No More Tears: Em 1991, a ressurreição de Ozzy
Resenha - No More Tears - Ozzy Osbourne
Por Doctor Robert
Postado em 20 de junho de 2014
Nota: 9
A segunda metade da década de 1980 não foi propriamente um período dos melhores para John "Ozzy" Osbourne. Sua carreira solo seguia uma descendente, com álbuns que dividiam opiniões ("The Ultimate Sin"; "No Rest For The Wicked"), sem falar que ele seguia se afundando cada vez mais no vício com drogas e ainda tentava se reerguer de um processo jurídico descabido onde era acusado como responsável pelo suicídio de um jovem norte-americano em 1984 (que supostamente teria se matado ouvindo "Suicide Solution").
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Eis que o ano de 1991 traria a volta do Madman ao topo com "No More Tears", álbum que marca uma verdadeira ressurreição em sua carreira. Contando principalmente com a colaboração de Zakk Wylde e Randy Castillo nas composições, mas também com uma grande força de ninguém menos que Lemmy Kilmister, o sexto álbum de estúdio de Ozzy trazia um repertório de tirar o fôlego e seria lançado com uma estratégia no mínimo ousada: o petardo chegou às lojas no mesmo dia 17 de setembro de 1991 em que o Guns N’ Roses (então queridinhos da mídia e no topo do mundo) lançava seu ambicioso projeto de dois discos duplos, "Use Your Illusion" – durante o lançamento, em entrevista à MTV norte-americana, Ozzy foi perguntado sobre essa coincidência e disse: "para uma pessoa com tantos anos de estrada como eu, não é nada demais, não tenho que ficar vigiando ninguém preocupado pensando "Oh! Eles estão lançando dois discos duplos..."".
Complementando a ousadia no lançamento, a faixa de trabalho escolhida para o primeiro vídeo clipe e single era nada menos que a faixa título, com todos os seus sete minutos e vinte e quatro segundos de duração, fugindo totalmente dos padrões de 3 a 4 minutos impostos pelas rádios e MTV. Logicamente, de nada adiantaria isso tudo se o conteúdo não ajudasse. E muito pelo contrário – era o seu melhor trabalho desde a dobradinha "Blizzard Of Ozz" e "Diary Of a Madman", com o saudoso Randy Rhoads nas guitarras...
A começar pela faixa título, a primeira a rodar exaustivamente nas rádios rock e nos programas especializados em música pesada das MTVs ao redor do mundo, contando com uma introdução hipnótica de baixo acompanhada de uma bela base de sintetizadores e uma guitarra inspirada de Zakk Wylde, além de seu grande vídeo (com direito até à participação de sua filha Kelly Osbourne, ainda criança, no final)... tudo se encaixava perfeitamente! Virou clássico instantâneo, e todos os fãs correram às lojas para comprar o álbum, tornando-o o segundo mais vendido da carreira solo de Ozzy (atrás somente de "Blizzard of Ozz").
E colocando a bolacha na vitrola pra rolar, "Mr. Tinkertrain" já começava arregaçando tudo – após alguns segundos de uma melodia de caixinha de música rolando, o caos era instaurado, logo caindo para um riff inspirado de Wylde e Ozzy cantando assustadoramente "Would you like some sweeties, little girl? Come a little closer, I’ll show you a brand new world tonight" ("Quer algumas gostosuras, garotinha? Chegue mais perto, eu vou te mostrat um mundo totalmente novo esta noite"). Genial! (E ainda seria lançado depois o vídeo clipe, com trechos do clássico do cinema alemão "M – O Vampiro de Dusseldorf"...).
A segunda faixa a ser ouvida era "I Don’t Want To Change The World", a primeira das quatro músicas com contribuição de Lemmy na autoria, e que ainda garantiria a Ozzy um Grammy – um rockão inspirado onde o Madman canta que não quer mudar o mundo, e nem quer que o mundo o mude. Na sequência, mais uma parceria com Lemmy, uma baladona (quem diria!), que também virou clássico instantâneo: "Mama, I’m Coming Home" também ganhou um belo vídeo clipe, foi lançada como single, e tocou à exaustão.
"Desire" trazia o peso de volta (e Lemmy mais uma vez como co-autor), e falava mais uma vez do estilo de vida controverso levado por eles – embora Ozzy clamasse à época que estava limpo, livre das drogas ("só que não"... quem aí já assistiu ao home-video "Don’t Blame Me"?). Em seguida, a já comentada faixa título, que fechava com classe o lado A do vinil.
O lado B ainda traria outros grandes momentos como "Hellraiser" (mais uma parceria com Lemmy, inclusive também gravada por este com o Motörhead para a trilha sonora do filme de mesmo nome), "Time After Time" e "Road To Nowhere", ambas também com vídeo clipes e com Zakk Wylde deixando sua marca com belos solos e arranjos, longe dos excessivos clichês a que se prenderia depois em sua carreira. No relançamento em 2002 em CD, foram incluídas duas faixas bônus, "Don't Blame Me" e "Party With The Animals" (que fizera parte da trilha sonora do filme "Buffy - A Caçadora de Vampiros", que deu origem à série de TV de mesmo nome).
A turnê de promoção do disco foi amplamente divulgada como sendo a última de Ozzy, que supostamente se aposentaria então (e lá se vão 23 anos...), tendo sido finalizada com um grande show com a participação dos membros originais do Black Sabbath, que fizeram o show de abertura da noite com Rob Halford (Judas Priest) nos vocais – Ronnie James Dio, que era o vocalista oficial do Sabbath na época se recusou a participar do evento, temendo os fãs de Ozzy que não aceitavam outro vocalista no Sabbath que não fosse o Madman... Era a primeira vez que eles tocavam juntos desde o festival beneficente Live Aid, em 1985, e o registro da faixa "Black Sabbath" pode ser conferido em "Live & Loud", álbum duplo ao vivo lançado em 1993.
Outra curiosidade diz respeito ao velho colaborador Bob Daisley, que gravou o baixo no disco (assim como em "No Rest For The Wicked", onde foi substituído na turnê por Geezer Butler), tendo aqui os créditos divididos com Mike Inez (embora seja o autor da introdução de "No More Tears", Inez não gravou nada, apenas tendo saído em turnê e aparecido nos vídeos): Daisley colaborou também com algumas letras, que foram descartadas por Ozzy e Sharon Osbourne, e foi aqui que a relação até então amistosa entre eles começara a estremecer.
Terminada a turnê, a suposta aposentadoria de Ozzy gerou uma debandada de seus músicos: Zakk Wylde formou o trio Pride & Glory, com James LoMenzo e Brian Tichy; Mike Inez entrou para o Alice In Chains; Randy Castillo foi tocar com o Red Square Black. E em 1995, Ozzy resolve lançar um novo disco, "Ozzmosis", trazendo de volta Wylde para gravar as guitarras (substituído na turnê pelo ex-David Lee Roth Joe Holmes), Geezer para o baixo, Deen Castronovo para a bateria (e posteriormente substituído por Randy Castillo novamente) e ninguém menos que Rick Wakeman para gravar alguns teclados... mas isso já rende conversa pra outra hora...
Ozzy Osbourne – No More Tears
Produzido por Duane Baron e John Purdell
• Ozzy Osbourne – vocais
• Zakk Wylde – guitarra
• Bob Daisley – baixo
• Mike Inez – baixo (créditos apenas)
• Randy Castillo – bateria
• John Sinclair – teclados, piano
1. "Mr. Tinkertrain" (Ozzy Osbourne, Zakk Wylde, Randy Castillo) 5:57
2. "I Don't Want to Change the World" (Osbourne, Wylde, Castillo, Lemmy Kilmister) 4:06
3. "Mama, I'm Coming Home" (Osbourne, Wylde, Kilmister) 4:12
4. "Desire" (Osbourne, Wylde, Castillo, Kilmister) 5:45
5. "No More Tears" (Osbourne, Wylde, Castillo, Mike Inez, John Purdell) 7:24
6. "S.I.N." (Osbourne, Castillo, Wylde) 4:47
7. "Hellraiser" (Osbourne, Wylde, Kilmister) 4:53
8. "Time After Time" (Osbourne, Wylde) 4:20
9. "Zombie Stomp" (Osbourne, Wylde, Castillo) 6:14
10. "A.V.H." (Osbourne, Wylde, Castillo) 4:13
11. "Road to Nowhere" (Osbourne, Wylde, Castillo) 5:11
Faixas bônus (relançamento em 2002):
12. "Don't Blame Me" (Osbourne, Wylde, Castillo) 5:06
13. "Party with the Animals" (Osbourne, Wylde, Castillo) 4:17
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