Resenha - Guns N' Roses (Porto Alegre, 26/09/2022)
Por Rudson Xaulin
Postado em 29 de setembro de 2022
A passagem do GUNS N’ ROSES em Porto Alegre, seria a última da debandada da banda em terras brasileiras. E além do próprio perfil da banda cobrir isso com maestria, cada local teve um logotipo específico, com a cara da cidade, que se tornaram lindas camisetas. Porto Alegre teve o laçador homenageado, o pôr do sol do guaíba de fundo, cuias de chimarrão nas extremidades da arte, foi tudo muito bem pensado, e pensado com carinho. Nos arredores do local do show, a Arena do Grêmio, desde cedo o básico: Ônibus de excursões para todo lado, ambulantes vendendo até a alma da mãe com logo do GN'R, fãs e suas camisetas pretas, filas enormes e muita expectativa, em alta, do que viria pela frente. Ainda tivemos tempo, para ver alguns integrantes da banda chegarem em uma van preta, para delírio de quem conseguiu ver, além de RICHARD FORTUS, estar atrás de um alambrado e de algumas viaturas, passando quase despercebido. A banda tinha que fazer bonito, era o último show por aqui, os fãs esperavam demais da banda, e a banda entregou, sim.
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De abertura, show da TOKYO DRIVE. Banda gaúcha, que estava feliz por estar em cima daquele palco, mostrou respeito, mesmo com problemas técnicos no começo do show. Do som que sumiu, de fato, não se ouvia o baixista cantar nada, praticamente. Dificuldade de ouvir/entender o vocalista da banda, o som do baixo, como instrumento, apareceu lá pela quarta música. A guitarra se sobressai, mas só. Uma pena, serem nerfados como aconteceu com a banda que abriu para o KISS. Problema de produção, e produção local, mas...
O GUNS N' ROSES tomou o palco de assalto, em IT'S SO EASY, como uma pedrada, que fez todo mundo sair do chão, pulando, gritando e cantando o grande hit do grupo. Tecnicamente, o som do próprio AXL estava baixo, durante o show todo, e isso bem próximo ao palco. A produção precisa explodir tudo quando bandas assim estão por aqui, não é culpa da banda, mas aconteceu. E com isso, se descobria com facilidade quem sabia ou não cantar em inglês, engraçado até e divertido... MR BROWNSTONE, da destaque a FRANK FERRER, "baterista odiado" e que começa a ser amado. Pois ficou claro que ele é o baterista do GUNS N' ROSES, e isso deve ser até o fim do grupo. CHINESE DEMOCRACY, mostra com clareza que AXL ROSE tem muita potência na voz de peito, uma das canções de tom mais grave, e gravada assim, ao vivo, soa quase que perfeita.
SLASH se destaca de início, é um show à parte, e em seus ombros, muita responsabilidade de ser um foco o tempo todo. E ele não decepciona: Além de tocar muito, obviamente, ele é um cartunesco personagem que saí de um filme, e está ali, bem na sua frente. Ele sabe disso, todos os trejeitos estão lá, todos os trajes típicos estão lá, SLASH vale cada centavo. E falando nele, do seu VELVET REVOLVER, tivemos a excelente SLITHER, que ao vivo, mostra a pancada de DUFF e seu baixo, mais uma vez. Pesado, preciso e extremamente nítido. AXL ROSE em SLITHER, me soou estranho, quando vi no ROCK IN RIO, pela primeira vez, mas em Porto Alegre, ficou no ar de novo: "E se essa música tivesse sido gravada por ele?", o resultado foi peso e pancada, de um dos melhores sons do VELVET REVOLVER.
DUFF é extremante carismático, envolvente e nitidamente feliz demais por estar no palco. Se tivesse que chamar alguém para aquela cerveja gelada, DUFF era o cara certo. BETTER é uma das "novas" canções, que tem espaço garantido entre os fãs da banda, sempre muito bem recebida. Uma pena, de verdade, que MADAGASCAR não tenha dado seus ares, mas ela merecia. Em BETTER, é notável o esforço de AXL para levar o melhor show possível, e no auge dos seus sessenta anos, ele entrega muito mais do que muitos tiozões aí. Que falam muita groselha, mas mal conseguem dar aquele gracejo na morena, e ficam falando como se fossem os maiores rockstar do mundo, e não são nem dentro do quarto. Cara, se liga. Você não é nada, AXL ROSE, sempre será AXL ROSE, você goste ou não.
LIVE AND LET DIE, que sempre é "ela" ao vivo, foi uma que fez muitas pessoas ficarem eufóricas, com AXL e seus gritos. Uma pena, o mar de celulares, uma coisa é guardar alguns registos, mas outra bem diferente é ver o show pela "telinha", com os caras há 2 ou 3 metros de você. E algumas "paty’s rockers", que ficavam reclamando de tudo: Porque encostavam nelas, porque alguém pulava, porque alguém gritava, porque alguém respirava. Acha mesmo que AXL & CIA vão notar seu look despojado de menina rebelde de AP, que tem um inglês chulo? Moça, você está no lugar errado... ESTRANGED veio e tomou tudo de assalto, uma das mais belas canções da banda, um clássico de harmonia, vocais, cozinha, teclados, tudo! Essa canção ao vivo é bela e fenomenal. Foram muitas músicas ao vivo que Porto Alegre ainda não tinha visto, e falando em AXL mandar bem demais: O que foi RECKLESS LIFE? Rapaz, achei que o "ómi" ia explodir. O amado drive apareceu lindamente, a versão dessa música ao vivo executada pela banda é avassaladora, e foi um dos pontos altos da performance como um todo, do grupo.
Ah, não podemos esquecer de SHADOW OF YOUR LOVE, outra que, ao vivo, foi bonito de ver e ouvir. Dos primórdios dos primórdios, de outrora, e uma senhora pancada ao vivo. Mais destaque a FRANK FERRER em ROCKET QUEEN, outro clássico. Pode AXL não entregar os drives aqui, mas e aqueles agudos? E a porra da belíssima afinação? Bonito, muito bonito. SLASH aqui é destaque também, fazendo todo mundo mergulhar nos anos noventa, com carinho e saudade, mas diante dos olhos, os caras fazem o mesmo de sempre. Com essa idade, com essa energia. SLASH não para, corre, pula, troca de guitarra a cada quatro segundos, atravessa o palco, está bem aqui, daqui a pouco está lá. AXL não correu muito nessa noite, mas devido ao tamanho do palco e das suas passarelas, caso contrário, o pique ainda está lá, você querendo ou não, tudo está muito vivo nele. Toda vez que ele ficava ali, bem perto da grade, há uns dois metros de ti, tu percebes todos os detalhes, os trejeitos, as caretas, as mesmas caras de sempre. Se você olhar para AXL e dizer que ele não é o mesmo AXL, é porque você nunca de fato viu e entendeu AXL. Eu vi no AXL ROSE de sessenta anos, o mesmo cara de vinte e poucos, que me abriu as portas para todas as bandas que vieram depois, em todos os detalhes possíveis. Depois de ver uma dezena de shows ao vivo deles, você sempre associa os caras que via na TV quando moleque, com os caras ali, e eles são eles, simples assim.
E olha o "odiado" FRANK (cara, eu te adoro!) brilhando em YOU COULD BE MINE. O filho da mãe está sempre sorrindo, está sempre feliz de estar lá, então, porque diabos você não deixa o rio fluir e entender que: Ele foi leal no meio de todo aquele furacão, é por isso que ele está lá, e vai ficar lá. Tenho contato com ADLER, ele ás vezes passa pelas minhas coisas, e também fui convidado para um "evento secreto", que trouxe MATT (e GILBY, além de BACH e GIBBONS), mas olho para FRANK e penso que é ele quem merece estar lá, bem agora. Assim como RICHARD FORTUS, que é simpatia pura e um puta de um guitarrista. Lembra IZZY? É, lembra, então, porque ficar sempre choramingando as mesmas baboseiras atrás do teu teclado? Você deve ter amigos, que por algum motivo, nunca mais falou, por dez anos, quinze, ou mais. Consegue imaginar sentar com esses caras e pensar que tudo seria "normal ou como antes"? Outro escudeiro, é DIZZY, extremamente, eu disse extremamente discreto, mas altamente notável e essencial ao vivo. E ao lado dele, MELISSA, a garota que começa a ser a nova queridinha dos fãs. Caminha a passos largos para ser alguém que os fãs vão ao show, ver também, não só o power trio de ouro.
DUFF ganha tudo em ATTITUDE, mais dos anos noventa estão lá. Além de tocar bem, se manteve bem, está bem e manda muito bem. DUFF foi muito gentil com as pessoas que pode interagir, além de brincar e sorrir, distribuiu palhetas e manda recados para muitas pessoas, fazendo caretas e sorrindo. Tivemos espaço para as novas canções (eu sei que não são novas, seu mala), ABSURD, outra que mostra fácil o grave de AXL, que precisa ser mais aproveitado e HARD SKOOL, que também quis aparecer e já digo: Tem mais música nova chegando aí, que verão a luz do dia antes que tu espera ou imagina... A banda mandou um recado claro em CIVIL WAR, além das bandeiras da Ucrânia que estão nas extremidades do palco, desde sempre, as imagens no telão mostram um lado, como de quase todo o planeta. CIVIL WAR ao vivo, é sempre CIVIL WAR ao vivo. Que música, que tocada, que paulada e que modo belo de mandar um tirano "se", você sabe (aquele grito de IT’S SO EASY) :)
[an error occurred while processing this directive]SORRY apareceu, olha o puta grave aqui de novo... As brincadeiras de AXL para apresentar a banda, já virando bordão de "esquecer" de apresentar SLASH, que se sobressai em seu solo, magistral, e logo, o hino: SWEET CHILD O’MINE. Aqui, Porto Alegre mostrou ao público do Rock In Rio, o que é curtir essa música ao vivo. O estádio lindamente iluminado, um coro assustador vindo de todos os lados, o chão tremendo, tu querendo pular ou não, a galera te fazia sair do chão. Era SCOM, era o hino absoluto. Os detalhes de SLASH no riff, seu solo, ficar admirando aquilo quase que em câmera lenta. Um drive aqui, lá, trocas e mais trocas de figurino e show seguindo, sendo "o" show. NOVEMBER RAIN, que veio sem fogos, e sem o drive (que talvez, se sinta mais falta nela), fez muitos marmanjos chorarem e para tantos outros, ela é sempre uma das mais esperadas da noite. Aqui, recado especial para uma tia minha, que perdeu a batalha contra o COVID (como outras milhões de pessoas no mundo): Ela era apaixonada pela banda e por essa música específica. Além de suas "caveiras", que após seu AVC, palavra essa, "caveira e adoro Guns, poxa vida", que ela mais falava. Levamos um de seus anéis (de caveira, claro) ao show, e nessa música, o erguemos, como se ela estivesse lá. E acho que ela estava...
No cover de WICHITA LINEMAN, AXL ROSE ficou bem na nossa frente, ali, parado um bom tempo, e mostrou fôlego nos alcances de notas mais longas. AXL ROSE estava bem a "cara de AXL ROSE" em KNOCKIN’ ON HEAVEN’S DOOR, nos trajes e nas devoluções do coro ao público em algumas passagens de trechos da música. Gritos altos, alcances mais longos ainda, drives, fez de tudo, e das "lentas", destaco KOHD aqui. Depois, SLASH veio e ficou esperando a sua vez de entrar com tudo, em NIGHTRAIN, bem a nossa frente, bem a cara dos velhos shows, dos velhos senhores. NIGHTRAIN foi um dos destaques das "pesadas", que paulada na "zoreia", para o cansaço ir embora, para o sono não querer vir. E realmente como uma locomotiva sem freios, o GUNS N’ ROSES ia destruindo tudo pelo caminho e fazendo o público ficar estupefato, como podia. Ah, muito obrigado, NIGHTRAIN! Para o bis, COMA (animal ao vivo, sem mais), PATIENCE, cantada em uníssono, do assovio até aquela última nota que AXL busca folego, sabe-se lá de onde e sorrindo. Ao final é claro: PARADISE CITY, sem os papeis picados, mas com muito barulho e energia.
[an error occurred while processing this directive]O GUNS N’ ROSES saiu de cena ovacionado, como merecia, deu mais um grande show para Porto Alegre e mostra, com cada vez mais clareza, que eles são umas das últimas bandas capazes de arrastar multidões, encher estádios e arenas, ao redor do mundo. Aproveite, pois isso está com os dias contados. E volto a dizer: A grande questão não é se você vai ou não no show, mas sim, até quando esses shows estarão disponíveis. É uma era chegando ao fim. Aprecie, respeite e sinta isso ao vivo, enquanto você ainda pode.
Um adendo: Através de Ron Thal (valeu sempre, meu irmão!), com quem converso com certa frequência, ele entregou meus livros para AXL enquanto ainda estava na banda, e até aí, já era jogo ganho. Mas ontem, AXL pegou o meu livro no palco. O notou, olhou, voltou e pegou. Jogou na passagem para os camarins, não chutou, não devolveu para a galera e não ficou bravo :) Então, o jogo agora está 2x0... Apenas algumas músicas, certas para poder fazer isso, na hora certa, e deu tudo certo e tem muito mais coisas sobre isso! Obrigado, por todas as mensagens que recebi...
Rudson Xaulin é escritor, com mais de 130 livros escritos e publicados.
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