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Rock: Esse negócio de mulheres gostosas sempre foi pra valer?

Por Rodrigo Contrera
Postado em 12 de agosto de 2016

Quando uma pessoa qualquer (ou seja, que não tem conhecimento aprofundado no assunto) ouve falar em rock, quase sempre imagina aquele mundo glamuroso de som alto, descompromisso, indisciplina, rebeldia, carrões, discussões e... mulheres gostosas. Claro, está meio que no imaginário de qualquer pessoa, desde os anos 60, que todo rockstar deve ou potencialmente é um cara sem compromisso fixo, fatalmente visado pelas garotas (e quanto mais jovem, melhor), e repleto delas a toda parte que for.

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Ocorre que, quanto mais eu me aprofundo no tema rock, mais eu percebo que isso, muitas vezes, apenas é lenda - ou uma lenda útil que permanece no imaginário das pessoas em geral, quem sabe desde Elvis, que tinha milhares de mulheres jovens e lindas em seus shows, ou dos Beatles (alguém não se impressiona com o desespero de algumas fãs deles?). Ou porque os vídeos de muitas bandas fazem questão de ressaltar essa característica, esse jeito descompromissado de lidar com o amor e o sexo, ou mesmo o jeito meio irresponsável que alguns (ou muitos) rockstars fazem (ou fingem) para ressaltar essa imagem.

Mas o rock, como muito do imaginário jovem, parece ter mudado - e muito. E muitos desses vídeos em que vemos mulheres desesperadas atrás de seus guitarristas ou vocalistas (menos dos baixistas), garotas em trajes mínimos meio que dispensando qualquer seriedade no sexo com seus ídolos, parecem atualmente (metade da segunda década dos anos 2000) algo no mínimo meio datado. Este texto é então uma espécie de "viagem" ao redor desse tipo de discussão, em termos do imaginário jovem que ainda parece rondar a imagem dos rockstars em geral. Lembremos, só para quem anda meio desatualizado, que o Ozzy não se cansa de implorar à sua mulher, Sharon, para que ela volte, para que eles retomem a vida, após ele ser pego traindo-a com uma mulher (não tenho detalhes). E vejam bem, é o Ozzy!

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Elvis e Beatles

Contei, num post anterior, como eu nunca me identifiquei com o rock de Elvis ou mesmo dos Beatles. Ocorre que o próprio Elvis e toda a fama dos Beatles meio que criaram, ao menos em parte, essa ideia de que rockstars deveriam vir acompanhados, sempre ou quase sempre, por mulheres lindas e enlouquecidas em suas artes e em suas vidas, assim como em suas vidas sexuais. Mas tanto Elvis como os Beatles parecem estar identificados de formas muito especiais com essa questão.

Elvis é um romântico. Isso fica claro em seu rock, e isso até mesmo para além do choque que foi, para muitos, vê-lo rebolando ou se envolvendo com milhares de garotas, na vida pessoal e em seus filmes (ou em sua fama, que eu não conheço em pormenores). O romantismo de Elvis fica também claro em sua trajetória (só de saber sobre sua vida, de forma geral, a gente percebe como ele sofreu com amores e com seu envolvimento com gente que realmente amou) e nas músicas, que perpassam um jeito bastante suave e até mesmo quase recatado de lidar com o assunto. Mas, por outro lado, basta ver seus filmes que essa ideia de um cara a toda hora acompanhado pelo sexo oposto dá, em muitos, uma aparência diferente. Como se ele fosse um cara disponível, pronto para outra garota, para outro romance, para outro amor.

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No caso dos Beatles, por outro lado, a aparência é ainda mais extrema. Sabemos, por um lado, que aqueles caras não eram uns santinhos. Sabemos também que muitas garotas eram realmente apaixonadas por eles, e que outras muitas embarcaram numa vida de excessos com esses caras, que depois iriam, quase na totalidade, ficar mais recatados. Mas os extremos das paixões que elas aparentam nos filmes, e nas muitas gravações que restaram, parece que nos leva a acreditar que eles passavam a vida inteira com mulheres novas a tiracolo, com vidas de excessos e tudo mais. O jeito deles, aparentemente anódino (quem leu as biografias sabe que isso é apenas aparente), parece confirmar que por detrás dessas aparências havia uma espécie de paraíso de mulheres à disposição. Mas também sabemos que com o tempo todos eles se recataram, viraram pais de família, se enquadraram e deixaram essa aparência de perdição para trás.

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Os anos 60

Com os anos 60, e o desbunde comportamental de forma geral, o rock passou a constituir parte de um estilo de vida resumido nos dizeres "sexo, drogas e rock'n roll" que, de alguma forma, meio que ultrapassou o próprio gênero musical e insistiu na ideia de que viver assim era viver livremente, livre das convenções que (teoricamente) estariam prendendo as pessoas a formas de viver alienantes e por aí vai. Pois os anos 60 meio que foram uma espécie de divisor de águas cujas consequências vemos até hoje.

Ocorre que nesse afã de superar as convenções o rock também entrou numa época dita Woodstock em que os excessos por meio do sexo meio que criaram uma imagem de licenciosidade que até hoje não foi em grande parte superada. Pois foi nessa época que surgiram os ídolos adeptos do sexo livre, que faziam horrores em lugares inapropriados (falando em termos de hoje, porque para eles nada era em última instância inapropriado), que não se ligavam emocionalmente com as pessoas, necessariamente, e que encaravam o sexo como uma espécie de meio de alcançar outros lugares, outras sensações, outras emoções. Pois nessa época o sexo passou a começar a ser tratado de forma menos, digamos, "séria", como meio de descoberta pessoal e não necessariamente como intercurso numa relação amorosa. Claro que os frutos desse tipo de descoberta a gente vê até hoje. E é nessa época também que surgem os rockeiros atletas sexuais, que transaram com mais de mil (Lemmy) ou até oito mil mulheres (Gene Simmons, do Kiss). É aí também que surge a liberdade sexual, realmente, em que homem pode gostar de homem, mulher de mulher, e por aí vai.

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Ocorre que nem todos embarcaram nessa. Claro que, regra geral, para todo rockeiro que se prestasse, havia dezenas, centenas ou até milhares dispostas a traçar uma boa noite de sexo. Claro que, mesmo dentre os recatados, o sexo livre ou a liberdade de fazer sexo sem muito compromisso era uma espécie de regra que abarcava a classe artística como um todo. Claro que isso também se imiscuía com outros gêneros artísticos, e claro que isso iria redundar em imaginar os rockeiros como grandes malucos do sexo, sempre com garotas, namoradas ou casos novos, mesmo que por apenas uma noite. Mas hoje sabemos também como, com o tempo, os grandes pegadores foram se tornando pais de família, homens mais recatados, tiozinhos ou tiozões relativamente conservadores, sexual e amorosamente. Nesse sentido, a ideia de sexo a todo momento virou em grande parte uma marca, real sim, mas também um pouco forçada, às vezes. Pois sabemos como, dos rebentos posteriores, grandes rockstars eram simples homens ou mulheres relativamente fieis; sabemos também que certos excessos passaram a ficar mais para a história do que para uma efetiva realidade. Tudo tornou-se, então, em grande parte, uma pose, real ou não, mas uma pose.

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Mas aí viriam os anos 80, e com eles a Aids, e com eles um certo conservadorismo. Será?

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Sobre Rodrigo Contrera

Rodrigo Contrera, 48 anos, separado, é jornalista, estudioso de política, Filosofia, rock e religião, sendo formado em Jornalismo, Filosofia e com pós (sem defesa de tese) em Ciência Política. Nasceu no Chile, viu o golpe de 1973, começou a gostar realmente de rock e de heavy metal com o Iron Maiden, e hoje tem um gosto bastante eclético e mutante. Gosta mais de ouvir do que de falar, mas escreve muito - para se comunicar. A maioria dos seus textos no Whiplash são convites disfarçados para ler as histórias de outros fãs, assim como para ter acesso a viagens internas nesse universo chamado rock. Gosta muito ainda do Iron Maiden, mas suas preferências são o rock instrumental, o Motörhead, e coisas velhas-novas. Tem autorização do filho do Lemmy para "tocar" uma peça com base em sua autobiografia, e está aos poucos levando o projeto adiante.
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