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Álbuns ao Vivo: ainda são necessários?

Por Júlio Verdi
Fonte: RockOpinion
Postado em 18 de julho de 2016

Nos anos 1970 e 1980 uma das grandes expectativas dos fãs de rock eram os lançamentos de álbuns ao vivo de suas bandas favoritas. Era uma forma de se ouvir seu heróis executando nos shows seus trabalhos de estúdios. Alguns desses álbuns são considerados clássicos do rock, nivelados em sua importância até mesmo aos discos produzidos em estúdios. Muitos deles ganharam a opinião (praticamente) unânime do público consumidor. Vamos a alguns exemplos:

The Who – "Live At Leeds" - 1970
Deep Purple – "Made in Japan" – 1972
Uriah Heep – "Uriah Heep Live" – 1973
Kiss – "Alive I" - 1975 e "Alive II" - 1977
Led Zeppelin – "The Songs Remains the Same" – 1976
Peter Frampton – "Frampton Comes Alive" – 1976
Rush – "All the World's a Stage" - 1976
Rainbow – "On Stage" - 1977
Thin Lizzy – "Live and Dangerous" – 1978
Judas Priest – "Unleashed the East" – 1979
UFO – "Strangers In The Night" - 1979
Queen – "Live Killers" - 1979
Black Sabbath – "Live at Last" – 1980
U2 – "Under a Blood Red Sky" - 1983
Iron Maiden – "Live After Death" – 1985
Scorpions – "Word Wide Live" – 1985

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Quem estuda a cultura rock já deve ter lido que muitos destes discos recebiam um "retoque" especial antes de serem soltos no mercado. Os famosos overdubbings. Algumas partes (ou muitas) do álbum eram retocadas em estúdio, às vezes até mesmo som de plateia era adicionado. Alguns artistas defendem abertamente tal prática, alegando que a captação do som ao vivo apresenta falhas corriqueiras. Para alguns fãs radicais isso soa como enganação.

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A cultura dos álbuns ao vivo chegou a um ponto em que muitos discos piratas ("bootlegs", não lançados oficialmente por gravadoras) fizeram sucesso no mercado paralelo, virando item obrigatório junto a qualquer coleção. Muitos com qualidade irrepreensível (oriundos provavelmente da mesa de som do palco), outros captados com rústicos gravadores de gente do público. Até hoje os colecionadores de LP disputam alguns desses álbuns. Alguns exemplos famosos de live bootlegs são o "Asbury Park" (Black Sabbath, 1975), "Berlin 5.29.70" (Deep Purple, 1970) ou "Destroyer" (Led Zeppelin, 1977). Em 1994 houve uma disputa judicial por ninguém menos que os remanescentes dos Beatles contra o lançamento de um show da banda de 1961, ocorrido na Alemanha ("Live at Star-Club-Hamburgo"). Hoje tal áudio se encontra facilmente na net. Nos anos 2000, o Pearl Jam, preocupado com a gravação de shows, chegou a lançar oficialmente dezenas de álbuns ao vivo, visando evidentemente em filar mais essa fatia mercadológica.

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No Brasil, a prática de se lançar discos ao vivo nunca foi muito intensa. Alguns álbuns foram bem celebrados, seja pela ousadia ou pela força de suas vendas. Podemos citar "Mutantes Ao Vivo" (Mutantes,1976), "Korzus ao Vivo" (Korzus, 1985), "Made Pirata Vol. I e II" (Made in Brazil 1986), "Rádio Pirata ao Vivo" (RPM, 1986), "Barão ao Vivo" (Barão Vermelho, 1989), "RDP ao Vivo" (Ratos de Porão, 1992), "Acústico MTV" (Legião Urbana, 1999), dentre outros.

Mas a era da venda de discos passou, sobrevivendo ainda com pouca força nos dias de hoje. Se discos físicos não são mais objeto de posse dos fãs mais jovens, o que dirá do mercado de álbuns ao vivo? É bem comum hoje em dia a moçada se apegar em 3 ou 4 músicas de um álbum recém lançado, enterrando no passado o termo "B-Side" (oriundo dos 2 lados do antigo bolachão). Além do fato de que dezenas de milhares de vídeos de shows ao vivo são despejados anualmente no youtube, alguns captados desde toscas câmeras de celular até filmagens profissionais de canais de TV. É comum acontecer um show hoje e amanhã poder conferi-lo como foi.

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Muitos artistas e gravadoras hoje em dia se relutam até mesmo a gravar um álbum de estúdio, contrafaceando os custos de produção com a arrecadação de vendas dos álbuns. Um investimento salgado num disco ao vivo torna-se então uma aventura arriscada. No máximo o produto planejado é um DVD/Blue Ray.

À luz dos novos costumes, podemos decretar que a cultura dos discos ao vivo vai sobreviver apenas na arte da coleção. E praticada, em sua grande maioria, por gente acima dos 40. Em suma, quer quiser saber como é a performance ao vivo de seus artistas favoritos, torre uma grana para ir ao show, ou então estoure um saco de pipoca e confira como puder, entre seu sofá e sua smart TV.

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Sobre Júlio Verdi

Júlio Verdi, 45 anos, consome rock desde 1981. Já manteve coluna de rock em jornal até 1996, com diversas entrevistas e resenhas. Mantém blogs sobre rock (Ready to Rock e Rock Opinion) e colabora com alguns sites. Em 2013 lançou o livro ¨A HISTÓRIA DO ROCK DE RIO PRETO¨, capa dura, 856 páginas, trazendo 50 de história do estilo na cidade de São José do Rio Preto/SP, com centenas de fotos, mais de 250 bandas, estúdios, bares, lojas, festivais e muitos outros eventos. Curte rock de todas as tendências, em especial heavy metal e thrash metal.
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