Shock: Veteranos em disputa acelerada entre baixo e guitarra
Resenha - Shadows - Shock
Por Willba Dissidente
Postado em 16 de fevereiro de 2014
Nota: 10
A cena metal brasileira viu nos últimos cinco anos o ressurgimento de muitas de suas bandas clássicas. Há quem diga que esse revival é "enfadonho" e argumente que "esses grupos não são mais capazes de produzir discos que sejam equiparáveis aos seus trabalhos clássicos" e ficam "enchendo sua discografia com álbuns néscios". Qualquer exposição de ideias deste tipo some qual as sombras desaparecem quando iluminadas por um candeeiro quando o disco novo da segunda banda de Heavy Metal do Brasil começa a tocar.
Formada em João Pessoa, capital da Paraíba, dois anos após o STRESS surgir em Belém do Pará, o SHOCK vem soltando registros desde o começo dos anos oitenta. Entretanto, somente em 1992 que o grupo publicou seu debut; lançado selo Whiplash Records de Natal/RN, o disco "Heavy Metal We Salute You" continha novas músicas antigas traduzidas pelo inglês. Este álbum, relançado recentemente em CD, representou o apogeu de qualidade de gravação e composição do SHOCK. Patamar esse que acaba de ser ultrapassado por "Shadows", surpreendendo até mais assíduos defensores à ideia de que um grupo antigo não poderia fazer um registro digno de nota.
O disco abre com introdução que lembra trilha de filme de terror desembocando na faixa "Nightmare". Logo nos primeiros segundos desta já podemos ter a impressão que irá vingar por todo o cd: uma disputa raivosa e acelerada de riffs entre a guitarra e o baixo, com um excelente vocalista à la Rob Halford, que soa como alguém que nasceu falando inglês, e um baterista experiente que abusa de malícia e andamentos variados. É aquele mesmo som calcado em finais dos anos setenta e começo dos oitenta, pesado como um bloco de metal a se chocar com o chão, que a banda apresentou nos trabalhos anteriores. As composições, porém, são variadas e inspiradas, entre as rápidas, cadenciadas e até uma bela balada, a faixa-título. Se a parte criativa continua tão bem quanto sempre foi, a produção do disco é a melhor que a banda já alcançou, com todos instrumentos nítidos e perfeitamente mixados e equalizados para a pauleira. Em muitas composições, a 2º guitarra, de base, não é constante nos solos, pegando só as tônicas, o que além de ressaltar a linha de baixo garante um feeling mais de banda tocando ao vivo.
A terceira faixa, "The Train Of Life" é um dos destaques de "Shadows": abertura no baixo e prato de condução, que seguem para um ótimo riff de guitarra. O refrão demonstra a versatilidade de Américo Caldeira, que o canta primeiro num tom comum e depois o repete um tom acima. Na parte do solo, a base sofre uma variação na cadência com a bateria tocando com o chimbal aberto. Detalhes esses que evidenciam a criatividade inspiração. "Shadows" soa como tudo foi pensando e lapido exaustivamente antes da gravação, sem pontas soltas. Esse trabalho prévio constrói cenário o som se desenvolver pesado e sem meias ideias, ainda que não soe excessivo. Um ponto que chama atenção no disco e reitera esse argumento, é que todas músicas de "Shadows" terminam com um fechamento dado pela banda como se estivesse tocando ao vivo; sem aquele manjado truque de ir abaixando devagar o volume.
O álbum segue com "Hard To Say" com abertura de bateria e baixo similar a de "Wrathchild" do IRON MAIDEN, com certeza uma das maiores influências do SHOCK, junto com ACCEPT, JUDAS PRIEST e MOTÖRHEAD. Vem a rápida "I Never Surrender", seguida pela mais veloz ainda "Meanliness Life". Solos insanos guitarra, que usam two hands, pull off e outras técnicas peculiares ao saudoso Randy Roads saem do instrumento defendido por Edgard Roque. "Paradise" vem numa linha mais hard'n'heavy, como a fase áurea da banda KEEL. "Send me a Sign" é um dos destaques do CD, uma das faixas mais empolgantes do álbum. O motivo é a surpreendente e inusitada levada rápida de bateria feita por Carlos Roque dentro de um som cadenciado. Isso sem contar, o eletrizante refrão. Candidata a favorita ao vivo. Alguns podem dizer que bateria saiu sem aquele punch típico dos anos oitenta, mas ela tem peso e, principalmente muita pegada.
A nona música é faixa que dá título ao álbum, uma balada. Não pense que por se tratar de uma música lenta, algo incomum ao SHOCK, que o baixista e o baterista não vão colocaram notas adicionais que só músicos experientes pensariam para preencher o som. O vocal de Américo é destaque por se manter agudo e rasgado, nunca saindo da afinação ou soando gritado. "Shadows" tem um segundo solo mais longo ao final da música. Falando em solos de guitarras, a veloz "Dethrone The Tyrants", que dá continuidade ao disco, tem um exemplo digno de nota dos mesmos.
A pegada mais Hard'n'Heavy retorna em "Lady Of The Night", seria a mulher no canto do encarte?, cujo destaque vai para os background vocals muito bem colocados nos refrões. Para encerrar, o grupo retorna à alta velocidade em "Blackmail", que possui interlúdios muito legais antes e depois do solo, valorizando a música e saindo do que se espera do andamento da canção, demonstrando que o SHOCK não é uma banda burocrática.
A parte gráfica de "Shadows" também é muito bem trabalhada: encarte em seis páginas no formato folder, que se convertem em 12, com poster, todas as letras, foto na bandeja e demais informações. A capa é belíssima, por juntar a imagem fotografada da caveira com a vela derretida a um fundo de computador da tempestade.
"Blackmail" no IRON MAIDEN Day de 2011 (gravação amadora):
Muito infelizmente para os headbangers, o disco "Shadows" não está disponível para ser comercializado. Foram feitas tão somente 250 unidades do disco (em cdr prateado com impressão na mídia), financiadas pela própria banda, para ser vendido no festival "MMB - Metal Maniacs Brigade", realizado dia 14 de dezembro de 2013 em de Pernambuco, e as unidades sobressalentes foram distribuídas para pessoas da mídia especializada. Assim como fez no passado para lançar seu clássico "Heavy Metal We Salute You", o SHOCK está a procurar de um selo que valorize o trabalho da banda para soltar oficialmente seu novo álbum. O trabalho gráfico, de encarte e gravação será o mesmo, tão somente o disco passará de cdr para cd oficial. Alguns selos já demonstraram interesse, porém nenhum deles fechou o negócio até o momento.
O fato é que estamos diante de um registro fortíssimo de, não só uma das pioneiras do Metal brasileiro, como das mais criativas e persistentes bandas e que ironicamente, ainda não foi lançado. A música presente em "Shadows" irá grudar como tatuagem nos headbangers que são fãs da sonoridade dos anos oitenta, só falta estar ao alcance deles.
SHOCK:
Paulo Roque - Baixo
Carlos Roque - Bateria
Edgard Roque - Guitarra
Américo Caldeira - Vocals
Discografia:
Shock Ao Vivo (demo 1993)
Shock (demo, 1987)
Ritual (demo, 1989)
Aquarius (participação em coletânea, 1989)
Heavy Metal We Salute You (Full-length, 1992)
Shock Live (Bootleg, 2004)
Schizophrenic Lunatic - Kil Again Samples (participação em coletânea, 2011).
Heavy Metal We Salute + Bonus (CD, 2012)
Shadows (Bootleg, 2013).
"Shadow" Tracklist (51:33):
01 . The Disturbed
02 . Nightmare
03 . The Train of Life
04 . Hard to Say
05 . I Never Surrender
06 . Meaningless Life
07 . Paradise
08 . Send Me A Sign
09 . Shadows
10 . Dethrone The Tyrants
11 . Lady Of The Night
12 . 1Blackmail
Outras resenhas de Shadows - Shock
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps