Megadeth: uma celebração do Heavy Metal em Recife
Resenha - Megadeth (Clube Português, Recife, 20/04/2010)
Por Leonardo Trevas
Postado em 07 de maio de 2010
Uma celebração do heavy metal. Essa é a melhor descrição que se pode fazer do primeiro show da banda norte-americana Megadeth no Recife, ontem (20/04), no Clube Português. Uma apresentação memorável, em comemoração aos 20 anos do Rust In Peace, um dos álbuns mais importantes do gênero thrash metal, cuja base fundamental foi criada por bandas como o Megadeth, Metallica e Slayer.
Foto da chamada: Marcelo Rossi (divulgação T4F)
Na comunidade headbanger já havia boatos circulando sobre a vinda da banda, desde o final de 2009, mas nada era dito oficialmente. Até que, em março deste ano, a produtora Raio Lazer - a mesma que trouxe o igualmente gigante Iron Maiden há pouco mais de um ano -, anunciou que Dave Mustaine e companhia aterrissariam em terras tupiniquins, às vésperas do feriado de Tiradentes.
Houve problemas com o lugar do evento. O Chevrolet Hall e o Centro de Convenções, onde acontecem a maioria dos grandes shows da cidade, já tinham pauta para o dia. A Fábrica Tacaruna, outro grande espaço, possui muitas restrições para grandes públicos. Restou o Clube Português, conhecido pelos fãs do gênero como um lugar que já teve várias apresentações de bandas como Angra, Sepultura, Symphony X e Nightwish. Mas será que seria adequado às proporções de um evento como o Megadeth? Pelo preço salgado do ingresso (R$80 a meia e R$160 a inteira, sendo R$150 o camarote), será que o público compareceria?
Essas indagações se provaram levianas, logo na entrada do Clube Português. Um mar de cabeças e camisas pretas já esperava a abertura dos portões. Quando estes foram liberados, às 21h, houve um princípio de confusão, provocado pela ansiedade dos fãs headbangers.
Ao entrar no Clube Português, era perceptível uma mudança de visual: os camarotes foram pintados e reformados, e o palco, expandido. Uma bandeira enorme do disco "Rust In Peace" servia como plano de fundo para uma série de lápides, alinhadas lado a lado com os amplificadores e a bateria, o que dava à composição um tema gótico-burlesco, bem próprio ao Megadeth.
Logo mais, entrou em cena a pernambucana Cruor, às 21h30, com seu auto-denominado fuckin' thrash metal. Àquela hora não havia mais do que um pequeno amontoado de gente na frente do palco, e mesmo assim o grupo conseguiu esquentar a galera. O vocalista Wilfred Gadêlha é um bom frontman, que levou os fãs ao delírio com o cover do Sepultura, Escape to the Void. A Cruor demonstrou um bom som autoral que faz jus à sua história de mais de vinte anos no cenário recifense.
Terminada a apresentação da Cruor, este repórter conversou com alguns dos apaixonados por metal que estavam presentes - grande parte deles também eram músicos. O estudante Williams Douglas, conhecido como Shurato, veio mesmo para conferir se o Megadeth ainda está com fôlego de antigamente. "Quero comparar as músicas do novo disco, Endgame (2009), com as do Rust In Peace. E ver se o Mustaine ainda quebra o galho", disse.
O mesmo Dave Mustaine é conhecido pela atitude polêmica em relação aos colegas de palco e de gênero. Ele é o único membro constante em todas as formações do Megadeth, sendo o "chefão" e principal compositor da banda. O baixista David Ellefson, que foi um dos fundadores, tem uma história de amor e ódio com Mustaine, temperada por uma miríade de processos e contra-processos. Recentemente, após passar quase oito anos fora do grupo, ele voltou ao line-up atual em fevereiro de 2010.
Mustaine é também famoso pela sua briga com o também famosíssimo Metallica. Ele é um dos primeiros membros da banda, mas foi chutado por abusar de álcool e drogas, sequer chegando a gravar um disco com os ex-companheiros. Após ter formado o Megadeth, ambos os lados trocaram farpas através da imprensa, ao longo dos anos. Isso tudo está bem registrado no documentário Some Kind of Monster (2004), que narra um período de crise dentro do Metallica.
Enfim, descem do Olimpo os deuses.
Em torno das 22h50, acendem-se as luzes do palco. Imediatamente entram em cena os atores do espetáculo: Dave Mustaine (vocal e guitarra), David Ellefson (baixo), Shawn Drover (bateria) e Chris Broderick (guitarra). Soam os primeiros acordes de "Skin O‘ My Teeth", e o público vai à loucura. A presença de palco de Mustaine é muito particular. Ele se faz impor com sua postura de rockstar lacônico, pouco saindo de perto do microfone, e encantando as meninas com suas madeixas à la Robert Plant, do Led Zeppelin. Ele não se preocupou muito em animar a platéia, mas isso não foi necessário. O público do Português instigou-se a si próprio.
Logo em seguida disparou os megahits She-Wolf e In My Darkest Hour, este último escrito em homenagem ao ex-baixista do Metallica, Cliff Burton. O que se via era um Clube Português lotado, com uma massa dinâmica à frente do palco, se movimentando em rodas de pogo e batidas de cabeça. Um oceano de camisas pretas e punhos para o alto. A verdadeira joie-de-vivre da juventude metaleira.
Eles prosseguiram com "Holy Wars... the punishment due", que deu seguimento à execução na íntegra do álbum aniversariante "Rust In Peace". Nesta parte do show, destacaram-se "Hangar 18" e "Rust In Peace... Polaris". O público, claro, sempre cantando as letras das músicas e até mesmo nota por nota das partes instrumentais.
Depois de "Polaris", Mustaine e companhia executarm o hit "Trust" e, em seguida, duas faixas do novo disco, que não empolgaram tanto. Foi só um teste. Veio a grandiosa "Symphony Of Destruction", que pode ser considerada não só um hino do Megadeth, mas também da música pesada dos anos 1990. O camarote do Português tremeu. Literalmente.
Houve uma pequena pausa, e a banda voltou ao palco. No peito, David Ellefson usava a camiseta da seleção brasileira. Já Mustaine não vestia nada, mostrando um físico invejável para um "quase senhor" de 48 anos. Eles tocaram uma música antiga, "Peace Sells... but who‘s buying?", homônima ao título do segundo álbum do Megadeth. Terminaram com uma reprise de "Holy Wars", durante a qual apresentaram os membros da banda. Mustaine, que até então mostrara-se quase impassível, agradeceu ao público e afirmou que iria voltar, um dia.
Um bem-organizado evento, uma ótima produção, um público fiel, uma grande banda. O que faltou, então?
Uma das principais reclamações dos pagantes era o furto de celulares e câmeras digitais, no meio da platéia. Esse fato amargou a noite para muitos fãs que vieram se divertir e ficaram no prejuízo. Oscar Palmeira era um deles. "Já tinha passado da metade do show quando me dei conta da falta do celular. Me roubaram sem que eu percebesse", afirmou.
A aparelhagem de som era muito boa, e foi possível apreciar a música com qualidade, em vários pontos do Clube. Apesar disso, em diversos momentos não era possível escutar a guitarra de Dave Mustaine, ficando a cabo do fã adivinhar ou lembrar de cabeça alguns dos solos que foram tocados.
E finalmente, os preços salgados dos ingressos. Essa parte dá para compreender - se a produção baixasse demais o preço, poderia ter havido prejuízo. Afinal, o público foi muito menor do que o do Iron Maiden (a estimativa do Corpo de Bombeiros é de 3 mil pessoas, o que mesmo assim lotou o Português). Mas, dias antes do show, era visível a tristeza de muitos fãs que não puderam comparecer por conta do preço do ingresso.
Ainda assim, é possível afirmar que a rápida passagem do Megadeth no Recife entrou para a história dos grandes espetáculos que vieram à Mauricéia. Nada a dever ao Deep Purple, A-Ha, Iron Maiden ou até mesmo ao Cirque du Soleil. Um evento que marcou, e fica registrado nos anais da comunidade heavy metal pernambucana.
Setlist (duração: 2h; 18 músicas)
1.Skin O‘ My Teeth
2.In My Darkest Hour
3.She-Wolf
4.Holy Wars... the Punishment Due
5.Hangar 18
6.Take no Prisoners
7.Five Magics
8.Poison Was the Cure
9.Lucretia
10.Tornado of Souls
11.Dawn Patrol
12.Rust in Peace.... Polaris
13.Trust
14.Headcrusher
15.The Right to go Insane
16.Symphony of Destruction
Bis
17.Peace Sells... But Who‘s Buying?
18.Holy Wars.... (reprise)
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