"Psychedelic Pill": a "pílula psicodélica" de Neil Young
Resenha - Psychedelic Pill - Neil Young & Crazy Horse
Por Claudinei José de Oliveira
Postado em 07 de maio de 2015
Nota: 9
Depois de quase dez anos longe dos estúdios, Neil Young se reunia novamente à banda Crazy Horse e lançava, em 2012, um grande álbum de 1969.
O fato de Neil Young se envolver num projeto que visa por para rodar um "Lincoln Continental", clássica banheira beberrona dos anos 1950, usando energia ecologicamente correta, é uma excelente metáfora para o álbum "Psychedelic Pill", gravado por ele, junto à banda Crazy Horse (com a qual não gravava há quase uma década) e lançado em 2012.
Pode-se dizer que "Psychedelic Pill" é um grande álbum de 1969 lançado em 2012. Numa época em que o conceito "álbum" cai, vertiginosamente, em desuso, o velho canadense vem com um (duplo!), cujo tempo de duração total beira os noventa minutos, divididos em nove canções, o que daria uma média de dez minutos de duração por música. Só a primeira, "Driftin', Back" chega a quase meia hora.
Quando o déficit de atenção do mercado consumidor de música é tamanho, que os "quinze minutos de fama" de Warhol vão, se muito, a quinze segundos, cabe perguntar: que diabos Neil Young está pretendendo? Dificilmente saberemos. Mas podemos supor.
Todas as referências sonoras e líricas do álbum apontam para o final da década de 1960, época em que, parafraseando o título de uma das canções ("Walk Like A Giant"), gigantes caminhavam sobre a Terra (os roqueiros contemporâneos de Young) e acreditavam poder mudar o mundo. Para o bem e para o mal, o mundo em que vivemos é consequência daquele. Neil deixa a entender que algo desandou de forma absoluta. Aí, cabe outra pergunta: "Psychedelic Pill" é o álbum feito pelo tiozão rabugento e reclamão que vive preso ao passado? Não é o que parece.
Neil Young aparenta, pura e simplesmente, se ressentir do fato de, no imediatismo atual, as pessoas se deixarem levar por ideais rasos ao invés de acreditarem na própria capacidade de ação em busca do melhor.
Assim, o prazer em ouvir seus heróis (Dylan e Hank Williams) pela primeira vez é enaltecido em "Twisted Road" e a desolação dos pais que veem os filhos ganharem o mundo é abordada com lirismo em "Ramada Inn". "Driftin' Back", "Walk Like A Giant" e "For The Love Of Man" condenam o supérfluo e lamentam a incapacidade de mudá-lo. As vocalizações dos Crazy Horse embelezam o simplório de "She's Always Dancing". "Born In Ontario" é apenas mais uma ode ao Canada, porém está quilômetros aquém de uma "Helpless", por exemplo. A faixa título aparece em duas versões: a última é uma faixa bônus sem o efeito "surround" da primeira.
Fatalmente, a "Pílula Psicodélica" de Neil Young é contraindicada ao ouvinte afeito ao mercado musical atual. Se não enroscar na garganta pode ocasionar uma bad trip, mas vai saber... Uma das características da geração de Young era acreditar na capacidade humana de surpreender. Contrariando a lógica do mercado, o velho Young tenta produzir arte duradoura e grandiosa, como um velho "Lincoln Continental", numa época que prima pelo descartável.
Tracklist do CD 1:
1."Driftin' Back"
2."Psychedelic Pill"
3."Ramada Inn"
4."Born In Ontario"
Tracklist do CD 2:
1."Twisted Road"
2."She's Always Dancing"
3."For The Love Of Man"
4."Walk Like A Giant"
5."Psychedelic Pill" (Faixa Bônus)
Gravadora: Reprise Records.
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