Rhapsody: arrumação da casa após bagunça
Resenha - Triumph Or Agony - Rhapsody Of Fire
Por Bruno Sanchez
Postado em 14 de junho de 2007
Nota: 8
Antes de começar esta resenha, vale esclarecer que não faço parte da imprensa especializada que odeia os italianos do Rhapsody of Fire.
Nos últimos anos, xingaram os caras de tudo quanto é nome, estilo Tarantela Melódica, temas infantis e blá blá blá, mas poucos se lembram que os três primeiros álbuns da banda foram bastante elogiados pelos mesmos redatores (porque são muito bons, sim) e já traziam nomes como "Forest Of Unicorns", "Lord Of The Thunder" e "Emerald Sword" em seus sets, então por que criticar agora se as inspirações são exatamente as mesmas?
Outra coisa, Tolkien passou a vida inteira escrevendo sobre temas fantasiosos e duvido que alguém comente que seus livros são infantis. Aliás, se algum amigo ousar dizer uma besteira do tipo "Silmarillion foi escrito para crianças", por favor interne o indivíduo.
O problema atual do Rhapsody não vai pela linha do preconceito e sim que a banda deixou de produzir álbuns acima da média e tomou decisões esdrúxulas no gerenciamento da carreira. Curiosamente ou não, tudo começou depois que Joey DeMaio (esse mesmo!) começou a cuidar dos negócios.
Primeiro, os caras lançam o "Symphony Of Enchantes Lands Pt. II", até hoje reconhecido como a ovelha negra na discografia da banda. Quando um disco sai com o nome de um grande sucesso, pode ter certeza que tem alguma coisa errada na história, basta lembrar do "Operation Mindcrime II" do Queensryche ou "Keeper Of The Seven Keys III" do Helloween.
Veja bem, o "Symphony II" não é um álbum ruim, mas fica clara a falta de inspiração e as altas expectativas que cobravam por um clássico imediato.
Depois, decidiram gravar um álbum ao vivo (outro indício de que as coisas não estão bem) no Canadá. Ok, não tenho nada contra o povo canadense, mas por que italianos escolhem gravar um CD por lá, onde o público é muito mais frio do que em países latinos como nosso próprio Brasil?
Pior ainda, o Rhapsody foi apenas a banda de abertura do evento supracitado. Ou seja, a maior parte do público nem estava lá para vê-los e sim ao Manowar do – veja você – empresário e baixista, Joey DeMaio.
Pior que o setlist do primeiro ao vivo da carreira do grupo não é uma coletânea dos clássicos em versões matadoras com os fãs cantando junto e sim metade do insosso "Symphony Of Enchanted Lands Pt. II", que tinha acabado de sair e ninguém conhecia.
Aí estourou o problema dos direitos sobre o nome "Rhapsody". Não sei por que cargas d´água, alguém esperou 10 anos para cobrar royalties sobre o nome do grupo, o que obrigou Luca Turilli e sua trupe a acrescentar um "Of Fire" e seguirem suas vidas.
Mas agora, depois de tantos problemas, a banda atravessa um momento de calmaria e lança "Triumph Or Agony", um bom álbum (bem melhor que "Symphony II"), mas ainda longe do potencial e da qualidade dos clássicos da primeira saga, que vai do "Legendary Tales" ao "Power Of The Dragonflame".
Para variar, a capa e o encarte do novo álbum são caprichados. Já com relação às músicas, quem já ouviu qualquer coisa do grupo, vai se sentir familiarizado com os temas épicos e suas introduções, mesmo que não sejam tão pomposos quanto antes.
A voz de Fabio Lione volta limpa e cristalina, sem forçadas de barra e gritos mais rasgados que apareceram especialmente no álbum anterior, o que é ótimo pois o lance do cara é mesmo o melodicão clássico e seus agudos.
Nosso amigo Luca Turilli, a grande mente por trás da coisa toda, preferiu não inovar em suas linhas de guitarra e segue a cartilha do simples que funciona melhor para não tirar o holofote do lado sinfônico, o grande diferencial da banda.
Os demais integrantes também seguem sem maiores destaques, excetuando talvez Alex Holzwarth, que já mostrou em inúmeras oportunidades que é um excelente músico (inclusive quando substituiu Thomen nos shows da turnê brasileira do Blind Guardian em 2002). Infelizmente, no Rhapsody, ele acaba um pouco limitado aos bumbos duplos do melódico nas músicas mais rápidas e algumas batidas padrão nas baladas.
Por falar em baladas, elas nunca estiveram tão presentes em um disco do Rhapsody. Temos desde a cantada em italiana ("Il Canto Del Vento", bem ao estilo "Lamento Eroico") até a tradicional medieval em "Old Age Of Wonders", um dos destaques do álbum.
O velho Rhapsody, aquele capaz de despertar o dragão vermelho que existe em você, aparece na décima faixa. Uma pequena epopéia cheia de reviravoltas chamada "The Mystic Prophecy Of The Demonknight" (eita nomezinho, hem?), com mais de 15 minutos e boas alternâncias entre partes lentas e rápidas. Chega a lembrar até mesmo o hino "Dawn Of Victory" em alguns momentos, ótima composição com momentos bem dramáticos.
Outro destaque vai para a mais cadenciada "The Myth Of The Holy Sword", com um refrão pegajoso lembrando outro clássico: "Holy Thunderforce".
Enfim, como você percebeu, se já for fã do Rhapsody, pode comprar o "Triumph Or Agony" sem medo, apenas não espere a mesma criatividade dos primeiros álbuns, porque este aqui começa a arrumação da casa após tanta bagunça. A boa notícia é que aparentemente a banda reencontrou seu caminho, vamos torcer apenas para que não tenhamos mais decisões gerenciais equivocadas no futuro.
Setlist:
1. Dar-kunor
2. Triumph Or Agony
3. Heart Of The Darklands
4. Old Age Of Wonders
5. The Myth Of The Holy Sword
6. Il Canto Del Vento
7. Silent Dream
8. Bloody Red Dungeons
9. Son Of Pain
10. The Mystic Prophecy Of The Demonknight
11. Dark Reign Of Fire
Line-up:
Fabio Lione – Vocal
Luca Turilli – Guitarra
Dominique Leurquin – Guitarra
Patrice Guers – Baixo
Alex Staropoli – Teclado
Alex Holzwarth - Bateria
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