Queensryche: uma bela recauchutada em um clássico
Resenha - Mindcrime At The Moore - Queensryche
Por Paulo Ferreira
Postado em 19 de novembro de 2007
Nota: 9
Na onda atual de regravações ao vivo de velhos álbuns clássicos, "Operation Mindcrime" pega uma carona no lançamento de sua seqüência para receber uma bela recauchutada. O trabalho mais notável do Queensryche ganhou novos arranjos em uma versão ao vivo menos "sampleada" possível, no que pesem os inevitáveis efeitos nos diálogos entre uma música e outra desse que é um álbum conceitual, além de outras situações onde somente uma orquestra poderia resolver.
A abertura fica a cargo da tradicional animação da enfermeira em "I Remember Now", mas a partir daí tudo é novidade, a começar pelo grande número de percussionistas que surgem no palco para executar "Anarchy X", seguida por uma leve mudança no trecho inicial de "Revolution Calling", a fim de dar o tempo necessário para que os percussionistas deixem a cena.
Quem vê Geoff Tate exibindo simples cartazes contra George Bush logo em sua primeira aparição, pode ter uma impressão equivocada da ótima performance teatral que virá pela frente, pois a cartolina escrita a mão nem de longe reflete o requinte da apresentação.
Embora represente o papel principal da trama enquanto canta, nessa primeira parte do espetáculo um ator mais jovem divide a interpretação do personagem Nikki com o vocalista, o que vai se explicar na segunda parte do show, quando aí sim, numa continuação que se passa quase 20 anos depois, Tate assume o posto sozinho, inclusive sendo o ator nas imagens do telão.
Em "Spreading the Disease", Pamela Moore adentra ao palco no papel da sexy Mary e faz o primeiro dueto da noite. A cantora está muito mais presente nessa apresentação do que na gravação ao vivo de 1988, onde só aparecia na canção "Suite Sister Mary".
Em "The Mission", com um arranjo mais light no inicio que pode fazer os fãs da versão original de cara estranharem um pouco, Mary já reaparece vestida de freira e na seqüência repete a ótima performance do passado em "Suite Sister Mary".
Com muita qualidade e propriedade, a banda segue fazendo algumas alterações em velhas canções do seu consagrado álbum, a personagem Mary, mesmo após estourar os próprios miolos sob ordem hipnótica do vilão Dr. X, continua respaldando a banda com seu backing vocal, ainda que no fundo do palco e trajando uma manta preta, assombrando os pensamentos de Nikki, que acaba amarrado numa camisa de força enquanto interpreta uma brilhante versão de "Eyes of a Stranger", que culmina com Tate deixando o palco numa cadeira de rodas em estado catatônico, dando espaço aos percussionistas do inicio do show que voltam para encerrar a primeira parte de forma apoteótica.
No disco 2, a continuação da história mostra a fixação de Nikki no vilão Dr. X estampada nos recortes de jornais pendurados em sua cela. Após livre, o personagem incorpora um americano que acha que merece tudo que puder pegar, numa clara crítica ao exemplo dado pelos governantes do país e absorvida por alguns de seus cidadãos.
De volta às ruas, Nikki se depara com a decadência da sociedade e a até então loira Pamela Moore volta ao palco como uma provocante prostituta morena para cantar e ilustrar um cenário que conta ainda com um sem teto e um cafetão na faixa "One Foot in Hell".
Enquanto toda uma corte se faz presente em "Hostage", o telespectador já terá notado que "Operation Mindcrime 2" está mais interessante ao vivo do que quando muitos ouviram o álbum pela primeira vez.
Quem de certa forma se decepcionou esperando algo que batesse o primeiro lançamento, neste show terá a oportunidade de ver a segunda parte como o que ela realmente é, uma continuação.
E isso fica evidente quando a sede de vingança faz Nikki perseguir Dr, X em "The Chase", que merece uma ampla análise.
Primeiro é preciso dizer pra quem não sabe, que o intérprete do vilão Dr. X é nada mais, nada menos do que Ronnie James Dio e nesse ponto pra quem aguardava um dos maiores vocalistas da história no palco acontece a grande frustração de um espetáculo que se não fosse essa gafe, seria nota 10, mas o problema é que Dio não está presente e com isso se ausenta também Geoff Tate, que trava o grande duelo somente no telão, enquanto a banda sim, de forma muito competente, executa sua parte no palco.
É difícil se recuperar deste choque, o telespectador, na primeira vez que assistir, vai passar boa parte do restante do show, um ótimo restante de show, por sinal, tentando entender porque o que poderia ser o ponto mais alto da gravação não aconteceu, qual motivo teria levado a banda a gravar sem o Dio numa apresentação quase perfeita que envolveu tanta gente?
O fato é que a história de "Operation Mindcrime" tem um desfecho que merece ser visto e não é justo ter seu brilho ofuscado pela gafe na faixa 10 "The Chase".
No bis, o show ainda conta com os clássicos "Walking in the Shadows" e "Jet City Woman", pra levantar o público de Seattle.
Hora de conferir os extras, mas... Espera aí... É isso mesmo que estamos vendo??? Uma apresentação ao vivo de "The Chase" com Dio no palco?!?
A primeira reação é se perguntar novamente por que isso não aconteceu no contexto do show do DVD, mas antes isso do que nada, certo? De certa forma sim, mas aí lamentamos uma segunda gafe, a qualidade de som é muito baixa nesse extra em relação a apresentação na íntegra, só não é baixa o suficiente pra ofuscar o fantástico duelo entre Nikki (Tate) e Dr. X (Dio). É de cair o queixo como os dois grandes vocalistas executaram a música ao vivo, a performance de Dio como o vilão da história então é algo de magnífico inclusive no gestual e seu tom de voz ficou ainda melhor ao vivo do que na gravação de estúdio.
O que deveria ser um alento, torna a falta desse duelo no show principal do DVD algo ainda mais frustrante e de difícil compreensão. Como é que pode a banda ter gravado num dia em que o Dio não esteve presente???
Isto posto, vale ressaltar que o grande defeito do DVD foi extremamente explorado nessa análise, é o único ponto falho e esse texto destaca isso fortemente, o que não deve assustar quem estiver pensando em adquirir o "Mindcrime at the Moore" mas sim dar a certeza de que não há mais com o que se decepcionar sabendo disso, pois todo o restante é um trabalho primoroso, numa grande apresentação teatral, musical e com solos de guitarra matadores.
O lance é que não se cria uma expectativa pela presença de um ícone como o Dio pra depois frustrar os fãs, e por causa disso esse que é um dos grandes lançamentos desse ano perde um ponto, só um ponto, e ganha uma nota 9 justamente por ser excelente em todo seu restante.
E pra quem quiser ver uma grande performance do Dio ao vivo, resta ainda o DVD do Heaven & Hell lançado quase que simultaneamente com este do Queensryche pela mesma gravadora, a Rhino, mas aí já é material pra outra resenha.
Disco 1
1. I Remember Now
2. Anarchy-X
3. Revolution Calling
4. Operation Mindcrime
5. Speak
6. Spreading The Disease
7. The Mission
8. Sutie Sister Mary
9. The Needle Lies
10. Electric Requiem
11. Breaking The Silence
12. I Don´t Believe In Love
13. Waiting For 22
14. My Empty Room
15. Eyes Of A Stranger
Disco 2
1. Freiheit Ouverture
2. Convict
3. I´m American
4. One Foot In Hell
5. Hostage
6. The Hands
7. Speed Of Light
8. Signs Say Go
9. Re-Arrange You
10. The Chase
11. Murderer?
12. Circles
13. If I Could Change It All
14. An Intentional Confrontation
15. A Junkie´s Blues
16. Fear City Slide
17. All The Promises
18. Walk In The Shadows
19. Jet City Woman (Encore)
Extras:
• Tour Documentary
• "The Chase" performed live with Ronnie James Dio in Los Angeles
• Queensryche Rock N' Ride
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