? Por uma navegada no Google, e por uma consultada em Wikipedias e outros tipos de sites. E vim também a descobrir: eu gostava. Por meio de uma banda, a que inaugurou o gênero, a alemã Helloween.

Mas não que eu tenha acompanhado a história da banda desde que eles lançaram a primeira parte desta obra cuja segunda parte eu irei comentar. Não. Eu nunca mais ouvi falar. E, se querem saber, eu nem tinha o CD antes, nem havia pedido para alguém, lá nos idos dos 80, gravar o CD numa fita para mim. Nada. Eu simplesmente me lembro porque uma noite, ouvindo Comando Metal (lembram? ainda existe?), eu gravei o CD quase todo e o usei em seguida como referência como algumas músicas de minha preferência. E essa fita ainda existe, claro. Mas não é ela que irei comentar. Irei comentar o CD inteiro, que comprei bastante tempo depois, quando ainda era casado, e alguns aspectos que ainda nele me atráem, tirando o fato de ele, o CD, ter me revelado de que tipo de rock heavy metal eu gosto, por quê, e em que direção ele avançou, para descansar muito distante de mim (no power sinfônico, sim, mas de forma que ainda preciso aquilatar).

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As Wikipedia da vida informam que esta segunda parte do Keeper, originalmente feita para compor um álbum duplo (que coragem), não foi muito bem considerada pelos "entendidos", por aqueles que conhecem a banda e sabem de sua qualidade. A mim isso não me importa nem um pouco, porque realmente eu comecei ouvindo-a sem ter qualquer noção de continuidade (nem havia reparado que o CD era parte II), e, quando a ouvi nos idos dos 80, não a ouvi como se entendesse sequer um pouco a letra. Eu não entendia. E nem precisava, é quase o que tenho a dizer. Porque claro, quando a gente ouve algo a gente quer saber sobre o que é; mas eu não fazia questão; era como se as melodias já me dissessem o que era, como se apenas o clima me convencesse, e noto que era realmente apenas isso.

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O que sei é que o CD começa num ponto que eu jamais tinha ouvido antes. E começa com esse clima por definição de alguém que vai contar uma história. E devia ter sido isso que tanto me atraiu. Mas, mais ainda, como uma história que começa quase com um hino! Porque a introdução é isso mesmo, um hino. E ela é seguida por uma faixa forte, corrida, bem speed metal, que eu me lembro de ter ouvido antes. Esse jogo forte da bateria com o baixo e com as guitarras sempre havia me atraído no Iron Maiden. Mas o que me cativava mesmo era o clima positivo dessas melodias, terminando nessas notas poderosas (power) com que o vocalista sabia lidar bastante bem. E o título, claro, convida a pensar nisso: "Eagle Fly Free". O CD continuava com outra pegada, levemente distinta, mas parecida, em "You Always Walk Alone", e eu curtia tanto mais. Note-se que naqueles tempos o Iron percorria o mundo em turnês incansáveis, e que eu queria mais material com que aproveitar o tempo. E o Helloween me servia bastante bem. Até porque insistia numa pegada forte da qual o Iron desistia de vez em quando. E que era repetida em "Rise and Fall", embora não em "Dr. Stein", o grande hit do CD.

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Fato é que os valores aqui elencados poderiam ser resumidos a um: liberdade. Em que haveria espaço para uma certa descrença, um certo desânimo, e uma crença profunda nessa descrença. Porque as mensagens, em bandas desse tipo, me pareciam sempre essas, mas, por outro lado, eu não as decifrava, já que nada entendia. Eu por vezes as repetia, mas sem muita convicção, mas isso até chegar "We got the right", faixa mais longa e bem mais trabalhada, que realmente me cativou. Mas por motivos outros, alguns inclusive do futuro. Explico. Passaram-se os anos e o Lemmy virou um ídolo meu. Pois ele repetia, em alguns vídeos que eu tinha, essa ideia forte de que, contra tudo e contra todos, "we got the right". Mas o que mais me importava aqui não era necessariamente a frase, e a moral embutida. Mas a força de alguém que diz isso, sabendo que está certo. Pois aqui com o Helloween a pegada, embora a frase seja a mesma, é outra. Nós cantamos que estamos com a razão ainda preservando nosso poder de liberdade. Nós não nos empanturramos de um opróbio em relação ao mundo; nós nos afirmamos, como afirmamos que somos livres. E era isso, entremeado com o som de power metal, que realmente me cativava. E que de certa forma ainda me cativa, sendo eu tão independente como poucos. Pois realmente quase nada bate em mim, quase nada me convence hoje, e talvez por isso passe uma ideia de autossuficiência ou mesmo de incapacidade. Porque nada parece me convencer.

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Claro que o duo de guitarras também aqui, em "We got the right", finalmente me convencia, e claro que havia todo o mérito musical aqui a reacender minha alma - eu realmente me sentia bem. Mas havia também o fato de eu ser um rapazola sob domínio dos pais, ainda, da faculdade, ainda, da opinião dos outros, ainda, e do contexto, ainda. Eu gostava como qualquer rebento gosta de cantar a própria liberdade.

Mas eis que no CD não aparece "Save Us", como no YouTube, mas "March of Time", com uma pegada mais forte e rápida, sem novidade alguma na mensagem, é claro. Pois clama no deserto quem tenta encontrar realmente algo de novo, em mensagem, em bandas desse tipo, feitas para agradar mesmo. Ocorre que a sujeira bastante elevada do som me agradava, assim como os gritinhos do vocalista, que comandava o coro enquanto a bateria pegava pesado, e que corroborava meu gosto por esse tipo de banda. Que era power metal, no caso, e que inaugurava assim um novo gênero. Mas isso eu não sabia. Como não sabia o sentido da música a seguir - "I Want Out" -, já mais tradicional, que dizia respeito a sair, a - como sempre - ser livre. Eu gostava - mas não entendia (não me chamem de burro, só era preguiçoso para juntar as pontas e ouvir com alguma maior atenção). Até chegar a música-título do CD, que fechava tudo bastante bem (eu nunca cheguei a ouvir Save us). Mas até aí o recado já estava dado, e o clima de história de "Keeper" não me conquistava o suficiente.

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Parava por aí, até porque não gostava de partes da música, embora o estribilho fosse até legal.

Espero que tenham gostado.


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Sobre Rodrigo Contrera

Rodrigo Contrera, 48 anos, separado, é jornalista, estudioso de política, Filosofia, rock e religião, sendo formado em Jornalismo, Filosofia e com pós (sem defesa de tese) em Ciência Política. Nasceu no Chile, viu o golpe de 1973, começou a gostar realmente de rock e de heavy metal com o Iron Maiden, e hoje tem um gosto bastante eclético e mutante. Gosta mais de ouvir do que de falar, mas escreve muito - para se comunicar. A maioria dos seus textos no Whiplash são convites disfarçados para ler as histórias de outros fãs, assim como para ter acesso a viagens internas nesse universo chamado rock. Gosta muito ainda do Iron Maiden, mas suas preferências são o rock instrumental, o Motörhead, e coisas velhas-novas. Tem autorização do filho do Lemmy para "tocar" uma peça com base em sua autobiografia, e está aos poucos levando o projeto adiante.
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