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Atitude: Por que você não corta o cabelo?

Por Ivison Poleto dos Santos
Postado em 16 de julho de 2017

"Incrível que depois de quase vinte anos
Meu pai ainda reclama
Me manda cortar o cabelo e ir trabalhar"

Trecho de 'O Rock 'n' Roll Não Me Larga' do Made In Brazil.

Que atire a primeira pedra o cabeludo que nunca ouviu esta pergunta!

Tem outra: É promessa?

Eu passei boa parte da minha vida ouvindo as duas.

É incrível que em pleno 2017, as pessoas ainda te olhem atravessado por causa do seu cabelo. E te façam estas perguntas.

Optar por ter o cabelo é uma forma de resistência, e eu diria até de coragem, pois suas opções de carreira ficam seriamente comprometidas com a decisão de mantê-los compridos. Pode esquecer carreiras nas áreas de administração, direito, militar, e outras. Quantos eu conheci que tiveram que cortar os cabelos para conseguir emprego. E quantas vezes já me negaram emprego por causa deles? É melhor nem saber. Só sei que já perdi promoção e viagem ao exterior em uma empresa que eu trabalhei. Até aceitavam-nos compridos, porém para ser chefe teria que cortá-los. Na escola você sempre é o cabeludo. Aliás, em qualquer lugar você é o cabeludo. E quando te encontram pela primeira vez qual é a pergunta? "Você é roqueiro?". Não é?

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Essa coisa (prefiro chamar assim) com cabelos compridos masculinos vem de há muito tempo. Os antigos gregos os mantinham bem curtos por razões práticas e para, principalmente, diferenciá-los dos povos bárbaros, que os usavam compridos. Os romanos, seus herdeiros culturais, mantiveram a tradição. Depois das invasões bárbaras, a moda dos cabelos para homens variou bastante desde os muito curtos até os levemente compridos, mas nunca desgrenhados. Foi somente com a contracultura dos anos 1960 que eles retornaram da forma desgrenhada, quanto mais longos melhor. Deixar o cabelo crescer era uma forma de transgressão contra a sociedade e os papéis bem definidos para os sexos: homens cabelos curtos, mulheres cabelos compridos. O glam rock fez pior, fez os homens ficarem parecidos com mulheres.

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O cabelo comprido no metal é herdeiro dessa tradição como rebelião dentro da rebelião. As primeiras bandas de Metal mantiveram-nos compridos mesmo quando a moda mudou para deixá-los cada vez mais curtos. Manteve-se a transgressão. Tornou-se marca registrada do gênero tanto quanto couro negro e jeans tanto que as bandas de metal extremo os mantém os mais longos quanto possível. Acho que até mais, pois um cabeludo é identificado como headbanger tanto pelos cabelos quanto pelas camisetas de bandas. Porém, não é mais uma obrigação para os músicos e fãs. Mas que não é fácil mantê-los compridos, isso não é, mesmo porque a idade se incumbe de cortá-los mesmo quando você não quer...

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Sobre Ivison Poleto dos Santos

Veterano das guerras metálicas. Pesquisador, escritor, resenhista, músico frustrado (por isso tudo o anterior). Ao contrário da opinião comum, acho que o melhor do Metal ainda está por vir e que existem grandes bandas novas por aí. Só procurar. No meu caso elas vêm até mim.
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