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Muse: Na virada do milênio, um novo jeito de fazer música

Resenha - Showbiz - Muse

Por Hugo Alves
Postado em 03 de novembro de 2015

Nota: 7 starstarstarstarstarstarstar

O trio britânico MUSE existe desde 1994 e surgiu como uma banda de amigos da época de escola (como boa parte das bandas surge, na verdade) e, como não poderia deixar de ser, eles foram muito influenciados pelo som daquela década, tendo sido uma das bandas preferidas de todos os integrantes um outro trio, os líderes do movimento grunge Nirvana, bem como outras bandas da época, como Radiohead (ao qual o som do MUSE seria comparado por alguns anos). De qualquer modo, Matthew Bellamy (voz, guitarra e piano), Chris Wolstenholme (baixo e voz) e Dominic Howard (bateria) colocaram no mercado em 4 de Outubro de 1999 seu primeiro disco, intitulado "Showbiz".

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A bolacha inicia com "Sunburn", uma canção desesperada e desesperadora, mas polida como diamante, dando o tom do que viria a ser o disco inteiro, com ingredientes como peso, melodia e temas soturnos batidos num "liquidificador musical" que resultou numa bela obra, em sua totalidade. "Sunburn" foi o quarto single de promoção do disco. A seguir, aquela que veio a ser o terceiro dos singles do disco e provavelmente a canção mais querida pelos fãs neste disco, "Muscle Museum", que começa com seus efeitos fora do normal e uma melodia muito bonita. A letra fala, segundo Matt Bellamy, do conflito entre o corpo, a mente e a alma, e o título para a canção foi escolhido de maneira inusitada: os integrantes não conseguiam denominar a canção adequadamente e recorreram a um dicionário, no qual procuraram a palavra "muse" e escolheram as palavras imediatamente anterior e posterior (respectivamente, "muscle" e "museum") e assim a intitularam. Misteriosamente, acabou tendo alguma ligação com a letra em si.

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A terceira faixa do disco é também a primeira que demonstra que o MUSE não escapou àquela regra geral (mas não absoluta) que diz que toda banda, ao lançar seu primeiro disco, despeja muito de suas influências nele. A canção se chama "Fillip" e, sobre o instrumental e as linhas melódicas vocais, tudo o que pode ser dito é que ela parece uma mistura (muito boa) entre Nirvana e Alice in Chains. A letra fala de alguém que deve ficar mas que o narrador não consegue fazer com que fique, meio que sobre arrependimento também. Em seguida, vem "Falling Down", uma das mais belas baladas já compostas pelo trio, extremamente sentimental e benfeita, e a letra parece uma continuação de "Fillip", já que fala sobre passar por cima do tal arrependimento e ter encontrado algo/ alguém melhor agora.

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Chega então a faixa que nomeia o disco, e ela merece um parágrafo à parte. O instrumental dessa canção é bastante simples, mas acerta em cheio o peito de quem a ouve, dado o nível de desespero e depressão dessa canção, que fala sobre a ganância e os atos e efeitos de lidar com ela sem, no entanto, ter estrutura psicológica para tal. Pode-se dizer que, se em "Sunburn" havia uma prévia do que seria o disco, em "Showbiz" há a síntese perfeita do que a obra significa, como um todo, tendo sido, portanto, uma decisão muito acertada fazer dela a faixa-título do álbum. Os fãs podem espernear por haver canções melhores e mais significativas do que essa no disco – e, de fato, há –, mas é inegável o poder de fogo que esta pequena pepita tem.

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A sexta faixa do disco é a canção de amor que toda banda que almeja o mainstream tem que ter em seu catálogo, nem que seja somente uma, e MUSE obedeceu a essa regra com maestria, através de "Unintended", que tem em sua base instrumental um violão simples em Mi maior e sua seção lírica apresenta uma letra igualmente simples mas paradoxalmente profunda, bem como uma das melhores performances de Matthew Bellamy como vocalista em toda sua carreira. Não obstante, foi lançada como o quinto single de promoção do disco. Em seguida, "Uno", o errôneo primeiro single do disco. Vejam bem, é uma boa canção, mas não mostra a força que o disco tem, nem parece ter sido finalizada a tempo de ser gravada. A letra é igualmente vazia (não mostra mais que o recalque e a raiva de quem acabou de levar um fora), como raríssimas vezes se viu numa obra do trio. Passável.

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Já "Sober" é uma das melhores canções da bolacha, mesmo não sendo nem de longe a mais original. Ela foi extremamente influenciada pelos hits radiofônicos dos anos 1990, principalmente se pensarmos nas bandas com vocais femininos daquela década. Sem nenhum exagero, começa o instrumental e você já imagina alguém como a Shirley Manson, a Courtney Love ou até mesmo a Alanis Morissette entrando pra cantar. Incrível como essa canção passou despercebida tão facilmente, e a única explicação pra isso é justamente ela lembrar tantas outras coisas e nem tanto os próprios autores. Depois vem "Cave", e ela ilustra perfeitamente o porquê de não ser exagero dizer que o som do MUSE é bem depressivo neste disco. A letra claramente fala sobre depressão em primeira pessoa, o quanto o depressivo pode acabar se isolando do resto do mundo e o quanto uma outra pessoa pode sofrer junto ao depressivo. O refrão é muito bom mas o resto da canção a deixa com cara de "filler" (canção geralmente composta pra "fazer volume" no disco) – e eu sei que isso é um sacrilégio por ser dito quando se trata do primeiro disco de qualquer artista, mas é assim que ela soa, de fato e de um modo geral.

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A trinca final é composta por diferentes nuances, já que "Escape" lembra demais o som do Radiohead (e justifica muito a comparação entre as duas bandas, que chegou a ser alvo de críticas do próprio lider do Radiohead, Thom Yorke), e a letra é um misto de falas sobre bullying, esquizofrenia e depressão ("pra variar"). A penúltima canção, "Overdue", é a que mais tem jeito de filler, de tão insignificante que soa, mas a banda é perdoada graças à beleza presente em "Hate this and I’ll love you", que nos brinda com muita doçura no início e muito peso e barulho no final. Obviamente sem querer, mas ela meio que anunciou o estilo apocalíptico de fazer música que a banda adotou posteriormente, sendo então um final perfeito para um disco não mais que muito bom.

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"Showbiz" foi um disco mal-compreendido em sua época, tendo sido alvo de críticas por diversos motivos, sendo os principais a comparação com o Radiohead e o exagero que os críticos de algumas revistas encontraram na faixa-título e em "Unintended". Tudo isso não deixa de ser verdade, mas parece que apesar de tudo isso ser dito em tom de críticas negativas, o álbum conseguiu fazer o barulho que precisava, tendo alcançado o 29º lugar no UK Albums Chart. Nada mal para o primeiro disco de uma banda britânica que fazia um Rock que, apesar de ter sido influenciado, não fazia o Grunge do Nirvana nem o Rock Alternativo de arena do Oasis, muito menos se equiparava em estilo a coisas como Backstreet Boys e Britney Spears, só pra citar dois dos muitos artistas Pop que reinavam nas paradas naquela virada de década. Mas, como sempre acontece com todas as bandas, o melhor ainda estava por vir e as reais provas ainda viriam a testar o MUSE.

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Mas isso já é história pra outra resenha...

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Sobre Hugo Alves

Hugo Alves é formado em Letras (Português and Inglês) pela UNISO - Universidade de Sorocaba e futuro mestrando em Literatura ou Semiótica. Começou a escutar Rock aos 11 anos com "Bring Me to Life" do Evanescence, mas o que o tomou para sempre para o Rock and Roll foi "Fear of the Dark" (versão ao vivo no Rock in Rio), do Iron Maiden, banda que, ao lado de The Beatles, considera como favorita, amando quase que igualmente os sons de Viper, Angra, Shaman, Andre Matos, Rush, Black Sabbath, Metallica, etc. Foi vocalista das bandas Holygator e Bad Trip, iniciantes em Sorocaba/ SP, e também toca guitarra e baixo. Outra de suas paixões é a Literatura, pela qual desenvolveu o gosto pela escrita e comunicação.
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