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Coroner: O Pink Floyd do Thrash Metal ao invés do Rush em SP

Resenha - Coroner (Clash Club, São Paulo, 21/04/2015)

Por Leonardo Daniel Tavares da Silva
Postado em 28 de abril de 2015

Oportunidades na vida tem que ser aproveitadas. E é bom estar atento quando uma banda que oficialmente encerrou suas atividades retorna aos palcos depois de mais de uma década e anuncia shows em sua cidade. Este é o tipo de oportunidade que não se pode perder. O CORONER, banda suíça de Thrash Metal, teve grande influência enquanto esteve na ativa (por menos de uma década, de meados dos anos oitenta até meados dos anos noventa), mas sucumbiu às dificuldades de sua época (que ainda comprometem o trabalho de muitas bandas hoje em dia). Em 2010, para alegria dos fãs, a banda anunciou que se reuniria para alguns festivais no ano seguinte. Felizmente, o retorno não foi pontual e a banda continua até hoje nos palcos, que é o seu lugar, com planos para um DVD múltiplo e um novo CD. Ano passado, a primeira incursão por terras brasileiras teve que ser adiada fazendo com que a data do trio em terras paulistas fosse ainda mais aguardada. Através da Cronos e da Fame, o dia chegou, a hora chegou, o CORONER finalmente chegou para esquentar a ainda não tão gelada Terra da Garoa. E nós não poderíamos perder a oportunidade de conferir o show na Barra Funda. Você acompanha a partir de agora.

Coroner - Mais Novidades

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CIRCLE OF INFINITY

O Sol ainda brilhava sobre a capital paulista quando a CIRCLE OF INFINITY subiu ao palco do Clash Club. O clube, nas proximidades da Estação da Barra Funda, é pequeno por fora, mas com tamanho adequado para shows do porte de bandas como CORONER, OBITUARY, NILE. E muito bem climatizado. Por ser a primeira no palco, a CIRCLE tocou para um número ainda reduzidíssimo de presentes naquele final de feriadão. Quem entrou cedo pode conferir o thrash/death da banda de Limeira, que outrora já se chamou MASSACRE. ¨Headbanger¨, a música que fechou o set do quarteto já era pedida por alguns dos headbangers que prestigiavam seu show.

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WARSICKNESS

Completando sete anos, a banda da Zona Oeste mandou um Thrash Metal (com alguma coisa de hardcore) de explodir os ouvidos. ¨Black Army¨, do novo CD foi o destaque da noite. A dupla de guitarra entrega solos e riffs eficientes, mas, com muita presença de palco, o vocalista Diogo Moreschi (meio aspirante a João Gordo, até no visual) e o baixista Alan Magno é que mais contribuíam para a empolgação do público crescente. Moreschi fez questão de comentar o quanto estava contente por estar dividindo o palco não só com o CORONER, mas também com as várias outras bandas nacionais. Apesar de manter a violência do Thrash Metal, o show foi, de certa forma, dividido em dois atos pelo próprio Moreschi, a parte mais séria e a parte alcoólatra. ¨Toda a salvação parte apenas da cerveja. In Beer We Trust¨, declarou ele na ¨conversão¨ do SODOM em TANKARD. Mesmo com a mão quebrada (coisa que ninguém notava no palco e eu só saberia ao conversar rapidamente com ele depois do show), Alan Magno ainda consegue se destacar no baixo em ¨Stay Drunk In Hell¨, música que dá nome ao álbum recente da banda. E em ¨Alcoholic Brain¨ o destaque é do baterista Guilherme Alan.

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UGANGA

Sem avisar a ninguém, a mineira UGANGA subiu ao palco para despejar ¨Aos Pés da Grande Árvore¨, exemplo de Thrash Metal em português, avassalador. A princípio, não há como negar que há um impacto, apesar de não ser nem de longe a primeira banda de Thrash Metal a cantar em português, ainda é inesperado ouvir esse tipo de som na nossa própria língua. É sempre uma surpresa. Logo após o choque, a única coisa que dá pra fazer é bater cabeça. E não é só a língua, os temas também são localizados. ¨Moleque de Pedra¨, por exemplo, foi dedicada aos zumbis da Cracolândia. O vocalista Manu Henriques (ex-SARCÓFAGO), quando agradeceu a todos os que compareceram, não deixou de alfinetar dizendo preferir os fãs ¨die hard¨ aos ¨modinhas de internet¨ e mandou a cover do VULCANO, ¨Who Are The True¨, seguida por ¨Guerra¨, que abre o último CD do quinteto. ¨Entranhas do Sol¨, com complexidade digna de um VOIVOD, ou mesmo do próprio CORONER, foi outra faixa que superou espectativas. Manu ainda revelou que a saideira da banda tinha vindo das reflexões que os membros fizeram depois de uma visita ao Campo de Concentração de Auschwitz e das idiotices do ser humano. A música era ¨O Campo¨.

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SANGRENA

Luzes apagadas, intro nos PAs, a SANGRENA está no palco para dar início ao seu show. A banda de AMPARO, interior do estado, trouxe o som mais pesado da noite. Fizeram o Clash, já bem tomado pelos bangers, vir abaixo, antes mesmo da banda principal. Com um som absolutamente pesado, sem pausa para respirar, a SANGRENA é uma manifestação de puro ódio. O batera Alan Marques se destaca o tempo inteiro, quebrando tudo lá atrás, enquanto seus três comparsas entregavam um som sem pressa, mas com muito peso (talvez até possamos considerar que uma coisa implique na outra). Com seu som cadenciado e brutal, a SANGRENA tinha o Clash nas mãos quando mandou seu último som, ¨The March¨. A banda deve lançar um novo álbum no segundo semestre ou no início de 2016, mas não chegou a incluir nenhum som novo ainda no set.

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CORONER

Só na hora marcada para o show do trio suiço, 21h, o Clash Club realmente ficou lotado. E o que todos nós, que amamos metal, que apoiamos o metal, queremos mais é ver essa dificuldade de andar em todo show de metal. Mas Ron Royce, Tommy T. Baron e Diego Rapacchietti ainda demoraram um pouco a assumir as posições em que todos os presentes gostariam de vê-los. O vôo que os trouxera do Perú, onde se apresentaram na noite anterior, tinha atrasado. Diego, que substituira o lendário Marquis Marky, foi o primeiro e chegou a fazer um breve solo de bateria ao finalizar os ajustes de seu instrumento. Quando finalmente chegou o momento de matar a ansiedade de cada um ali na plateia, que esperara por mais de uma década para ver o CORONER, nenhum pescoço ficou imóvel. E ¨Divine Step¨ marcou aquele encontro dos brasileiros com o CORONER.

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¨Boa noite, Brasil. Boa noite, São Paulo. Somos o CORONER, da Suiça. Finalmente estamos aqui¨, saudou o calvo Ron Royce, mostrando suporte ao metal do Brasil através da peita da KROW, com a qual estava vestido. A resposta foi uníssona: ¨Coronêr, Coronêr, Coronêr¨.

A esquisita, mas ótima, ¨Serpent Moves¨, do igualmente esquisito e igualmente ótimo ¨Grin¨ foi a próxima. As incursões pela eletrônica e o ritmo impresso na bateria podem tem sido incomuns na época em que ¨Grin¨ foi lançado, mas hoje a música só pode ser vista como genial. Assim como é genial seu solo de guitarra cheio de feeling.

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Daniel Stoessel não aparece nas fotos oficiais da banda e fala-se muito pouco sobre ele, mas já está com o trio há algum tempo. E participa tão ativamente do show, seja nas programações, seja nos backing vocais (como em ¨Internal Conflicts¨) que poderia até ser considerado um quarto membro. Ele é o Dartagnan suiço e toda a sua contribuição (principalmente nas músicas mais novas), de certa forma, faz com que seja difícil continuar chamando a banda de RUSH do Thrash Metal e posicioná-la como um dos maiores power trios do metal, além de invalidar praticamente toda a iconografia que o CORONER utilizou durante toda a carreira (como a caveira com espaços para três globos oculares). Mas esta é uma formação interessante, inusitada e, até onde sei, inédita. E isso é um detalhe que perde toda a importância diante dos solos do ex-KREATOR Tommy T. Baron, do som poderoso, técnico do CORONER, calculado nos mínimos detalhes para fazer os ¨Filhos de Lilith¨ quebrar os pescoços que sustentam seus crânios e rostos extasiados.

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¨É muito bom estar aqui pela primeira vez. O CORONER tem trinta anos agora. Começamos em abril de 1985. Essa é do álbum ´No More Colors´ e chama-se ´D.O.A´¨, relembrou Ron antes do clássico de 89. Mais adiante, o vocalista e baixista voltaria a falar da longa turnê que estavam fazendo pela primeira vez na América do Sul: ¨Tocamos no México, na Colômbia, ontem no Peru, o povo do metal é doido¨

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¨A próxima música fala de terrorismo, de pessoas cometendo assassinatos¨, disse Ron antes de dar início à música cuja letra, infelizmente, continua atual. O público ia ao delírio com cada solo da música e de ¨Tunnel of Pain¨, que veio colada em seguida.

Com um som tão rico, era difícil decidir em que prestar atenção. Cada um dos três mosqueteiros no palco dava seu show particular. E, junto, tudo funcionava muito bem. Funcionava como um relógio suíço (sim, este é um trocadilho e, sim, ele é infame. Vamos em frente).

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Se você perdeu esse show do CORONER, torça pra banda voltar. Ou corra pro Abril Pro Rock (se estiver lendo este texto a tempo e não estiver já de compromisso marcado com OZZY, KISS e cia). Em ¨Status: Still Thinking¨ ou ¨Metamorphosis¨ o trio/quarteto justifica o apelido de RUSH do Thrash Metal. E se o CORONER não deve mesmo ser chamado assim, que seja chamado de PINK FLOYD do Thrash então. Publique-se, leia-se, cumpra-se.

Prosseguindo com o show, Ron anunciou que voltariam para o segundo álbum, ¨Punishment For Decadence¨ e todo mundo gritou. E a música qual era? Óbvio que todos sabiam que era ¨Masked Jackals¨ (a do clipe). Essa foi a senha para alguns crowd surfers encontrarem seu mar para surfar em plena capital paulista. No entanto, Ron agradeceu novamente a todos os envolvidos na turnê, em especial ao público, e anunciou que a próxima seria a última música do show, também a música que dava nome a seu último álbum. E pareceu falar tão sério que quase caímos na manjada pegadinha do bis. Até porque também foi a primeira vez em toda a noite que se apagou o telão que fez as vezes de backdrop para todas as bandas (com a capa de seus CDs ou outras imagens icônicas).

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Para alívio geral, logo todos estavam de volta para ¨Reborn Through Hate¨ cantada a plenos pulmões por todos (pelo menos por quem não estava surfando). Então, era realmente o fim. O CORONER arrasou. Resta torcer que não demorem tanto para voltar novamente ao Brasil e que mais cidades possam conferir o som do PINK FLOYD do Thrash Metal.

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Agradecimentos:

Luciano Piantonni, Cronos Entertainment e Fame Enterprises, pela produção impecável, pela atenção e credenciamento.
Karina Rafaela, pelas fotos que ilustram esta matéria.

Setlists (Nota: algumas músicas foram cortadas e alguns nomes estão incompletos)

CIRCLE OF INFINITY

Dark Souls
¨Slayer¨
Take My Mind
Never Surrender
Moments of Evil
Wake Up
Zumbie
Puppets
Headbanger

WARSICKNESS

DxYxRxYxDx
Warsickness
Black Army
Warthrash
Stay Drunk In Hell
Alcoholic Brain

UGANGA

Aos Pés da Grande Árvore
Moleque de Pedra
Who Are The True? (VULCANO)
Guerra
Nas Entranhas do Sol
Fronteiras da Tolerância
O Campo

SANGRENA

Infernal Domination
Land of Scorn
The Ninth Prophecy
Blessed Black Spirit
In Sacrifice
Cursed By Revenge
Abyss of Souls
City of Hanged People
Reign of Illusions
The March

CORONER

Golden Cashmere Sleeper
Divine Step (Conspectu Mortis)
Serpent Moves
Internal Conflicts
D.O.A.
Son of Lilith
The Lethargic Age
Semtex Revolution
Tunnel of Pain
Still Thinking
Metamorphosis
Masked Jackal
Grin (Nails Hurt)
Intro (Nosferatu)
Reborn Through Hate
Die by My Hand

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Sobre Leonardo Daniel Tavares da Silva

Daniel Tavares nasceu quando as melhores bandas estavam sobre a Terra (os anos 70), não sabe tocar nenhum instrumento (com exceção de batucar os dedos na mesa do computador ou os pés no chão) e nem sabe que a próxima nota depois do Dó é o Ré, mas é consumidor voraz de música desde quando o cão era menino. Quando adolescente, voltava a pé da escola, economizando o dinheiro para comprar fitas e gravar nelas os seus discos favoritos de metal. Aprendeu a falar inglês pra saber o que o Axl Rose dizia quando sua banda era boa. Gosta de falar dos discos que escuta e procura em seus textos apoiar a cena musical de Fortaleza, cidade onde mora. É apaixonado pela Sílvia Amora (com quem casou após levar fora dela por 13 anos) e pai do João Daniel, de 1 ano (que gosta de dormir ouvindo Iron Maiden).
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