Sobre Regis Tadeu, Pink Floyd, Galadriel e os herdeiros da Terra
Por Gustavo Maiato
Postado em 21 de maio de 2025
"Hoje, ir a um show — especialmente de uma atração tão badalada quanto o System of a Down — não é mais sobre música. É sobre construir uma narrativa pessoal. Uma fachada. Um ‘sou descolado, sou antenado, faço parte do que tá bombando’."
A crítica, feita por Regis Tadeu, encontra coro nas rodas de conversa — reais ou virtuais — dos fãs mais antigos de rock no Brasil. Mas o que muitos enxergam como lamento isolado é, na verdade, mais um capítulo de uma longa e previsível história: a guerra de gerações.
System Of a Down - Mais Novidades

Enquanto os baby boomers e os primeiros representantes da geração Y cresceram sob uma lógica analógica, linear e centrada, os millenials e seus sucessores — geração Z e alpha — operam sob outro código: digital, descentralizado e fragmentado. Cada um é seu próprio canal. Cada pessoa é uma mídia.
Como disse a elfa Galadriel no prólogo de O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel: "O mundo está mudado. Muito do que existia se perdeu, pois não há mais ninguém vivo que se lembre." A frase traduz o desconforto de quem vê o próprio mundo deixar de existir enquanto um novo toma forma.
Essa transformação é irreversível. A não ser que algum físico muito esperto descubra uma forma de dobrar o tempo, ele continuará seu caminho natural — em frente. E, com isso, o espaço de figuras como Regis Tadeu e seus contemporâneos inevitavelmente encolhe. O tempo, para eles, não é mais aliado. É contagem regressiva.
Mas esse é o ponto: com a saída dessas gerações, desaparece também a maneira com que se relacionavam com a música, com o conteúdo, com a cultura. E o que vem no lugar? Um novo conjunto de valores, moldado pelas gerações que cresceram com o celular na mão e o algoritmo como guia.
Não adianta espernear. Os novos herdeiros da Terra — os jovens — vão ditar as regras do jogo. Adaptar-se, nesse contexto, não é opção. É necessidade. Isso não impede que se questione os excessos do consumo atual. Mas é inútil querer impor regras de um tempo que já passou.
Acontecia assim: na era pré-digital, poucos meios de comunicação tinham poder de curadoria. Isso criava referências em comum, pontos de encontro culturais. Você e sua mãe assistiam a mesma novela na Globo. Hoje, cada bolha tem seu influenciador, seu podcast, seu youtuber. A unanimidade virou ficção. Ninguém se importa com a "sua" banda favorita — no plural, existem milhares delas, cada uma para um grupo específico.
Regis critica o hábito contemporâneo de ir a shows apenas para registrar e postar. Mas será que, se os fãs de Woodstock ou do Rock in Rio de 1985 tivessem iPhones, não fariam o mesmo? Provavelmente, sim. Antes se consumia música confortavelmente sentado numa sala de orquestra. "Que absurdo esse pessoal usando drogas e assistindo música de pé!".
É como canta o Pink Floyd em "Time": "The time is gone, the song is over. Thought I’d something more to say." O tempo passou. A música acabou. E quem chega agora é o novo manda-chuva do pedaço.
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



O fenômeno do rock nacional dos anos 1970 que cometeu erros nos anos 1980
A música que surgiu da frustração e se tornou um dos maiores clássicos do power metal
A canção emocionante do Alice in Chains que Jerry Cantrell ainda tem dificuldade de ouvir
9 bandas de rock e heavy metal que tiraram suas músicas do Spotify em 2025
Adrian Smith fala sobre teste que fez para entrar no Def Leppard
Nick Cave descreve show do Radiohead como uma "atividade espiritual"
A dificuldade de Canisso no estúdio que acabou virando música dos Raimundos
David Ellefson explica porque perdeu o interesse em Kiss e AC/DC; "Foda-se, estou fora"
A farsa da falta de público: por que a indústria musical insiste em abandonar o Nordeste
Jeff Scott Soto não acha que Yngwie Malmsteen falou dele em recente desabafo
A banda fenômeno do rock americano que fez história e depois todos passaram a se odiar
A lenda do rock nacional que não gosta de Iron Maiden; "fazem música para criança!"
Phil Collen explica porque Adrian Smith fez teste mas não entrou no Def Leppard
Os 15 melhores álbuns de metal de 2025 segundo a Rolling Stone
Cinco bandas de heavy metal que possuem líderes incontestáveis

Show do System of a Down em São Paulo entre os maiores momentos do ano para revista inglesa
Os 5 artistas e bandas de rock mais pesquisados no Google Brasil em 2025
Guns N' Roses teve o maior público do ano em shows no Allianz Parque
System of a Down está no melhor momento da carreira, diz Serj Tankian
Pink Floyd: entenda o "estilo Gilmour" de tocar guitarra
Thrash Metal: a estagnação criativa do gênero


