Resenha - Return of the New York Dolls - New York Dolls
Por Cristiano Viteck
Postado em 25 de agosto de 2005
Velvet Underground, Stooges, MC5 e Television. Agora não falta mais ninguém. Todas essas bandas, fundamentais para gestação do movimento punk, recentemente ou já há alguns anos deram uma lustrada no sapato velho, tiraram os trajes surrados do fundo do guarda-roupa e fizeram um retorno triunfal aos palcos para mostrarem seus trabalhos a uma geração mais jovem e, é óbvio, faturar uns bons trocados.
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A volta das bonecas
Agora, se você conhece um pouco da história do movimento punk, e do rock em geral, deve ter notado que na lista de bandas acima faltou um nome fundamental, o qual atende pelo nome de New York Dolls. Com o seu visual de travecos decadentes, as bonecas de Nova York foram um dos principais nomes da era glam no início dos anos 70 e o seu rock básico com letras tratando do lado escroto da Big Apple foi uma influência enorme para o que anos depois seria chamado de punk. Não à toa, Malcolm McLaren, antes de levar os Sex Pistols à fama, fez dos New York Dolls o seu laboratório. Neste caso, a união de banda e empresário não deu muito sério, mas aí já é outra história.
Frankenstein
Pensando bem, nem mesmo um milagre faria dos New York Dolls um grande sucesso. O som era de primeira, rock clássico, coisa para macho. Mas aí o cara ia comprar o disco na loja e no lugar de jaquetas de couro e jeans surrados, na capa os músicos calçavam sapatos de plataforma, usavam vestidos, tinham permanentes de fazer inveja a qualquer modelo dos anos 80, uma carregada maquiagem feminina e muita purpurina. Aparecer com um disco desses embaixo do braço poderia colocar a masculinidade de qualquer sujeito sob suspeita. E não era para menos. Conforme o baterista Jerry Nolan conta no livro "Mate-me por favor" (de Legs McNeil e Gillian McCain), "no começo, boa parte da platéia dos New York Dolls era gay, mas nós todos éramos heteros, é claro. E vou te contar uma coisa: as mulheres perceberam imediatamente. Foram os homens que ficaram confusos. E elas nos adoraram por isso, porque a gente tinha culhão para se vestir daquele jeito".
Além disso, havia as drogas. Muitas drogas. Billy Murcia, o baterista original do grupo, morreu de overdose em 1972 durante a primeira turnê dos New York Dolls em Londres, antes mesmo da banda lançar o seu disco de estréia. Johnny Thunders, um dos guitarristas da banda e um dos maiores junkies da história do rock, morreu de overdose em 1991. O baterista Jerry Nolan foi logo depois, totalmente acabado, em 1992.
Mas, enfim, o importante é que no início dos anos 70 os New York Dolls tiveram seus dias de glória. Foi uma das bandas mais festejadas do underground novaiorquino e deixou dois excelentes discos de estúdio: o de estréia "New York Dolls" (1973) e derradeiro "Too Much Too Soon" (1974). As baixas vendas, o estilo de vida promíscuo e mudanças em sua formação acabaram por minguar a banda, que sabiamente encerrou as atividades em 1977.
Este seria o fim da história dos New York Dolls se, no ano passado, o cantor Morrissey (ex-vocalista dos Smiths que quando jovem foi presidente de um fã-clube inglês da banda) não tivesse convencido as bonecas originais sobreviventes David Johansen (vocal), Sylvain Sylvain (guitarra) e Arthur Kane (baixo) e fazerem uma espécie de volta relâmpago aos palcos. E este retorno aconteceu em Londres, durante o Royal Festival Hall, sendo que tudo foi registrado e acabou lançado em CD e DVD sob o título de "The Return of the New York Dolls".
Tarde demais
No repertório, todas as clássicas canções do grupo, como "Looking For a Kiss", "It’s Too Late", "Vietnamese Baby", "Personality Crisis", "Babylon" e "Human Being", só para citar algumas. Na platéia, um mar de antigos fãs (que você identifica pelas carecas salientes) se mistura aos mais jovens adoradores. Já no palco, um New York Dolls que ficou visivelmente debilitado pela ação do tempo. O baixista Arthur Kane era praticamente um morto-vivo (e de fato ele morreu semanas depois, no dia 13 de julho, de uma leucemia fulminante). O vocalista David Johansen era uma cópia perfeita de Mick Jagger, pelo menos na fisionomia, já que o pique no show está quilômetros distante da atuação do dono da voz dos Rolling Stones. O destaque ficou mesmo com o guitarrista Sylvain Sylvain, que não parava um minuto sequer, trocava beijinhos com o resto da banda, rebolava e fazia pose de rock star. Já os músicos de apoio (o ex-baterista do Libertines Gary Powell, o tecladista Brian Koonin e o guitarrista Steve Conte) tiveram uma atuação discreta. Eles sabiam que a festa não era para eles e que estavam ali somente servindo de trampolim para as bonecas originais.
O DVD de "The Return of the New York Dolls" conta com 20 faixas, três a mais do que o CD. Nos extras do audiovisual foi incluída a passagem de som, uma entrevista com Arthur Kane e, o que é óbvio num lançamento com este perfil, depoimentos de vários artistas falando sobre a importância da banda. Entre eles, Chrissie Hynde (Pretenders), Bob Geldof (Boomtown Rats), Mick Jones (The Clash), Don Letts (Big Audio Dynamite) e Tony James (Generation X).
Está certo. Você pode até dizer que com tantos desfalques este não é o New York Dolls de verdade. E quer saber, os próprios músicos também sabiam disso. A prova é que eles tiveram o bom senso de não usar trajes femininos e ficar parecendo três tias velhas em encontro de clube de idosos. Melhor assim, pois o que você vê e ouve neste "The Return of the New York Dolls" são três ícones que sobreviveram com dignidade e conseguiram manter a sua música atual e impactante, mesmo após tantos anos.
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