Joy Division : Transmissão para a Eternidade
Por André Garcia
Fonte: medium.com
Postado em 14 de julho de 2017
"[…] Um labirinto de ruas sujas. A iluminação pública ainda era de um amarelo muito tedioso […] A violência estava por toda parte — e era aceita. Havia uma escuridão espiritual, assim como a escuridão literal: ainda havia muitos vagabundos com uniformes de desmobilização do Exército, lojas de discos em prédios sombrios, praças completamente sem iluminação, 70% dos prédios do centro da cidade estavam abandonados e tudo dependia do último ônibus para casa. Tudo ainda era visivelmente de um período pós-guerra e com uma feiura muito industrial, tudo descolorido com a poeira de cem anos, e o rock era um enxame de infelicidade."
Assim era Manchester nos anos 70, segundo descrito por Morrissey no livro The Smiths — A Biografia, de Tony Fletcher. E foi nesse cenário que surgiu a banda Warsaw, em 1976, que logo mudaria de nome para Joy Division e se tornaria famosa por representar o que era viver aqueles tempos sombrios e decadentes melhor do que qualquer outra banda da cidade. E isso em muito graças a seu vocalista e compositor, o sensível, solitário, introspectivo e deprimido Ian Curtis.
A música do Joy Division é caracterizada pela atmosfera densa e hipnótica formada pela combinação da sonoridade crua e suja com as letras melancólicas e o vocal grave (ora gélido, ora desesperado), bateria direta como uma marcha militar, linhas de baixo marcantes e guitarra cortante. E todos esses elementos estão reunidos naquela que se tornou uma das mais emblemáticas canções do grupo: ‘Transmission’.
A letra de ‘Transmission’ traz uma rádio transmissão ao vivo onde Ian Curtis fala, de forma poética, não apenas sobre sua vida em Manchester, mas a de sua geração. Uma geração mais do que arruinada, condenada; Uma geração de filhos de trabalhadores pobres numa cidade velha, feia e abandonada sem qualquer oportunidade ou opção de entretenimento ou diversão para obter algum prazer na vida; uma geração esmagada pela crise do capitalismo numa cidade que já havia sido uma das mais industriais da Europa; uma geração que vivia o caos entre apagões, racionamento de combustível, serviços públicos em colapso, violência, greves, fascistas marchando nas ruas e um governo neo liberal esmagando a classe trabalhadora com mãos de ferro; uma geração sem esperanças, sem perspectivas de um futuro melhor, que se sentia vivendo os créditos finais da história entre os escombros de um plano que deu errado.
Ao final da música Curtis ordena repetidamente, com uma urgência desesperada, que o ouvinte dance diante do rádio. O rádio, a única válvula de escape, a única fuga daquele mundo, daquela vida. A única coisa que resta a eles: Fechar os olhos e dançar para que, durante alguns minutos, nada mais no mundo importe.
A união dos conceitos utilizados por Curtis nessa música é brilhante. Afinal, o que é o rádio se não uma ferramenta para propagar a voz através do tempo e do espaço? E o que é o rock se não uma linguagem que dá voz a jovens que precisam gritar sua insatisfação para outros jovens igualmente insatisfeitos? Naqueles tempos, o que havia de melhor para alguém que precisava gritar para todo mundo ouvir do que o rádio?
Ian Curtis morreu poucos meses após o lançamento de ‘Transmission’, aos 23 anos de idade, mas ele será eternamente lembrado como um dos poetas do rock que colocaram seu coração em sua música de forma mais marcante. Seu corpo físico se desfez, mas sua transmissão vai ecoar para sempre.
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