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Keith Emerson: muito bem sucedida parceria com Marc Bonilla

Resenha - Keith Emerson Band featuring Marc Bonilla - Keith Emerson

Por Rodrigo Werneck
Postado em 11 de outubro de 2008

Nota: 10 starstarstarstarstarstarstarstarstarstar

Definindo este recém-lançado disco do grande tecladista Keith Emerson em uma só palavra: "uau". Tudo o que não se podia mais esperar que ele voltasse a fazer, foi feito neste CD. Ecos de Emerson Lake & Palmer e The Nice, antigas bandas de Emerson, junto a novos ares, pavimentando o terreno para futuros vôos. Fruto de uma bem sucedida parceria com o guitarrista e vocalista Marc Bonilla, que merece a citação especial no título do álbum.

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Ao que tudo indica, Emerson teve um grande e principal mérito na concepção desse disco: ouvir seus fãs. Essa é a melhor definição do CD, uma homenagem aos fãs, que finalmente obtiveram o que esperavam há anos, ou seja, um trabalho à altura dos clássicos álbuns do The Nice (nos anos 60) e do ELP (nos anos 70).

A volta do ELP nos anos 90 produziu grandes shows (e CDs/DVDs ao vivo), mas registros decepcionantes em estúdio: o mediano "Black Moon" (1992) e o fraco "In The Hot Seat" (1996). O registro que prometia, aparentemente intitulado "Crossing the Rubicon" e com lançamento previsto para 1998, não chegou a ser gravado (para ele, dizia-se, havia planos de se gravar uma suíte de 40 minutos de duração, com letras versando sobre clonagem humana). O breve retorno do The Nice, já no novo milênio, trouxe mais um punhado de shows históricos e o lançamento de um ótimo disco ao vivo ("Vivacitas", de 2002), mas nada em estúdio. Até mesmo os discos solo anteriores de Emerson, desde 1980, tiveram seus altos e baixos, sem nunca se aproximar do material do ELP.

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Mas vamos ao lançamento atual. Todos os detalhes em relação a este CD foram claramente escolhidos de forma criteriosa. A começar pela ótima banda, composta por Emerson e Bonilla, mais Gregg Bissonette (bateria, ex-David Lee Roth band) e Bob Birch (baixo, Elton John Band). A capa, uma ilustração mostrando um órgão Hammond pegando fogo num pôr do sol, é de beleza inquestionável, além de demonstrar a sobriedade que caracteriza esta obra musical em si.

O começo, com a longuíssima suíte "The House of Ocean Born Mary", já é promissor. Nada mais, nada menos, do que uma música de 35 minutos de duração baseada num livro inglês homônimo de autoria de Marion Lowndes, que conta uma história de fantasmas da qual tanto Emerson quanto Bonilla são fãs. O primeiro segmento, "Ignition", inclui fanfarras no órgão e fraseados ao piano, no melhor estilo de músicas antigas como "Tarkus", "The Score" ou "The Endless Enigma", e já mostram que Keith não está para brincadeiras. Um órgão de tubos (na verdade, emulado por um sintetizador Korg Oasys) em "1st Presence" cria a introdução para "Last Horizon", a primeira parte da suíte a conter a banda completa, e enfim apresentando a melodia principal. A belíssima "Miles Away Part 1" inclui ótimos vocais de Marc Bonilla, lembrando muito John Wetton (King Crimson, UK, Asia). Emerson ao piano dá o toque de classe. Já "Miles Away Part 2" é mais rápida e pesada, com grande trabalho de Hammond e Moog. "Crusaders Cross" altera o andamento e o tempo, no melhor estilo ELP. Bom trabalho da cozinha formada por Bissonette e Birch, além de um ótimo solo de guitarra de Bonilla. É bom frisar que todas as inserções de guitarra são totalmente apropriadas a um disco capitaneado por Emerson, ou seja, complementam bem, mas sem descaracterizar o som baseado em teclados, característica marcante de todos os seus projetos. "Fugue" é levada por Emerson e Bonilla, providenciando um final em grande estilo para essa primeira parte.

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A segunda parte da suíte é iniciada por "2nd Presence", no órgão de tubos. "Marche Train" é o tema principal dessa parte, incluindo os vocais de Marc e um ótimo e longo solo de Hammond C3 de Emerson (incluindo até referências breves ao passado). "Blue Inferno" lembra as instrumentais da época do "Works" ou mesmo já no Emerson, Lake & Powell (que incluía o baterista Cozy Powell no lugar de Carl Palmer).

"3rd Presence" mantém o estilo, no órgão de tubos, ao iniciar a terceira e última parte de "The House of Ocean Born Mary". Emendando nela, a belíssima balada instrumental "Prelude To A Hope", levada inteiramente no piano, num momento introspectivo que agrega dinâmica à peça, dando um descanso aos ouvidos (e ao cérebro). "A Place To Hide" é mais uma cantada por Bonilla, uma bela balada levada ao piano e violão, com baixo, bateria e fraseados de guitarra complementando e evitando que o momento caia no comercialismo, inadequado a uma suíte longa como essa. Bola dentro. "Miles Away Part 3" dá destaque mais uma vez a Bonilla, em outra inspirada interpretação vocal, lembrando novamente um bocado a voz de John Wetton. Bem colocados solos de guitarra, cheios de feeling, abrilhantam esta parte. Fechando a terceira parte da suíte está a empolgante "Finale", que inclui breves solos de bateria e baixo, dando a chance a Bissonette e Birch de aparecerem um pouco mais. Obviamente, Bonilla e Emerson se revezam em solos de guitarra e Hammond, nesse segmento que fecha de forma vibrante a longa peça. Incrível realmente como Emerson (com a ajuda de Bonilla) conseguiu compor uma longa suíte como essa, sem precisar repetir passagens instrumentais ou vocais, esbanjando criatividade e bom gosto.

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A segunda música do CD, "The Art Of Falling Down", é remanescente do material originalmente composto por Keith para um disco do ELP que nunca chegou a ser gravado (pois a banda voltou a se separar em 1998), e que seria provavelmente denominado "Crossing The Rubicon", conforme mencionado anteriormente. Uma ótima composição, meio na linha de alguns temas mais pesados da época do disco "Tarkus" (ELP, 1972), com o Modular Moog reinando em toda a sua glória, e o peso e o calor de um sintetizador analógico.

"Malambo" vem a seguir, uma instrumental no melhor estilo ELP, lembrando "Canario" e "Hoedown", e da mesma forma, uma adaptação de uma obra de um compositor erudito. No caso, trata-se de um fragmento de "Estancia Suite", do argentino Alberto Ginastera, de quem Emerson é grande fã (vide suas prévias adaptações de "Toccata" e "Creole Dance"). Levadas de Hammond, licks de sintetizadores, e um diabólico solo de piano, daqueles que somente Emerson é capaz, pontua o meio da música. Muito peso e intensidade. Não é à toa que a crítica nos anos 70 taxava o ELP de "uma banda de heavy metal sem guitarras"...

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Em mais uma referência ao passado (mas sempre com uma sonoridade também atual), "Gametime" vem a seguir, numa levada no melhor estilo descontraído de "Are You Ready Eddie", "Jeremy Bender" ou "Benny The Bouncer", com aquele clima de música de "saloon" de faroeste norte-americano, piano "honk tonky", gaita e tudo mais.

"The Parting" é a última, música pungente cantada mais uma vez por Bonilla. Começo vagaroso, quase uma balada, para em seguida ganhar em intensidade, acrescentando peso, solos, tudo o que se tem direito num disco de rock progressivo. Estilo sóbrio, encerramento perfeito para um disco amadurecido e bem concebido.

Um parágrafo especial dedicado a Marc Bonilla. Ele substituiu o guitarrista anterior da banda de Emerson, Dave Kilminster, de forma brilhante. Marc é melhor vocalista, e toca guitarra provavelmente tão bem quanto Dave, com a vantagem de saber se posicionar melhor nas músicas, ao menos dentro desse estilo específico. A propósito, Kilminster segue como guitarrista da banda de Roger Waters, ex-Pink Floyd, com quem inclusive já se apresentou no Brasil em 2007.

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No DVD extra fornecido na edição especial dupla, há vários extras bastante interessantes. Keith Emerson aparece numa igreja vazia tocando "Prelude To A Hope", a bela balada instrumental ao piano que faz parte da suíte que abre o CD. Um belo trabalho de câmeras, mostrando muito bem toda a técnica exacerbada de Emerson nas teclas. Um "making of" com fragmentos das gravações é a atração principal do DVD, dando uma idéia de como ocorreram as sessões. Também em vídeo, a sessão de fotos promocionais para este álbum, na qual foi posto fogo num piano, ao ar livre. Além disso, há nos extras algumas músicas ao vivo gravadas no festival Gastroblues 2006, na Hungria, com ótimas versões para "Piano Concerto", "Bitches Crystal", etc. do ELP, com Emerson e Bonilla arrebentando tudo, literalmente. Algumas interessantes fotos de fãs também estão presentes, incluindo a famosa foto (montada em Photoshop ou algo do gênero), na qual Keith derruba o "porco voador" dos shows de Roger Waters.

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CD:
1. The House of Ocean Born Mary 34:58
i. Ignition
ii. 1st Presence
iii. Last Horizon
iv. Miles Away, Pt 1
v. Miles Away, Pt 2
vi. Crusaders Cross
vii. Fugue
viii. 2nd Presence
ix. Marche Train
x. Blue Inferno
xi. 3rd Presence
xii. Prelude To A Hope
xiii. A Place To Hide
xiv. Miles Away, Pt 3
xv. Finale
2. The Art Of Falling Down 3:29
3. Malambo (From "Estancia Suite") 5:33
4. Gametime 2:39
5. The Parting 4:44

DVD (apenas na "Limited Edition"):
1. Prelude To A Hope
2. Ignition
3. Create In The Blue Corner
4. Recording At The Greene Room
5. Burning In Borrego Springs
6. Miles Away
7. Finale

Extras:
1. Photo Gallery
2. Live From Hungary 2006
i. Karn Evil 9 (1st Impression, Part 2)
ii. Piano Concerto (3rd Movement -Toccata con Fuoco)
iii. Living Sin
iv. Bitches Crystal

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Website: http://www.keithemerson.com

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Sobre Rodrigo Werneck

Carioca nascido em 1969, engenheiro por formação e empresário do ramo musical por opção, sendo sócio da D'Alegria Custom Made (www.dalegria.com). Foi co-editor da extinta revista Musical Box e atualmente é co-editor do site Just About Music (JAM), além de colaborar eventualmente com as revistas Rock Brigade e Poeira Zine (Brasil), Times! (Alemanha) e InRock (Rússia), além dos sites Whiplash! e Rock Progressivo Brasil (RPB). Webmaster dos sites oficiais do Uriah Heep e Ken Hensley, o que lhe garante um bocado de trabalho sem remuneração, mais a possibilidade de receber alguns CDs por mês e a certeza de receber toneladas de e-mails por dia.
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