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Triptykon: Tom Warrior não poderia ficar parado muito tempo

Resenha - Eparistera Daimones - Triptykon

Por Ricardo Seelig
Postado em 30 de agosto de 2010

Nota: 10 starstarstarstarstarstarstarstarstarstar

Em 2006, um dos grupos mais influentes da história do heavy metal extremo parecia ter um futuro promissor pela frente. Após mais de uma década de hibernação, o Celtic Frost havia voltado à ativa com um álbum excelente - "Monotheist", muito bem aceito pelos fãs e pela crítica -, e tudo indicava que o grupo suíço iria engatar uma sequência de ótimos discos.

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Mas não foi o que aconteceu. Divergências pessoais e diferenças musicais fizeram com que seu principal integrante, o vocalista e guitarrista Tom Warrior, saísse da banda em maio de 2008, deixando para trás, segundo informações do próprio músico, material já composto para aquele que seria o sucessor de "Monotheist".

Um dos artistas mais criativos, talentosos e influentes do heavy metal, Tom Warrior não poderia ficar parado por muito tempo – e, para nossa sorte, não ficou. Logo após o anúncio de sua saída do Celtic Frost Warrior montou uma nova banda, batizada de Triptykon, ao lado do guitarrista V. Santura, da baixista Vanja Slajh e do baterista Norman Lonhard.

A banda começou a gravar a sua estreia, batizada como "Eparistera Daimones" ("demônios à esquerda", em grego), em agosto de 2009. As sessões se estenderam até o final de novembro. Com o disco pronto, a banda assinou com a Century Media, que lançou o álbum no dia 22 de março de 2010.

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"Eparistera Daimones" é um disco muito mais sombrio, pesado e agressivo que "Monotheist". O simples ato de apertar o play no CD player deixa tudo ao seu redor mais denso, escuro e sinistro.

É difícil classificar o álbum em um gênero específico. É black metal, mas não é só isso. Há também elementos de doom, gótico e thrash em suas nove faixas. O uso de andamentos mais arrastados, casados com perfeição com guitarras afinadas em tons mais baixos, fazem com que o peso seja uma das principais características de "Eparistera Daimones". Gigantescas doses vindas diretamente da mãe de todas as bandas de heavy metal, o Black Sabbath, carregam as guitarras com riffs arrastados e pesadíssimos. Os arranjos levam as faixas por caminhos inusitados e sempre criativos.

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O nível das composições de Tom Warrior é altíssimo, e mostram que o músico suíço, apesar de ter uma carreira que já dura mais de vinte e cinco anos e conta com passagens por nomes seminais do som pesado como Hellhammer e Celtic Frost, tem muitas cartas na manga ainda. "Goetia" é uma odisséia de onze minutos de duração que abre o disco de maneira espetacular. Quem sente calafrios só de olhar para a duração de faixas mais longas, julgando-as automaticamente como chatas e repetitivas, deveria ouvir esse som todos os dias.

"Abyss Within My Soul" é construída a partir de um riff totalmente doom, e conta com uma grande interpretação vocal de Tom Warrior. "In Shrouds Decayed" conta com uma introdução bem climática de guitarra, temperada com a voz de Warrior carregada de efeitos que a deixam ainda mais sombria. "A Thousand Lies" é a mais rápida do disco, com riffs bem thrash.

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"Descendant" é um dos melhores momentos do álbum, com riffs pesadíssimos e rastejantes bem na escola de Tony Iommi. "Myopic Empire" é outra ótima faixa. Nela, os vocais lembram claramente, nas passagens mais lentas, o Alice in Chains. "Myopic Empire" conta também com uma soberba passagem de piano combinada a um vocal feminino arrepiante, e que dá um acento gótico bastante interessante à composição. A influência gótica é elevada ao máximo em "My Pain", uma belíssima composição com vocais femininos que destoam completamente do restante do disco.

O álbum fecha com "The Prolonging", uma perturbadora jornada de quase vinte minutos que transita com absoluta competência e naturalidade pelo black, doom, thrash e metal clássico. Um encerramento espetacular para um álbum excelente.

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Vale mencionar também a arte da capa do álbum. Warrior mantém uma longa relação com o lendário artista plástico suíço H.R. Giger. Uma das obras de Giger ilustra a capa do clássico "To Mega Therion", lançado pelo Celtic Frost em 1985. Além disso, Giger é reconhecido mundialmente pelo seu trabalho, tendo recebido inclusive um Oscar pela concepção visual do filme "Alien: O Oitavo Passageiro". A obra que ilustra a capa de "Eparistera Daimones" é um trabalho de Giger intitulado "Vlad Tepes". Já a arte do encarte ficou a cargo do norte-americano Vincent Castiglia, que pintou retratos dos integrantes da banda como se os tivesse produzido com sangue, alcançando um resultado final ao mesmo tempo belo e aterrorizante.

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A julgar pelo que se ouve em "Eparistera Daimones", o Celtic Frost perdeu demais com a saída de Tom Warrior. Se, como ele já disse em inúmeras entrevistas, as músicas que compõe o disco de estreia de seu novo grupo estariam, a princípio, no sucessor de "Monotheist", o Celtic Frost deixou de gravar mais um clássico em sua discografia. Em compensação, Thomas Gabriel Fischer mostra porque é considerado, com imensa justiça, um dos músicos mais influentes da história do heavy metal. "Eparistera Daimones" é um ótimo disco, que já nasce com cara de obra fundamental.

Extremamente recomendável!

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Sobre Ricardo Seelig

Ricardo Seelig é editor da Collectors Room e colabora com o Whiplash.Net desde 2004.
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