Therion: Valorizando a cultura nórdica em Secrets Of The Runes
Resenha - Secrets Of The Runes - Therion
Por Rafael Lemos
Postado em 21 de maio de 2016
Nota: 10
Em 2001, quando este álbum foi lançado, o Therion vinha realizando uma sucessão de trabalhos considerados excelentes ou muito bons pela imprensa e pelos fãs e "Secrets of the runes" foi mais um deles.
A temática gira em torno da cultura nórdica sobre a criação dos mundos.
Se no álbum anterior, Deggial, o Therion chegou ao limite em compor músicas complexas, sem dúvida em Secrets of the runes chegaram ao limite do peso. Sim: de 1996, quando lançaram o Theli, até hoje, este é o seu disco mais pesado. E a banda sabe bem que pesado não é sinônimo de veloz, tanto que algumas músicas aqui são bem lentas. Pesado quer dizer acordes intensos e batidas fortes. Como o Therion busca a fusão entre o Metal e o Clássico, o elemento peso está presente nos dois gêneros, formando, novamente, uma harmonia perfeita entre eles.
Possuo a edição alemã em cd acrílico (existe também em digipack), que contém duas músicas bônus. O encarte, como é de praxe, não tem fotos da banda, mas contém belíssimos desenhos, letras, informações técnicas e um pequeno texto explicativo para cada música, dizendo resumidamente sobre o que ela trata.
Runas, expressas no titulo, são caracteres sagrados. A sociedade viking possuía pequenas pedras com cada um dos caracteres runicos que, quando jogadas, diziam fazer revelações sobre o futuro. Esses temas podem ser estranhos para muitos, mas como o Therion é da Suécia, país de tradição viking, trata-se de um tema histórico comum.
Não pretendo me estender nas explicações dos assuntos abordados nas músicas, no máximo fazer um breve comentário do que são eles. Para isso, indico a leitura do livro "As melhores histórias da Mitologia nórdica", de A.S. Franchini e Carmen Seganfredo, onde fala mais sobre o tema.
Falando em livros, "Secrets of the runes" foi vendido como cd bônus no livro do sr. Thomas Karlsson, fundador da sociedade Dragon Rouge, "Uthark: Nightside of the Runes", que defende a teoria Uthark. Ela afirma que o verdadeiro segredo por trás das runas só pode ser entendido e conhecido por um mestre rúnico.
Algumas músicas estão em inglês, outras em nórdico antigo e, ainda algumas, em alemão. Por muito tempo, eu não sabia o por que ter essa língua no disco e, sinceramente, nem por que a mitologia alemã tem praticamente os mesmos deuses da nórdica. Até que obtive a resposta folheando um livro didático para o ensino médio, da disciplina de história. Acontece que, séculos atrás, um grande grupo de vikings decidiu sair da região Norte da Europa, onde viviam (hoje, Noruega, Finlândia, Dinamarca, Islândia e o país do Therion, Suécia) migrando para o centro europeu, onde hoje conhecemos como Alemanha. Com o tempo, os vikings que começaram a viver no local, se misturaram com os povos que ali viviam, gerando o povo alemão. Portanto, os alemães, são descendentes diretos de vikings, possuindo muito de sua cultura - e não são puros em sua origem, decepcionando os nazistas de plantão.
Ginnungagap é a primeira música do disco. Ginnungagap é o vazio que precede o momento da criação. Ou seja, o tema gira em torno de como o universo foi formado, segundo a mitologia nórdica, assim como os nove mundos ou nove reinos (que são descritos no álbum da música 02 a 10). A canção é intensa e forte, embora com um andamento. Resumindo: o disco já chega forte e abre com um dos seus pontos altos.
Após a explosão feita em Ginnungagap, formaram-se nove reinos. Midgård foi um deles e dá o título à segunda canção. Midgård é o Reino dos Homens. Está situado entre Asgård e Niflheim. As vozes das sopranos estão belíssimas aqui nesta música bastante lenta.
A terceira música aborda o já citado Reino dos Deuses, Asgård. Com uma guitarra usando rápidas palhetadas em seu riff, é totalmente direcionada pelos corais.
Uma das mais lentas e densas músicas do disco se refere ao Reino dos Gigantes, Jotunheim, localizado nos limites mais distantes do universo. Os gigantes (também chamados de Jotuns) foram relegados a viver lá porque eram imimigos dos deuses e uma ameaça aos homens.
Os Anões vivem no reino das profundezas chamado Schwarzalbenheim, que é o nome da próxima música e um dos clássicos da banda. Cantada em alemão, essa é uma canção potente em todos os sentidos.
Ljusalfheim é o Reino dos Elfos e das Fadas, um dos mais belos locais do universo, com sua luz radiante. Outro ponto alto do disco, é daquelas músicas marcantes. O uso do violão em conjunto com o baixo, bateria e guitarra elevou a qualidade da música.
Muspelheim é um reino ameaçador situado ao sul do universo, feito por fogo e lava. De lá, vem as forças do caos e da destruição que ameaçam o universo conhecido. O Reino é habitado por um único ser, o gigante de fogo Surt, que é aquele que irá combater os deuses na batalha final, Ragnarök. Cantada em nórdico antigo, inicia lenta para se tornar a mais rápida das músicas do álbum.
Nifelheim é a música que fala do local considerado o pior dos mundos, o Reino do Gelo. Esse local, envolvido em mistérios, na verdade contém em em seu gelo a semente da criação e da vida, que nasceu do caos. Quando o interior do Reino emergir do gelo em que está envolvido, a criação voltará a surgir. Essa música tem o mais interessante jogo de vozes criado pela banda, onde temos três conjuntos que cantam frases diferentes ao mesmo tempo mas que se harmonizam perfeitamente. Um trabalho genial que também consegue entrar em sintonia com o rico instrumental da música.
Vanaheim é um reino situado em outro Reino, Asgård, a morada dos deuses. Isso porque em Vanaheim vive uma espécie específica de deuses, os Vanir, comandados por Frey e Freja, que são tidos como os deuses portentores de maior bondade. Após o confronto final, chamado Ragnarök, todos os deuses voltarão à Asgård por Vanhaheim. No riff, um violino solitário da lugar a guitarra e violão que explodem nas vozes do coral e no peso instrumental.
A música Helheim, que descreve o último Reino, tem um ritmo quase que medieval. É o Reino da Morte, onde habita a deusa Hel. Pra lá, são destinados aqueles que morreram de forma digna ou pela velhice.
A última música é a faixa título, que nos mostra que as runas contém o segredo do Universo. Porém, seu significado interno é o segredo mais bem guardado do mesmo e, quando você o aprende, você se torna um Deus. Isso está diretamente ligado aos objetivos da sociedade secreta Dragon Rouge, da qual Christofer é membro: é esse o conhecimento que ela procura conseguir. Portanto, este álbum não é uma exceção à discografia do Therion, mas também está inserido na mesma proposta que os demais: a divulgação dos saberes da sociedade draconiana.
O álbum, que tem um belo encarte estizado com elementos da cultura nórdica, possui duas bônus. A primeira é o cover para "Crying days", do Scorpions, que ficou regular e, cercada e polêmicas, o cover para "Summernight city", do ABBA, grupo pop vindo também da Suécia. O cover ficou ótimo.
Recheado de conhecimento, não resta dúvida que este é um dos maiores álbuns do Therion.
Faixas:
01 Ginnungagap
02 Midgård
03 Asgård
04 Jotunheim
05 Schwarzalbenheim
06 Ljusalfheim
07 Muspelheim
08 Nifelheim
09 Nifelheim
10 Vanaheim
11 Helheim
12 Secrets of runes
Bônus:
13 Crying days (Scorpions cover)
14 Summernight city (ABBA cover)
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