Angra e Soulfly: não sobrou areia sobre areia em Fortaleza
Resenha - Angra+Soulfly (Barraca Biruta, Fortaleza, 24/08/2013)
Por Leonardo Daniel Tavares da Silva
Postado em 26 de agosto de 2013
Praia do Futuro, Fortaleza. Um dos destinos turísticos mais procurados do Brasil. Seria também o ponto de interseção entre duas turnês pela América do Sul que tem dominado os noticiários especializados neste mês de agosto.
Aquela noite de 24 receberia um dos shows mais falados nos últimos dias, seria uma noite curiosa, multicultural, multinacional, rompendo as barreiras dos idiomas e reunindo diferentes estilos de heavy metal, sendo as headliners, ANGRA e SOULFLY, uma banda banda brasileira com vocalista italiano e uma americana com vocalista brasileiro. Além dessas duas, três bandas cearenses abrindo a festa, representando o que há de melhor no metal cearense, desde a perfeição técnica da PROWLER, empregada na homenagem aos maiores ídolos do heavy metal (IRON MAIDEN), passando pela mistura de melodia e peso d'A TRIGGER TO FORGET e culminando na agressividade brutal da SIEGE OF HATE. Cinco bandas tão diferentes, diante de milhares de pessoas, milhares de cearenses e muitas pessoas que tinham vindo de outros estados (como o vizinho Rio Grande do Norte, em excursão organizada por Marcelo Batera, um dos membros da importante banda de grind core potiguar Expose Your Hate). O amor pelo heavy metal seria a liga a unir todas aquelas pessoas.
PROWLER
Primeira no palco e com a responsabilidade de receber os mais famintos por metal que chegavam ainda no início da noite à Barraca Biruta, a banda PROWLER não fez feio. Uma das mais pedidas em uma enquete realizada em uma rede social, a PROWLER não era apenas uma banda cover do IRON MAIDEN (ou tributo, como queiram), era a personificação de um desejo antigo dos cearenses que vem sendo ignorado pelas produtoras, a presença do sexteto inglês, responsável pela definição do gosto musical de 99 entre 100 metalheads, em terras alencarinas. O guitarrista Yuri Leite (também da HOSTILE INC) fizeram muita gente correr para a Barraca Biruta, ansiosos para quebrar os próprios pescoços em sons clássicos dos mestres da NWOBHM como "2 Minutes to Midnight", "The Evil That Man Do", "Wasted Years", "The Trooper" e a imortal "Fear of The Dark". Por um atraso de duas horas no vôo de uma das headliners, uma redução no setlist já era esperada. E alguns clássicos acabaram sendo limados da apresentação. Entre eles, "Hallowed Be Thy Name" que também não aparece mais nos setlists da atual turnê da banda homenageada. Apesar disso, e até por não saber que clássicos seriam esses, o show agradou bastante a boa multidão (apesar do horário) que já se encontrava no local. O show também marcou a estreia do guitarrista Rafael Balboa na PROWLER.
A TRIGGER TO FORGET
A virada de palco para a próxima atração, banda de metalcore A TRIGGER TO FORGET, aconteceu de forma muito rápida. Embora eu particularmente não seja muito fã do estilo, fui surpreendido com um som absurdamente pesado, provando ser injusto qualquer preconceito. As partes mais melódicas não são encaixadas gratuitamente. Além disso, o poder vocal de Leo Menezes junto à presença de palco de Rafael Benevides cativaram até quem não os conhecia. O ponto alto do show foi "God Mode On", quando o vocal tentou conseguir da plateia um wall of death. Mesmo sendo ele atendido por poucos (comparando com outros que já tive oportunidade de ver), os que entraram na brincadeira na pista comum deram uns bons socos. Um show curto, mas que serviu de bom cartão de visitas. Da próxima vez vou ter outros olhos para essa banda, ou melhor outros ouvidos.
SIEGE OF HATE
Hora de separar os homens dos meninos, ou melhor, hora de separar os filhotes dos animais adultos, para o show mais brutal da noite, que começou com "Grinding Ages",
bombástica faixa que abre o terceiro álbum do quarteto de grind core, "Animalism", seguida de "Steamroll Democracy", do não menos brutal "Deathmocracy", e de "Catarsis", outra porrada de "Animalism". Em "The World I Never Knew", com seu tempero hardcore, finalmente as rodas de mosh começaram com a devida e apropriada violência. Quem nunca viu a S.O.H ao vivo se surpreende com a range vocal de Bruno Gabai, que passeia tranquilamente do gutural ao rasgado e em determinados momentos chega a parecer dois vocalistas.
Para acompanhá-lo na missão de levar à praia a selvageria nada mais apropriados que outros grandes nomes que fazem parte da história do underground cearense e merecem bastante respeito, o baixista e designer gráfico (responsável pela concepção visual sempre de primeira dos álbuns da banda) George Frizzo, o guitarrista Lucas Gurgel (que também faz parte de outra importante banda do Ceará, a CLAMUS) e o baterista Saulo Oliveira. "Beware what you wish", com sua parte mais cadenciada pareceu que ia por fim à porradaria, mas foi só um momento para respirar. Imediatamente eles voltaram com a selvageria que atende pelo nome "Say Your Prayers", com Saulo conseguindo detonar mais do que o que ja estava fazendo. Um detalhe a ser comentado: os músicos pagaram um tributo silencioso a outras bandas cearenses vestindo cada um uma camisa de alguma outra banda local. Frizzo, por exemplo, homenageava o OBSKURE, enquanto Gabai estampava a WARBIFF em seu peito. Terminaram o show, que seria o penúltimo antes de arrumar as malas e zarpar para o velho mundo, com a faixa que lhes dá nome: "Siege of Hate". Todos os animais são iguais, mais uns são mais iguais que os outros.
ANGRA
A produção aproveitou o breve intervalo para anunciar o Matanza Festival, com a banda carioca ao lado da icônica banda cearense SWITCH STANCE, dia 23 de novembro, mas o que o público queria mesmo saber era do ANGRA, gritando "Olê, Olê, Olê, 'Angrá', 'Angrá'. O desejo geral foi atendido e todos foram à loucura quando Ricardo Confessori assume seu posto e é seguido por cada um de seus colegas do ANGRA e os primeiros acordes de "Angels Cry" se fazem ouvir. Braços para cima, muitos braços para cima, enquanto a banda executava o clássico que ficou conhecido na voz de ANDRE MATOS pela primeira vez em Fortaleza na voz de Fabio Lione, frontman da banda italiana RHAPSODY OF FIRE. O italiano de Pisa tem sido creditado apenas como convidado na turnê, mas a efetivação de seu nome tem sido comentada como quase certa. A emoção do momento foi capturada em vídeo por Mailson Buson, baterista da SKIN RISK e mentor do projeto Rock Tour CE, mas, ali, apenas mais um entre milhares de fãs.
Rafael Bittencourt sobe no praticável em que estavam Confessori e seu Kit e a banda manda "Nothing To Say". Os bracos continuam para cima.
Amigos há muito tempo, os três músicos empunhando instrumentos de corda à frente do palco mostram, alem de pleno domínio dele, uma integração conquistada com muitos anos de estrada. Alguns gestos ensaiados, talvez, aparecem aqui e ali, mas o que eles demonstram mesmo é estar se divertindo bastante, principalmente Rafael Bittencourt, que vai de um lado a outro do palco e repete o gesto de subir no praticável varias vezes, seu mini-palco sobre o palco. Kiko Loureiro é mais compenetrado e Felipe Andreoli personifica o baixista boa praça. Confessori, atrás deles, concentra-se em seu ofício de espancar as peles e címbalos em velocidade ultra-rápida.Fabio, frontman por excelência, domina o microfone e os agudos como poucos, mas ainda se esforça para pertencer ao time , assim como se esforça para falar com o publico numa mistura de português, espanhol e algo de sua língua natal, o italiano.
A belíssima "Time" foi executada como talvez só ANDRE MATOS a tivesse cantado. Impossível não falar dele e de seu sucessor, Edu Falasci. A sombra dos dois vocalistas anteriores do ANGRA ainda é indubitável algo sempre presente na memoria de todos e isso é um fato. Mas o talento de Lione, tambem admirado por muitos por seu trabalho no RHAPSODY OF FIRE, se efetivado e sucedido por um novo trabalho irá confirmar seu nome como voz do ANGRA mais que algo oficializado pela banda, mas também no coracao dos fãs, muitos deles ali, naquela noite, com as mãos e os pensamentos para cima, na bela "Lisbon", com sua marcante introdução. E é o que parece que vai acontecer. A pergunta agora é "o que será do RHAPSODY, pelo menos por enquanto, uma vez que seria praticavelmente impossível que o cantor conciliasse seu trabalho em ambas.
Deixando as considerações de lado, voltemos aos relatos do show. Fabio rege o coro de milhares de vozes antes de "Silence and Distance", com Kiko aos teclados, num momento de rara beleza. E antes de se despedir, para uma parte do show comandada por Rafael, tem a prova de aprovação dos fortalezenses num "Fabiô, Fabiô, Fabiô". Questionei um membro da equipe se esse comportamento tem sido comum nos shows e ele (que confessou ler o Whiplash.net todos os dias) contou que isso tem acontecido em vários shows, não só no Brasil, como também na Argentina e no Chile.
Rafael assume os vocais, dizendo: "Não interessa o vocalista, nos queremos é que a banda continue. A próxima musica, do "Aurora Consurgens", diz 'Separados a gente não é nada, juntos, quebramos as regras'" e manda "The Voice Commanding You" enquanto Fabio fuma um cigarro no backstage. Fabio volta, Kiko vai para o piano, o povo pede "Nova era", mas, felizmente, ela ainda não vem.
"Evil Warning" levanta mais uma vez a multidão, mas o maior momento nao poderia deixar de ser "Carry On", com amigos na plateia cantando, chorando e cantando abracados (sim, eu repeti as palavras). Misturando novamente um monte de línguas, menos o português, Fabio fala do DVD que gravaria no dia seguinte em São Paulo e rege novamente a multidão. Nem precisaria, pois um forte grito seria ouvido naturalmente aos primeiros acordes de "Rebirth". A canção que fala do renascimento de um homem marcaria ali o renascimento de uma banda? Questionei Rafael Bittencourt se o "namoro" da banda com o vocalista italiano iria dar em casamento. "O homem tá dando conta do recado, não está?", respondeu o guitarrista. Mais tarde, após o show, eu mais uma vez "jogaria uma verde" perguntando: "vocês vão anunciar o Fabio como vocalista oficialmente amanhã durante a gravação do DVD em São Paulo amanhã não é?" O guitarrista, como era de se esperar, não caiu no meu pequeno truque, mas, você ao ler esta resenha (enviada já no domingo) provavelmente já sabe da resposta.
Assim como todas as bandas que a precederam, o ANGRA também cortou músicas de seu setlist. "Gentle Change" e mais uma ou duas ficaram de fora. A parte acústica, que tem marcado presença nos shows anteriores, também ficou de fora. E ainda durante o show da banda paulista, membros da produção do SOULFLY, visivelmente irritados, já faziam riscos em seus setlists. Ritchie Cavalera contou-me que teria que pegar um avião em três horas (tanto ANGRA quanto SOULFLY se apresentariam, mas em eventos distintos, em São Paulo na noite seguinte) e que não teria uma hora sequer para dormir naquela noite. Esse efeito dominó foi causado não por vontade da própria banda, ou da produção e muito menos por vontade dos fãs, mas pelo atraso em seu voo até Fortaleza. Vale a pena citar o nome da companhia? Não creio. Não faz diferença diante das poucas opções disponíveis no Brasil. O pedido dos fãs por "Nova Era" quando foi atendido também significou o fim daquele show que, para muitos ali nas areias da Praia do Futuro tinha sido mágico.
SOULFLY
Estávamos eu, George Frizzo (SIEGE OF HATE) e Rafael Bittencourt (ANGRA) no backstage quando passou por nós uma das maiores lendas do metal nacional, Max Cavalera, acompanhado de sua esposa e empresária, Gloria. No palco, entre todos os outros equipamentos, um falante com uma enorme bandeira brasileira o receberia para um dos mais esperados shows na capital cearense em 2013, junto ao virtuoso Mark Rizzo e ao ex-POSSESSED Tony Campos. Havia sido divulgado anteriormente que, Zyon Cavalera (LODY KONG), filho de max e dono dos batimentos cardíacos intra-uterinos que abrem "Chaos AD" seria o baterista da turnê sul-americana, mas, por compromissos com a gravação de um vídeo, foi substituído pelo baterista Kanky Lora.
O show começou com "Plata O Plomo", única representante do excelente último disco do SOULFLY, o "Enslaved". Da mesma forma, cada outro álbum do SOULFLY, com exceção de "Omen" teve pelo menos uma representante. O público reagia empolgado e pulando sem parar, mas foram as músicas do SEPULTURA, cantadas na voz original, que incendiaram a barraca de praia. "Refuse/Resist" teria ficado melhor com o responsável pela percussão em seus primeiros segundos empunhando as baquetas, mas causou, junto a "Territory" muito trabalho para conter os fãs apaixonados que tentavam por todos os lados subir ao palco para pular na galera. Os ânimos se acalmaram um pouco com "Blood Fire War Hate" (se é que é possível dizer isso), mas voltava a se transformar em um caos a cada nova faixa do SEPULTURA. Assim foi com "Arise". Mark Rizzo, enquanto toca fica sempre parado no mesmo lugar, mas bangueia como um louco até quando toca algo mais complexo como os solos de "Frontlines".
A introdução de "Iron Man", do BLACK SABBATH é a porta de entrada para "Blodshed", faixa de "Savages", o novo álbum do SOULFLY a ser lançado em outubro. Ritchie Cavalera (INCITE), enteado de Max, participa desta faixa e podemos vê-la no vídeo abaixo, novamente capturado pelo baterista Mailson Buson (SKIN RISK). A música nova recebeu boa resposta do público.
De "Roots", último álbum de Max com o SEPULTURA, vem "Atitude" e a própria faixa título, iniciada com Max regendo um singelo coro "Porra, Caralho, Filha da Puta". Esta foi a quinta e última música do SEPULTURA na noite que, para alguns ali, era mais um show da banda mineira.
Com os cortes no setlist, o show foi relativamente curto. "Wasting Away", do NAILBOMB, por exemplo, foi uma das faixas limadas, o que foi, particularmente, ruim pois a banda já nem existe mais. "Se vocês quiserem mais, vão ter que gritar", Max grita a multidão, antes das luzes serem apagadas, a banda sair do palco e a galera continuar gritando "olê, olê, olê, Soulfly, Soulfly". Max volta dizendo "o metal nacional tá foda. Vamo detonar essa porra" e manda mais uma faixa do "Primitive", "Jump The Fuck Up", misturada a "Eye For An Eye", do primeiro álbum da banda, e a um trecho de "We Will Rock You" (QUEEN). Max repete o coro (olê, olê) anteriormente gritado pela multidão e aproxima o pedestal da galera (mas, timidamente, por que ele não é louco de ficar sem o mic). O vocalista se despede e sai do palco enquanto Rizzo, Campos e Lora tocam "Trooper" com a plateia nos vocais, terminando a noite assim como tinha começado, com IRON MAIDEN.
Os fãs de metal de Fortaleza, dos mais calmos aos mais extremos ainda aguardam a vinda da banda britânica para demolir seu novíssimo estádio Arena Castelão. Quanto à Barraca Biruta, não sobrou pedra sobre pedra, ou melhor, grão de areia sobre grão de areia.
Agradecimentos, Empire Records (principalmente o produtor Denor Sousa) e D&E Entretenimento pelo credenciamento.
Setlists Originais (todos sofreram cortes)
PROWLER
The Wicker Man (IRON MAIDEN)
2 Minutes To Midnight (IRON MAIDEN)
The Evil That Man Do (IRON MAIDEN)
Wasted Years (IRON MAIDEN)
The Trooper (IRON MAIDEN)
Deja Vu (IRON MAIDEN)
Fear of the Dark (IRON MAIDEN)
The Number of the Beast (IRON MAIDEN)
Hallowed Be Thy Name (IRON MAIDEN)
Run To The Hills (IRON MAIDEN)
A TRIGGER TO FORGET
Never To Return
Embrace The End
Dead File
God Mode On
As One
SIEGE OF HATE
Grinding Ages
Steamroll Democracy
Catharsis
The World I Never Knew
Waiting For What?
Martyr of Fools
Breeding Chaos
Red Alert Is On
The Walls Built Inside Us
Downfall
Subversive By Nature
Beware What You Wish
Say Your Prayers
God Killing God
Burn Them Down
Siege of Hate
ANGRA
Intro/Angels Cry
Nothing to Say
Waiting Silence
Time
Lisbon
Milleniun Sun
Winds of Destination
Gentle Change
The Voice Commanding You
Silence and Distance
Wings of Reality
Evil Warning
Intro/Carry On
Rebirth
Intro/Nova Era
SOULFLY
Plata O Plomo
Prophecy
Primitive
Defeat U
Seek And Strike
I And I
Babylon
Refuse/Resist (SEPULTURA)
Territory (SEPULTURA)
Blood Fire War Hate
Wasting Away (NAILBOMB)
Arise
Frontlines
Straithate
Rise of the Fallen
Blodshed
Attitude
Roots
Jump The Fuck Up/Eye for an Eye
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