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Um desabafo: Paul Di'Anno, siga em frente!

Por Thiago El Cid Cardim
Postado em 11 de julho de 2006

Sou fã de metal há bons 15 anos, devo dizer. E boa parte deles eu devo especialmente ao Iron Maiden, que me conquistou bem lá no começo e ainda continua fazendo a minha cabeça, não importando o que boa parte dos pseudo-críticos e fãs mais exaltadinhos andam dizendo por aí. No entanto, existe uma coisa que eu não consigo entender. Há anos, aliás: por que diabos os "maidenmaníacos" e mesmo headbangers como um todo gostam tanto do Paul Dianno? Juro que não entra na minha cabeça.

Veja bem: a minha birra com Mr. Paul Dianno não tem nada de pessoal. Juro. Embora prefira muito mais a voz e a postura de palco do frontman Bruce Dickinson, sei admitir a importância que Dianno teve para a história da Donzela de Ferro, dando voz aos memoráveis "Iron Maiden" (80) e "Killers" (81). São discos incríveis, com clássicos fantásticos como "Wrathchild" e "Running Free", só para citar aqueles mais ouvidos (o que dirá, então, de "Charlotte, The Harlot" e "Phantom Of The Opera"?). Isso é óbvio. O que não é óbvio, pelo menos para mim, é perceber que mais de 20 anos depois, Dianno simplesmente não conseguiu decolar uma carreira solo decente sem se desvincular do Iron Maiden. E o que é pior: não são os fãs que fazem isso. Mas sim o próprio Dianno.

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Na coletiva de imprensa do último Porão do Rock, realizada recentemente, olha só o que o sujeito falou sobre o Maiden: "Essa banda quando começou era pura energia, algo diferente de hoje em dia. Podemos dividir a banda em duas fases distintas, sendo que a primeira fase que era a que eu cantava, o Iron Maiden era uma banda com sonhos, tocávamos pelo prazer de estarmos juntos fazendo o que gostávamos, aquilo sim foi real! Hoje eu nem escuto os álbuns da banda, eles são meio frios, apenas show business, só pensam em dinheiro e marketing! Se dependessem de mim o Iron Maiden acabaria, a banda não tem mais valor nenhum". Pois bem. Ele tem ABSOLUTO direito de ter esta opinião. Tudo bem, então. Mas então...por que diabos os set lists de seus shows são formados quase que 100% por músicas do Iron Maiden? E mais: por que esta obsessão ridícula em atacar o Maiden e especificamente Bruce Dickinson, tentando conseguir alguma atenção por meio da polêmica? Será que o cara não percebe que isso só tira todo e qualquer brilho que seu trabalho solo possa ter?

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Vamos lá, os números não mentem: com a banda de nome "Dianno", lançou um disco auto-intitulado (84), de inéditas. Ok, começou bem. O álbum era realmente bom, sabe? Promissor, agressivo, com bom potencial. Depois, veio o ótimo projeto "Battlezone", no qual Dianno mostrou a que veio em três discos: "Fighting Back" (86), "Children of Madness" (87) e "Feel My Pain" (98). Isso mesmo, porrada na orelha, é assim que se faz. Mas então começou a palhaçada. Já no projeto "Killers", Dianno deixou a criatividade de lado e, entre algumas poucas faixas inéditas com alguma inspiração, começou a investir nas mesmas releituras manjadas das músicas que gravou à frente do Maiden. Em "Menace to Society" (97), lá estava "Remember Tomorrow" (que, segunda consta, Dianno escreveu em homenagem ao avô). E seguiram-se três discos ao vivo, todos com pelo menos cinco covers do Iron. Afe.

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Sozinho, apenas como Paul Dianno, olha só, eis que surge "As Hard As Iron" (97) - que, apesar do título soando como provocação gratuita, soava com gosto de novidade. Depois, apenas álbuns ao vivo e coletâneas, cujo principal mote eram - adivinha só? - as músicas do Maiden. Depois, tudo que ouviríamos de inédito vindo de Dianno seria o bacaninha "Nomad" (2000), cujas canções seriam recicladas mais recentemente em "The Living Dead", ao lado de duas faixas do...sim, sim, isso mesmo. Do Iron Maiden.

Mas a coisa toda não pára por aí: sua autobiografia se chama "The Beast"; você entra em seu site e o nome "daquela banda" está lá, maior do que o dele; ele esteve em turnê na Europa com o grupo Children of the Damned, que toca covers...você sabe de quem; seu primeiro DVD ao vivo ganhou o sugestivo título "The Beast In The East"; e entre um disco e outro, ele andou gravando um ou outro tributo ao...justamente, ao Iron Maiden. E vejam só: seu novo CD, anunciado esta semana, se chama "The Classics - The Maiden Years". E creio que o conteúdo da bolacha é óbvio para todo mundo.

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Paul Dianno pode estar acima do peso, mas isso não tem a menor importância. O vocalista tem uma voz de responsa. Daquelas intensas, poderosas, que merecem respeito. Mas já encheu o saco esta história de ver o sujeito fazendo a sua carreira sempre e sempre em cima do passado, usando até a tipologia do Iron Maiden em seus discos solo e flyers de seus shows, e batizando a si mesmo como "The Beast" - termo que, como todos os fãs sabem muito bem, só surgiu relacionado à banda de Steve Harris no disco "The Number of The Beast" (82), já sem a presença de Dianno.

Soa demais como picaretagem de um cara que adora pregar a autenticidade da cena metálica, mas que tem mais discos com covers do Maiden do que com faixas inéditas. Agindo desta forma, Dianno parece ainda mais marketeiro do que os ex-companheiros de banda que costuma acusar desta forma.

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Mr.Dianno: quem vive de passado é museu. No mundo da música, passar a vida toda se lamentando a respeito da saída de uma banda não leva ninguém a lugar nenhum. Tanto é que você está ali, há vinte anos, estacionado no mesmo lugar, sempre e sempre lembrado como "o ex-vocalista do Iron Maiden".

Vamos traçar um paralelo interessante: com "Heaven & Hell" (80) e "Mob Rules" (81), Ronnie James Dio fez dois dos mais aclamados discos da história do Black Sabbath, que até hoje fazem alguns fãs não sentirem a mínima saudade de Ozzy Osbourne. Mas, depois que abandonou os microfones do Sabbath, Dio seguiu em frente. Tocou sua carreira. E mesmo cantando algumas (eu disse ALGUMAS) canções de sua época à frente do Sabbath nos shows, Dio lançou nada menos do que 10 álbuns solo. Pode não ter acertado sempre. Mas conseguiu discos memoráveis, como "Magica" (2000) e o lendário "Holy Diver" (1983). E definitivamente, ninguém se refere a Ronnie James Dio como "o ex-vocalista do Black Sabbath". Ele é simplesmente Dio. E ponto final.

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Então, Mr.Dianno. Siga em frente. Como Dio fez. Temos certeza de que você tem talento e capacidade para fazer o seu próprio "Holy Diver". E usando um trocadilho com o título da música da qual você tanto gosta, "Remember Tomorrow": Stop remember yesterday. And start living tomorrow.

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Sobre Thiago El Cid Cardim

Thiago Cardim é publicitário e jornalista. Nerd convicto, louco por cinema, séries de TV e histórias em quadrinhos. Vegetariano por opção, banger de coração, marvete de carteirinha. É apaixonado por Queen e Blind Guardian. Mas também adora Iron Maiden, Judas Priest, Aerosmith, Kiss, Anthrax, Stratovarius, Edguy, Kamelot, Manowar, Rhapsody, Mötley Crüe, Europe, Scorpions, Sebastian Bach, Michael Kiske, Jeff Scott Soto, System of a Down, The Darkness e mais uma porrada de coisas. Dentre os nacionais, curte Velhas Virgens, Ultraje a Rigor, Camisa de Vênus, Matanza, Sepultura, Tuatha de Danaan, Tubaína, Ira! e Premê. Escreve seus desatinos sobre música, cinema e quadrinhos no www.observatorionerd.com.br e no Twitter.
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