Resenha - Krisiun e Asmodeus (Pirata Bar, Fortaleza, 18/01/2020)
Por Leonardo M. Brauna
Postado em 23 de janeiro de 2020
Fotos: Victor Rasga
Estilos como death metal, black metal, thrash metal e hardcore são bem acolhidos nas noites da capital cearense, até mesmo por lugares inusitados como o Pirata Bar, que é um dos locais mais frequentados pelos turistas à procura de forró às segundas-feiras, porém, não é de hoje que a tradicional casa de show recebe a cena rockeira em seu interior. Aqui mesmo há 23 anos, os protagonistas da noite de hoje visitaram o estado pela primeira vez. Sim, Fortaleza é uma das capitais brasileiras que respira metal extremo e a confirmação disso está na história underground da própria cidade, onde mais atrás, em 1984, uma banda inspirada em nomes como Venom, Hellhammer e Slayer dava os primeiros passos ao que se tornou hoje o cenário do metal no Ceará.
E foi esta banda, ASMODEUS, formada por Elineudo Morais (vocal, Flagelo), Fábio "Morceguinho" (guitarra e backing vocal, ex – S.O.H.), Acácio Vidal (bateria, ex – GS Ttruds) e o fundador Andreson Frota (baixo) quem ergueu os ânimos com o som old school de seu primeiro álbum 'Parabellum', lançado em 2018. Não seria habitual uma apresentação ruim deste quarteto, pois a experiência dos músicos fala por si. ‘Guerra’, ‘Sangue de Minhas Mãos’ e ‘PNCDBA’ foram as primeiras a serem tocadas. Com uma galera razoável se formando na pista enquanto a fila de bangers diminuía lá fora, a anfitriã local trouxe mais músicas empolgantes como as inéditas ‘Continuamos a Falar de Flores’ e ‘Como Lágrimas na Chuva’.
Um problema no equipamento de Fábio em ‘Tortura Metal’ acabou atrasando a execução completa da canção que está no ‘debut’, mas não o bastante para o sangue esfriar, foi até interessante ouvir o baixo de Andreson mandando peso por alguns segundos antes de se dar conta da falta do som da guitarra, notamos que os quase trinta anos sem tocar até o retorno da banda em 2015, não comprometeram a performance do baixista que, cinco anos após o retorno, mostra como se queima lenha com a avidez de um garoto.
A mensagem de cunho social conduzida por uma instrumental que beira o crossover é zona de conforto para Elineudo, que se movimenta bem e não poupa energia do "gogó". Isso só mostra o acerto de Anderson ao convidá-lo a assumir o microfone da Asmodeus, assim como acertou também em chamar Acácio que transforma a cozinha em terremoto, mas sem perder a técnica. Time entrosado em palco e de qualidade que merece longa estabilidade.
Quando Alex Camargo (baixo e vocal), Moyses Kolesne (guitarra) e Max Kolesne (bateria) estiveram em Fortaleza pela primeira vez, em 1997, o KRISIUN já era enorme Brasil afora pelo lançamento de ‘Black Force Domain’ (1995), hoje um dos álbuns que inspiram o brutal death metal. Desde então foram muitas idas e vindas ao Ceará, sempre com o mesmo carisma dos músicos e paixão do público. No instante de começar o espetáculo, um dos engenheiros aponta um problema no PA direito do palco e, até resolvê-lo, abriu brecha pra pegar aquela última cerveja antes da "destruição", mas a demora não chegou a gerar inquietação, pois um show do Krisiun sempre compensa qualquer imprevisto com cacetadas como ‘Kings of Killing’ de ‘Apocalyptic Revelation’ (1998) no repertório. A paulada se estendeu à ‘Combustion Inferno’ de ‘Southern Storm’ (2008) e ‘Blood of Lions’ de 'The Great Execution' (2011).
É Inevitável a empolgação e quase obrigatória a formação de circle pits no evento, teve quem se arriscasse a se lançar no mosh com stage dives aproveitando uma bobeira aqui e ali do segurança. Alex dá o seu boa noite e fala da importância do headbanger cearense na vida do Krisiun, os anos se passaram, mas para a banda os momentos na terra de José de Alencar são vivos no coração do trio. A primeira do álbum mais recente é tocada com sua canção título ‘Scourge of the Enthroned’ (2018) que, logicamente, recebe a mesma recepção de alguns clássicos, como também a execução de ‘Slaying Steel’ que abre o CD de 2008. Mais uma de 'The Great Execution’, ‘Descending Abomination’ e o trio "fuzila" a galera com mais uma do último álbum, ‘Demonic III’.
Retornando à sessão clássica, a introdução aniquiladora dos riffs de ‘Vengeance's Revelation’ não faltou ao repertório, nem a metralhada de ‘Bloodcraft’ de ‘AssassiNation’ (2006). A brutalidade é a essência do show dos irmãos gaúchos, mas a simpatia também é uma característica, como a cordialidade de Alex ao parabenizar a mulher da cena metal, aqui representada pelas headbangers locais que estavam em bom número e participando do mosh. Camargo também não poupou críticas ao mau político e a quem deixa suas opções políticas comprometerem suas amizades, já Moyses foi bem mais ao ponto com a deixa: "Ei, Bolsonaro...", e o público completa: "Vai tomar no cu!", e foi assim por alguns instantes até retornarem ao repertório que ainda arregaçou com ‘Hatred Inherit’ do ótimo ‘Conquerors of Armageddon’ (2000) e ‘Slain Fate’ do álbum de 2004 ‘Bloodshed’.
A matança chega ao fim com ‘Conquerors of Armageddon’, ‘Ravager’ do mesmo álbum e ‘Black Force Domain’, que nem estava previsto no set list, mas depois de muito ser pedida, a banda atendeu. E assim o Krisiun cumpre mais uma missão em Fortaleza, deixando seu público satisfeito e com esperança de um breve retorno.
Infelizmente não presenciamos pedradas de ‘Ageless Venomous’ (2001) e ‘Works of Carnage’ (2003), mas paciência, o show foi maravilhoso! Parabéns à Underground Produções por este presente ao headbanger cearense e ao Krisiun por renovar o seu exército de fãs por aqui.
SET LIST ASMODEUS
Guerra
Sangue de Minhas Mãos
PNCDBA
Continuamos a Falar de Flores
Tortura Mental
Ilusão
Pobre Diabo
Como Lágrimas na Chuva
Poder Fracassado
Escravos do Mal
Asmodeus
SET LIST KRISIUN
Kings of Killing
Combustion Inferno
Blood of Lions
Scourge of the Enthroned
Slaying Steel
Descending Abomination
Demonic III
Vengeance's Revelation
Bloodcraft
Hatred Inherit
Slain Fate
Conquerors of Armageddon
Ravager
Black Force Domain
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