Renê Seabra: solo sem chatice nem auto-indulgência
Resenha - As Cores de Maria - Renê Seabra
Por Rodrigo Werneck
Postado em 04 de maio de 2008
Nota: 9 ![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
Discos solo de guitarristas e baixistas são em geral bastante chatos e auto-indulgentes, salvo raríssimas exceções. Algumas pessoas gostam de exibicionismos técnicos, claro, mas a verdade é que se as composições de um álbum não têm qualidade, após algum tempo ele acaba pegando poeira abandonado numa prateleira. Este *não* é o caso aqui...

Renê Seabra é um baixista bastante conhecido no cenário rock paulistano. Já tendo tocado em grupos como Controlle, a Rockestra de Paulo Zinner, a Patrulha do Espaço, e a Orckestra Paulista de Contrabaixos, entre vários outros. Reuniu portanto um time de primeira categoria para gravar o seu primeiro CD solo, contando com a ajuda de vários companheiros antigos e atuais de banda(s).
Como o próprio Renê esclarece, ele tem uma visão própria sobre a música instrumental brasileira, ou de como ela deveria ser feita de forma a ser mais popular do que é. Nessa linha de pensamento, ele se vê identificado com o estilo de pintura de Cândido Portinari, que conseguia mesclar com maestria um estilo popular e uma técnica impecável.
Com o centenário do nascimento de Portinari, comemorado em 2003, Renê começou a estudar sua obra, pela qual se apaixonou. Teve então a idéia de criar temas musicais em cima de vários quadros do pintor, em específico os retratos de Marias. Entre as Marias de Portinari, estão algumas desconhecidas (genéricas), e outras famosas como Maria Bonita (junto de Lampião), e a própria esposa dele, a uruguaia Maria Vitoria Martinelli.
Tendo como parceiro de composição Ricardo "Cacá" Aricó, os temas surpreendem por serem de uma forma geral composições instrumentais de rock, com influências bem brasileiras como o baião e outros, e tendo o baixo como personagem central, mas nunca obstruindo o caminho dos demais instrumentos. Traçando um paralelo, algo na linha do que o baixista Chris Squire (do Yes) fez em seu estupendo disco solo "Fish Out of Water" (de 1975), só que mais voltado para o hard rock e não para o progressivo.
Logo de cara, a abertura com "Maria Bonita", uma verdadeira pedrada com uma levada que Renê muito apropriadamente classifica de baião progressivo, e que inclui até um trecho de "Asa Branca", de Luiz Gonzaga, num inspirado solo de baixo. No órgão Hammond e violão, Rodrigo Hid, que foi da Patrulha do Espaço e está hoje em dia na excelente banda Pedra. Em seguida, "Maria de Fátima" traz as participações especiais de seus colegas de Rockestra, Paulo Zinner (bateria) e Fernando Piu (guitarra, ex-Vírus). Para dar uma diminuída no ritmo, "Maria Padilha" traz Renê no baixo e no Mellotron (altamente climático), e um solo jazzístico da guitarra de Cacá Aricó. Inserida em seu meio, outra referência à música popular brasileira, "Bola de Meia, Bola de Gude" (de Milton Nascimento), tocada com flautas.
Outra pedrada vem a seguir, na forma de "Maria da Louquidão", uma mistura de King Crimson anos 70 com hard rock brazuca, apimentada pelo baixão distorcido e "senhor de si" de Renê, e pela guitarra pesada e bem colocada de Marcello Schevano, companheiro de Renê na Patrulha e também membro da banda Carro Bomba. Essa emenda em "Maria da Fé", apresentando a Orckestra Paulista de Contrabaixos, da qual participam, além de Seabra, Nelson Brito (Golpe de Estado), Lee Marcucci (Rita Lee & Tutti Frutti, Rádio Táxi, Titãs), entre outros. Depois desse refresco aos ouvidos, um verdadeiro soco sonoro invade os alto-falantes: a formação da Patrulha que nunca chegou de fato a existir, contando com os integrantes Rolando Castello Júnior (bateria), Rodrigo Hid (Hammond e Moog), Marcello Schevano na guitarra e, obviamente, Renê no baixo, leva "Maria Aparecida". O nível parece ficar cada vez mais alto...
Criando um contraste bacana, entra "Maria de Lourdes" e sua sonoridade meio havaiana, cortesia da lap steel guitar tocada de forma sublime por Luiz Carlini (outro Tutti Frutti), além da trinca formada por Seabra, Schevano e Junior.
Como que trocando de disco (se fosse um LP duplo, provavelmente seria isso mesmo), mudamos das "Marias" para as "Cores". O estilo muda um pouco também (as composições passam a ser somente de Renê), ficando menos objetivo e mais experimental e, em alguns casos, quase psicodélico. A música a seguir se chama "Laranja", e traz novamente Zinner na batera, e o ótimo guitarrista Faíska (atualmente, com o Casa das Máquinas). Já "Lilás" apresenta Seabra no baixo fretless e um solo blueseiro de Nando Chagas, seguida pela bela e intimista "Vermelho", que junta baixo, violão e a Orchestra Experimental.
"Amarelo" traz Renê Seabra em outro momento meio King Crimson (agora, o dos anos 80, da época da "trilogia colorida"... Uma referência subliminar talvez?), tocando seu baixão distorcido junto a guitarras e programações. Para contrastar, "Púrpura" o traz em momento mais contido, juntando seu baixo aos violões de Pedro Paulo Ribeiro Chagas e Loli. Nesta, outro tema incidental: "Trem das Onze", de Adoniran Barbosa.
"Azul" traz a banda Controlle especialmente reunida, incluindo Renê no baixo e Loli na guitarra e um teclado Hering(!), e ainda Hélcio Aguirra (Harppia, Golpe de Estado) na guitarra e Johnny Batera na bateria (of course). Outros temas inseridos são "Na Baixa do Sapateiro" (Ary Barroso) e a popular "Marcha Soldado". Novamente a Patrulha do Espaço pinta na área em "Verde", que de verde não tem nada, numa composição madura que junta momentos pesados com outros totalmente jazzísticos, incluindo aí uma "orquestra de pistons".
Finalizando o disco, o momento mais viajante na forma da chamada faixa-bônus, "Shiva". Cítaras, violões e percussões criam um clima que chega a lembrar as viagens de Page & Plant em seus momentos não-rock, com um olho no mundo oriental.
Resumindo, Renê Seabra preparou uma pequena obra-prima com muito carinho, e para gravá-la chamou um verdadeiro "quem é quem" do cenário hard rock paulistano dos últimos 30 anos, junto a músicos (e instrumentos) um tanto quanto inusitados, para conseguir dar o seu recado, juntando rock com música popular brasileira de forma inteiramente bem concebida e realizada. Garanto, os fãs de rock irão adorar este riquíssimo trabalho, cheio de diferentes nuances e climas, e grande variação dinâmica. Pesado e requintado, é só entrar no clima e curtir...
Luis Alberto Braga Rodrigues | Rogerio Antonio dos Anjos | Everton Gracindo | Thiago Feltes Marques | Efrem Maranhao Filho | Geraldo Fonseca | Gustavo Anunciação Lenza | Richard Malheiros | Vinicius Maciel | Adriano Lourenço Barbosa | Airton Lopes | Alexandre Faria Abelleira | Alexandre Sampaio | André Frederico | Ary César Coelho Luz Silva | Assuires Vieira da Silva Junior | Bergrock Ferreira | Bruno Franca Passamani | Caio Livio de Lacerda Augusto | Carlos Alexandre da Silva Neto | Carlos Gomes Cabral | Cesar Tadeu Lopes | Cláudia Falci | Danilo Melo | Dymm Productions and Management | Eudes Limeira | Fabiano Forte Martins Cordeiro | Fabio Henrique Lopes Collet e Silva | Filipe Matzembacher | Flávio dos Santos Cardoso | Frederico Holanda | Gabriel Fenili | George Morcerf | Henrique Haag Ribacki | Jorge Alexandre Nogueira Santos | Jose Patrick de Souza | João Alexandre Dantas | João Orlando Arantes Santana | Leonardo Felipe Amorim | Marcello da Silva Azevedo | Marcelo Franklin da Silva | Marcio Augusto Von Kriiger Santos | Marcos Donizeti Dos Santos | Marcus Vieira | Mauricio Nuno Santos | Maurício Gioachini | Odair de Abreu Lima | Pedro Fortunato | Rafael Wambier Dos Santos | Regina Laura Pinheiro | Ricardo Cunha | Sergio Luis Anaga | Silvia Gomes de Lima | Thiago Cardim | Tiago Andrade | Victor Adriel | Victor Jose Camara | Vinicius Valter de Lemos | Walter Armellei Junior | Williams Ricardo Almeida de Oliveira | Yria Freitas Tandel |
Tracklist:
1. Maria Bonita
2. Maria de Fátima
3. Maria Padilha
4. Maria da Louquidão
5. Maria da Fé
6. Maria Aparecida
7. Maria de Lourdes
8. Laranja
9. Lilás
10. Vermelho
11. Amarelo
12. Púrpura
13. Azul
14. Verde
15. Shiva (bonus track)
Site: www.cozinhadorock.com
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



Baterista quebra silêncio e explica o que houve com Ready To Be Hated, de Luis Mariutti
O "Big 4" do rock e do heavy metal em 2025, segundo a Loudwire
A música que Lars Ulrich disse ter "o riff mais clássico de todos os tempos"
O lendário guitarrista que é o "Beethoven do rock", segundo Paul Stanley do Kiss
Dio elege a melhor música de sua banda preferida; "tive que sair da estrada"
O álbum que define o heavy metal, segundo Andreas Kisser
Os 11 melhores álbuns de metal progressivo de 2025, segundo a Loudwire
A banda que fez George Martin desistir do heavy metal; "um choque de culturas"
We Are One Tour 2026 anuncia data extra para São Paulo
Os onze maiores álbums conceituais de prog rock da história, conforme a Loudwire
Para criticar Ace Frehley, Gene Simmons mente que ninguém morre devido a quedas
O primeiro supergrupo de rock da história, segundo jornalista Sérgio Martins
O Melhor Álbum de Hard Rock de Cada Ano da Década de 1980
Como foi lidar com viúvas de Ritchie Blackmore no Deep Purple, segundo Steve Morse
Os shows que podem transformar 2026 em um dos maiores anos da história do rock no Brasil
Quando Charlie Watts apontou o único frontman que superava Mick Jagger, dos Rolling Stones
Iggor Cavalera: por que ele recusou convite para entrar no Guns N' Roses
Se dependesse da vontade de Raul Seixas, talvez o Sepultura não existisse mais


"Fuck The System", último disco de inéditas do Exploited relançado no Brasil
Giant - A reafirmação grandiosa de um nome histórico do melodic rock
"Live And Electric", do veterano Diamond Head, é um discaço ao vivo
Slaves of Time - Um estoque de ideias insaturáveis.
Com seu segundo disco, The Damnnation vira nome referência do metal feminino nacional
"Rebirth", o maior sucesso da carreira do Angra, que será homenageado em show de reunião
Metallica: "72 Seasons" é tão empolgante quanto uma partida de beach tennis
Pink Floyd: The Wall, análise e curiosidades sobre o filme


