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Camisa de Vênus: Vocalista Marcelo Nova comenta a volta da banda

Por Claudio Szynkier
Fonte: Carta Maior
Postado em 23 de janeiro de 2004

Após sete anos, o Camisa de Vênus está reunido outra vez. Marcelo Nova e seus correligionários do rock marca "rock mesmo", som que dispensa demais rotulações, não parecem estar ambicionando a imagem de uma "volta triunfal" (seria a segunda na carreira da banda). O encontro deve ser diversão relativamente simples, "festa de velhos amigos" para uma grande platéia em Salvador. Será no Festival de Verão, sai CD, sai DVD, a coisa se imortaliza via audiovisual e acabou.

A observação mais ocorrente em uma conversa com Marcelo Nova envolve a palavra conservadorismo. O discurso de Marcelo é baseado em um purismo autêntico de geração, espirituosamente conservador. Marcelo, transitando entre acidez e devoção, argumenta com entusiasmo sobre assuntos que parecem motivá-lo especialmente. A conversa rende. Plínio Marcos, Bob Dylan, o rock e a Bahia são os mais marcantes nas linhas abaixo.

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O músico concedeu entrevista exclusiva à Agência Carta Maior, no primeiro dia de ensaios para o novo show.

Agência Carta Maior - Em meados da década de 90, uma pessoa ligada à banda ligou para sua casa e falou "Marcelo, ouvi na TV que o Skank é a sensação ro rock brasileiro, o Camisa tem que voltar". O que impulsionou vocês agora? A banda planejou esse retorno?

Marcelo Nova - Eu fui tocar em Salvador no ano passado, em um show meu. O Gustavo, que é o guitarrista solo, subiu no palco e nós tocamos juntos, após muitos anos, pois o Camisa não se reunia havia 7, 8 anos... 7 anos. Após o show, conversamos e ficamos de estudar quando uma reunião aconteceria, logo depois veio o convite da EMI e aí a coisa aconteceu.

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Hoje, nós não somos mais meninos de 30 anos, de 28 anos, entendeu? Está todo mundo envolta dos 50, e o Camisa cumpriu muito bem tudo aquilo que foi proposto, lá nos anos 80. Nós saímos do anonimato total. Era uma banda que não tocava em rádio, pois seu nome era palavrão. Não podia aparecer na imprensa, seu nome era ofensivo, e a banda tornou-se uma espécie de... enfim, nós acabamos chegando a discos de platina, a reconhecimento de vendagem de discos pela indústria fonográfica. Então, quando o Camisa acabou, no final da década de 80, aquele foi o momento ideal, adequado. Nós já tínhamos feito tudo aquilo que havíamos nos proposto a fazer. Na verdade, eu detestaria me tornar uma caricatura de mim mesmo, entendeu? Ali, a gente já tinha passado por tantas coisas, nessa trajetória de uma banda de rock que saiu da Bahia.

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Em 95 e 96, havia 10 anos que nós não fazíamos um trabalho, e tinha um disco inédito para fazer, porque o contrato previa dois discos, um que acabou sendo o Plugado, álbum ao vivo, e outro de estúdio, o Quem é Você?. Esta era a grande motivação da história, por se tratar de um desafio: uma banda, depois de 10 anos, gravar um disco inteiro de material inédito, com o legado que tínhamos deixado para trás. O Quem é Você? foi um disco muito bem sucedido do ponto de vista artístico. A parte de produção, a parte instrumental. O disco surpreendeu a mim, quer dizer, na verdade, superou as minhas melhores expectativas. De lá para cá, paramos outra vez, são mais 7 anos sem nada. E, dessa vez, é um show.

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Nós vamos gravar o show, é uma festa. É só uma reunião, e como vai ser na Bahia, será uma experiência de compartilhar as coisas, compartilhar com uma porrada de fãs que nos ouviam 20 anos atrás, 23 anos atrás, para ser mais preciso. Também conta a questão de ser um festival, com várias bandas - de diversos estilos musicais – tocando. É importante, também, o fato de gravarmos um CD e um DVD. É a perspectiva de "fazer um som" com os velhos integrantes da banda, entendeu? Vinte anos depois, vamos gravar mais um disco, fazer um disco ao vivo, vai ser interessante. É muito mais uma idéia de celebração. "A volta do Camisa, para retomar e tal...", não se trata disso. Começamos a ensaiar, e vamos fazer isso até a próxima semana, porque, afinal de contas, são 7 anos que nós não nos encarávamos para fazer isso. Queremos gravar e fazer o melhor possível... O Camisa sempre foi bem ao vivo, a banda sempre teve uma resposta de público muito boa quando tocou ao vivo.

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CM - Vocês, na década de 80, lançaram um disco ao vivo emblemático, o Viva. Era um trabalho meio atrevido para a época.

MN - Do ponto de vista da linguagem, era absolutamente inédito, porque não havia música com palavrão naquela época. Não havia, literalmente não havia. A única música com palavrão gravada, na música popular brasileira, era a de Chico Buarque "joga bosta na Geni". Mas eu, quando menino, com 17, 18 anos, vi Plínio Marcos, em Salvador, fazendo Dois Perdidos Numa Noite Suja. Vi também metade do teatro ir embora quando começou a linguagem do "vem cá, seu filho da puta!", "vai tomar no ...". Então, a classe média soteropolitana retirou-se do teatro, porque se recusava a ouvir aquela linguagem.

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O teatro brasileiro era baseado em outras coisas, e Plínio chegou com aquele estilo autoral, chutando o balde. Então, eu inseri todos aqueles palavrões no Viva não como uma "apologia ao palavrão", porque na verdade esta é a linguagem do povo brasileiro, é o linguajar que usamos no dia-a-dia e que não era incorporada à arte. Então, eu lembrei de Plínio e disse "Pô, Plínio fez isso no teatro, eu vou fazer na música!". E foi aquela polêmica absurda, quando, na verdade, minha única intenção era tirar o meu chapéu para Plínio Marcos. Entendeu (risos)?

CM - Vocês vão celebrar exatamente no ponto de origem: Salvador. Você um dia chegou a dizer que se sentia um alienígena em Salvador.

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MN - Na verdade, eu sempre me senti estranho em qualquer lugar. Sentia-me estranho lá e sentia-me estranho aqui, em São Paulo, também. Não consegui compartilhar essa total afinidade com hábitos e gostos da média da população, sem falar de qualquer cidade específica. Mas, evidentemente, em Salvador, pelo fato de eu ter nascido e crescido lá, e por, desde uma idade muito tenra, ter me visto já assolado por aquela farsa da baianidade beleza, linda e maravilhosa, eu senti-me com a necessidade de buscar outros espaços. Vi-me precisando conhecer novas culturas, com a necessidade de mover-me geograficamente através do planeta.

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Na época, aquilo para mim era sufocante, literalmente sufocante. A saída para isso foi montar uma banda de rock. A minha intenção, quando eu montei o Camisa, não era me tornar um artista e fazer uma carreira musical. Eu montei o Camisa de Vênus para esculhambar com a Bahia. Eu já não agüentava mais ouvir músicos baianos cantando, enaltecendo, as inúmeras virtudes de se nascer na Bahia, sendo que eles não tinham dentes e alguns, quando defecavam, tinham que ter um pinico para jogar as fezes para o lado de fora da casinha onde moravam. A população baiana é 80 % negra, e o negro era muito bonitinho, entendeu? Como um abajur no canto da sala. Vestido de pai de santo, ou qualquer coisa assim.

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A minha intenção era esculhambar com o cenário musical e tirar a máscara da baianidade. Só que, depois que eu saí de Salvador, eu percebi que o Brasil era uma imensa Salvador. Eu achava que aquele provincianismo, aquela dificuldade de conseguir se expressar de uma forma mais incisiva... (pensativo).

CM - Pessoal?

MN - Não, pessoal eu sempre fui, bicho. Eu sempre fui pessoal em tudo o que eu faço, e é por isso que eu sempre andei sozinho, nunca pertenci a movimento nenhum. Eu morria de rir quando os caras escreviam "a banda punk baiana", morria de rir! O punk só me interessou porque era uma nova possibilidade de resgate de determinados valores que haviam sido praticamente esquecidos no rock. Mas o punk de carteirinha, de andar de casaco de couro, de coturno e gritar "anarquia!"... sabe, aqueles códigos todos? Eu sempre achei aquilo deplorável, nunca me interessou quando eu era menino, muito menos agora.

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Voltando a Salvador, eu queria esculhambar com aquele modo de vida, com aquela cultura, que já era uma cultura esculhambadérrima, pois, na verdade, não pressupunha cultura nenhuma, né? Era a falta de cultura sendo celebrada como tal (risos)! Era a ausência de uma cultura sendo celebrada como cultura.

Então, o Brasil também era uma "grande província". Por exemplo, Salvador e Rio de Janeiro. Depois de Salvador, fomos ao Rio de Janeiro. A linguagem de todas aquelas bandas cariocas era alguma coisa originária de outro ponto de vista, uma linguagem evidentemente mais pop e bem trabalhada em termos de produção musical, mas, no fundo, a mensagem era tão conformista quanto.

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Salvador já era uma página completamente virada, e acabamos nos instalando, depois de 9 meses de Rio, em São Paulo. As coisas começaram a acontecer, em termos estruturais, com gravadora e tal, e o Camisa tornou-se a banda, aquela banda, com fãs espalhados por tudo quanto é canto, e chegamos àquele ponto que eu havia descrito. Quando o Camisa ganhou disco de platina, eu pensei: Ué, daqui para frente tudo pode se tornar tão confortável e previsível, eu não vou me tornar a antítese do que eu sempre quis ser quando formei a banda.

CM - Depois desse tempo, via TV sobretudo, o processo de comercialização dessa Bahia com a qual você não se identifica tornou-se altamente sofisticado, e se acentuou...

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MN - Só para esclarecer. As pessoas sempre me perguntam se eu tenho "raiva" (Marcelo fala de forma levemente jocosa) de Axé Music, se eu tenho "raiva" de música baiana. Eu não tenho ódio, eu apenas desprezo. Você entende? Os padrões artísticos no Brasil sempre estiveram vinculados, infelizmente, a modismos. O Camisa quando surgiu, quando houve toda aquela história, também estava dentro de um certo modismo, que era rock no rádio brasileiro! Você ligava o rádio e só ouvia rock brasileiro. Era Camisa, Paralamas, Ultraje, Ira!, Titãs, Legião Urbana, Capital - uma moda de rock. Ali, não se estava colocando no ar, em questão, o talento das pessoas, individual ou coletivo. Era tudo vendido como uma moda.

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Essa história de que rock pressupõe qualidade, rebeldia, uma certa superioridade musical em relação a outros gêneros, é uma falácia. A maioria das bandas de rock é uma porcaria. Assim como qualquer maioria. Ouve essa safra de novos músicos da MPB e você tira 10 %, o resto é um pé no saco sem tamanho! Entendeu? É uma total ausência de consistência no que se propõe a fazer. Só que isso é geral: no rock, na MPB. Lá fora é a mesma coisa. Surgem 100 bandas de hip-hop por dia, e você tira uma, no final do mês, que valha a pena.

E aqui a situação é mais grave. Lá, um músico, um cara como Lou Reed, por exemplo, que não é um artista de grande popularidade, é um cara que atua em uma outra área, não é rock de arena, nem U2, nem Metallica, tem um espaço, um circuito que ele percorre tranqüilamente há anos e anos, sem nunca ter se desvinculado desse ambiente que ele criou para si próprio. Aqui, no Brasil, você é calça de veludo ou bunda de fora. Você tem de estar inserido nessa coisa de moda, tem de estar colocado, vendido e trabalhado dentro de uma nova onda que surja. Isso é realmente muito ruim, porque, se você observar, era a moda do rock, depois a moda da lambada, depois a moda do sertanejo, depois a do pagode, depois a do forró... Eu estou esperando a hora em que a moda seja "ser fora de moda". Eu só estou esperando por isso!

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CM - Mas o rock, comercialmente, e até no Brasil, sempre se reciclou bem, chegando a reinventar-se em alguns momentos, não?

MN - Tem uma coisa interessante, e isto é do rock como linguagem musical. O rock é um estilo que sempre, de alguma forma, inova sem deixar de ser a mesma coisa, né? Se você pensar em Elvis, em Rolling Stones, em Led Zeppelin, em Sex Pistols, em Pearl Jam, você terá 40 anos de rock com características completamente diversas, mas todos eles estavam fazendo rock’ n roll. É uma coisa boa do rock. Quando parece que se esgotaram todas as possibilidades, vem uma banda de algum lugar que consegue, utilizando coisas que já existiam lá atrás, dar um tapa aqui, outro ali, e fazer algo novo.

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E, quando eu falo disso, eu não estou me referindo a british pop, a essa coisa assexuada inglesa, nem à musiquinha deprê de rock triste. Manja rock triste (risos)? Bandinha de rock triste, esses Belle and Sebastian (neste momento, o tom de Marcelo é jocosamente ácido). Sabe, essas bobagens? Eu sempre vi a coisa desse lado, eu sempre fui um cara da tradição, bicho. Você entende? Quando o Camisa estava começando, misturando-se a todas aquelas coisas que a gente fazia, eu cantava Adelino Moreira, Jards Macalé, Walter Franco... bem, isso, às vezes, passa desapercebido pelas pessoas. Eu, com o Camisa de Vênus, gravei duas músicas de Adelino Moreira.

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Sempre me interessou o texto dramático que ele tinha, eu observei a dramaticidade contida nos textos de Adelino e usei aquilo como combustível para o mata-borrão sonoro que era o Camisa de Vênus.

CM - Quanto àquele aspecto da maturidade...

MN - (Marcelo corta, perspicazmente) Toda hora tem um menino me desafiando para um duelo, para mostrar que é mais rápido do que eu no gatilho. Então, eu sempre digo assim, meu querido, é o seguinte, Marceleza agora só vai pro saloon para ver as meninas dançando can-can, gosto de umas coxinhas, tomo meu copo de leite e volto para casa. Eu tô passando o meu "45", já deixei para trás, aliás.

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Hoje, o que temos em mente é fazer um puta show e uma festa. Nós também merecemos, entendeu? Os velhinhos também querem farrear (risos)! Uma festa nossa, com cinqüenta mil convidados que lá vão estar. Mas é uma festa nossa, nossa! Minha, de Kau e de Gustavo. Agora, o meu trabalho é uma outra coisa. No final deste ano, eu vou começar a gravar meu disco solo, o meu próximo disco de músicas inéditas. É um disco no qual eu já venho trabalhando há muitos e muitos anos, e vou sempre adiando.

CM - Fale um pouco sobre as composições desse disco solo.

MN - É chato falar de coisas que ainda não aconteceram, é muito chato ficar descrevendo música, é muito ruim. Mas, eu poderia dizer para você que é um disco existencialista. É um disco que tem começo, meio e fim, no sentido de que as faixas, embora o disco não tenha nada a ver com ópera rock, ou algo assim, vão se sucedendo. Estão tematicamente interligadas. É quase uma espécie de... do útero ao crematório (risos).

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CM - E os ensaios para o show do Camisa de Vênus? Como as coisas vêm se encaixando?

MN - Na verdade, hoje (dia 19 de janeiro) foi o primeiro ensaio. Acabei de chegar do ensaio. Na bateria, no baixo e no órgão estão os caras da minha banda, então a gente sabe exatamente do que se trata. Não rola aquele papo de "estou chegando, e então, como é aquela canção e..." - isto não acontece. Nós 3 estamos ali cercados por uma banda que já existe, uma banda que funciona. Não é um músico contratado para o baixo, um outro para a bateria, não é assim. O Dênis, batera, e o Edu, baixista, tocam comigo há 5 anos. O Johnny, que toca piano e órgão, está comigo há 16 anos! O ensaio foi facílimo, do ponto de vista da execução musical.

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O trabalho vem consistindo em dar, em algumas canções, um tapinha aqui, um tapinha ali, para tornar a coisa mais divertida. Não vamos tocar as canções de maneira exatamente igual aos registros do outro disco ao vivo, o Viva. Não tem sentido. Aí, é melhor ficar em casa ouvindo o Viva.

Estamos trabalhando em músicas que nós nunca tocamos ao vivo. Se tocamos, foi em algum ponto distante, lá em 85, por aí. Por exemplo, Noite e Dia, que é uma canção do segundo álbum do Camisa. Há, claro, todos aqueles hits Bete Morreu, Joana D‘Arc, Só o Fim, My Way, Silvia, todas essas coisas. Mas, intercaladas a essas, estamos preparando algumas músicas interessantes. Por exemplo, minha primeira parceria com Raul Seixas, Muita Estrela, Pouca Constelação, e a própria Noite e Dia. Há a A Ferro e Fogo, que é uma música que nós gravamos com orquestra sinfônica, em 1986.

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Em 86, depois do Viva, a imprensa me rotulou como punk baiano, aí eu falei "bom, eu vou mostrar o quão punk eu posso ser", e gravei uma música com 35 músicos de uma orquestra sinfônica!

CM - Essa sensação de estar inevitavelmente atrelado ao modismo, citado antes por você, chegava a ser... opressiva?

MN - Eu achava só chato, bicho. É curioso olhar para trás, ver que foram feitas tantas coisas e constatar que o que fica realmente no imaginário das pessoas é aquilo que toca no rádio. As canções que são consideradas as grandes canções são nada mais nada menos que aquelas músicas que tocaram no rádio cem vezes por dia. Então, essas canções acabam tendo um destaque em relação às outras, o que, do ponto de vista autoral, é absolutamente injusto.

Sílvia, por exemplo, é uma música extremamente desinteressante. Eu diria mais, é uma música chata. É música daquelas "engraçadinhas". Depois que a piada é contada, perde a graça, você já sabe a piada. A primeira vez, tudo bem, mas depois de vinte anos... De qualquer forma, as pessoas adoram essa música! Até hoje é um grande hit no imaginário das pessoas, por ter sido um grande hit de rádio, é isso que eu estou dizendo. Na verdade, eu nem costumo tocar muito Sílvia, mas, como dessa vez será uma festa, a gente resolveu incluir no repertório. Mas eu raramente toco nos meus shows.

CM - E Bete Morreu? Eu gosto muito.

MN - Bete Morreu é uma canção pela qual eu tenho muito carinho. Foi uma das primeiras letras que eu fiz, você entende? Eu me lembro do garoto Marcelo tentando começar a escrever, e aí surgiu Bete Morreu. Eu não nasci gênio, como o Bob Dylan. O cara com 23 anos de idade escrevia Mr. Tambourine Man, não dá para admitir que um cara com 23 anos consiga escrever algo com aquela maturidade, com aquela complexidade, com aquela conotação poética. Eu fico estupefato quando penso que aquilo foi feito por um menino de 23 anos. Mas, enfim, ele nasceu gênio, é um problema de DNA. Eu, não.

Eu sou um cara que foi se tornando melhor em seu ofício na medida em que o tempo foi passando... na medida em que eu fui acumulando experiências, na medida em que eu continuei com minha leitura, algo que começou cedo para mim. Quando você vê uma canção como A Ferro e Fogo, que eu citei, nota-se nela, provavelmente, a primeira que eu fiz e pude dizer "ah, cara, agora você acertou". "Depois de quatro álbuns, você finalmente acertou", eu percebi aquilo. Ali tem uma marca divisória para mim, de maturidade, de texto. É uma música que faz diferença, entendeu? É uma música que, pelo fato de nunca ter tocado em rádio e por ser grande - a versão original ficou em 8 minutos -, só os fãs mesmo é que conhecem. Então a gente resolveu dar uma roupagem para ela com orquestra sendo dispensada. Tiramos a orquestra e seremos apenas nós tocando.

Eu morava em Pinheiros (bairro paulistano) e havia passado uma tarde inteira, já invadindo a noite, trabalhando no texto. Lá pelas tantas eu botei um ponto, tum! Quando eu acabei de escrevê-la, eu disse "porra, você conseguiu".

CM - Seu momento Bob Dylan?

MN - Não, Bob Dylan é exceção, bicho, para qualquer coisa. Aquele "nojento" está fora de qualquer comparação. Aquilo ali é um absurdo. É o nosso Shakespeare da linguagem pop, né, cara? Um cara que escreve "I still believe she was my twin, but I lost the ring. She was born in spring, but I was born too late. Blame it on a simple twist of fate". Isso é puro Shakespeare, cara. Se isso tivesse sido escrito pelo velho Bill, e, quando eu digo Bill, não é Clinton, é William, o pessoal diria "olha, como o Shakespeare era genial...". Em português, quando você traduz, perde muito da rima, da métrica e da sonoridade, mas essa música, Simple Twist Of Fate, que ele escreveu naquele disco Blood On The Tracks, é Shakespeare, em inglês!
Então, eu costumo dizer, "esse velho judeu FDP". O pior é isso, cara, às vezes eu vou para cima do texto, de cabeça, e quando eu vou "pegar a vassoura", bicho, o cara já varreu tudo. Eu fico torcendo para que ele tenha deixado aquela "poeirinha" no canto da sala, sabe aquela? Torço para que o cara tenha esquecido uma "poeirinha" para eu varrer e tal... e ele não costuma deixar! Eu o xingo de madrugada, ofendo toda a família dele, o pai, a mãe, por conta disso, mas não tem jeito.

Link para o site do Marcelo Nova:

Entrevista concedida a Claudio Szynkier, da Agência Carta Maior, em São Paulo, janeiro de 2004.

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