Entrevista com Andy Parker, baterista do UFO
Por César Enéas Guerreiro
Fonte: Strangers In The Night
Postado em 14 de setembro de 2006
(Segue abaixo a transcrição de trechos da entrevista concedida pelo baterista Andy Parker ao Strangers In The Night - confira ao final o link para a matéria completa em inglês)
Vamos começar falando sobre seus primeiros dias no UFO. Como você começou a tocar bateria e como surgiu a oportunidade de fazer um teste no UFO?
Desde que me lembro por gente eu quis ser um baterista. Eu ganhei meu primeiro kit de verdade aos 12 anos e cheguei a tocar em várias bandas. Eu encontrei os caras num pub em 1969, e eles estavam procurando alguém para participar dos ensaios. Acontece que um dos meus colegas esteve na escola junto com o Pete. Começamos a conversar e eles me disseram que estavam procurando um novo baterista.
As audições foram no Fishmongers Arms em Wood Green [região da Grande Londres]. Eu lembro que eles chegaram atrasados. Mick Bolton chegou carregando uma caixa de papelão que continha um monte de solos e riffs misturados, mas nenhum parecia servir. Após uma hora de estalos, zumbidos e outros barulhos, ele me perguntou "você sabe soldar?" Até hoje ainda não sei se foi a minha habilidade com a máquina de solda ou com a bateria que me colocou na banda.
Foi você o baterista no show "Fagin's Blues Workshop", que consta como um dos primeiros shows do UFO?
Eu realmente não me lembro! Mas, se a banda já era chamada de UFO, então sim, eu estava tocando bateria, porque não adotamos esse nome até que eu entrasse no grupo.
Conte-nos como eram as turnês no início – a van caindo aos pedaços, as longas viagens na estrada cheirando a peixe, as viagens pela Alemanha, Japão, etc.
Nós tivemos algumas vans caindo aos pedaços naquele tempo, mas quem não tinha? O cheiro de peixe foi antes da minha época. Acho que quem viveu isso foi meu antecessor. Mas viajávamos muito pelas estradas, dependendo do local para onde fôssemos. Tocamos em todos os lugares possíveis. Pubs, clubes, repúblicas de estudantes – diga um local e eu digo que nós tocamos lá!
Então, depois desse começo humilde, você passou a tocar em enoooooormes shows em estádios, voando em jatos fretados, fazendo turnês com Ozzy, esse tipo de coisa?
A primeira vez que comecei a perceber que estávamos realmente progredindo foi quando fomos para o Japão no começo dos anos 70. Passamos pelo corredor de embarque de Heathrow (aeroporto de Londres), entramos num avião, voamos pro outro lado do mundo e quando chegamos fomos recebidos por limusines e fãs histéricos. Tocamos em um grande estádio no centro de Tóquio, gravamos um álbum ao vivo e fomos tratados praticamente como reis. Foi demais!
Pode parecer uma pergunta idiota, mas você prefere o suor e a fúria dos primeiros dias ou a sofisticação e o glamour da época dos grandes estádios?
Não sei dizer qual prefiro, porque não dá pra comparar as duas épocas. No começo, quando fazíamos turnês pela Inglaterra, o trabalho era duro porque, além de tocar, tínhamos que muito trabalho com o equipamento. Mas você normalmente acaba caindo na cama no fim da noite.
Conte-nos como são as turnês e as gravações hoje em dia
Gravar este último álbum foi uma experiência muito diferente para mim. Os caras já tinham as faixas básicas quando me juntei a eles – Phil tinha estado em Delaware trabalhando com Vinnie na parte deles (além de terem bebido bastante, eu soube depois) e Pete e Paul também tinham demos de suas músicas. Nós trabalhamos muito em cima dos arranjos inacabados numa sala de ensaios na cidade de Hanover e depois fomos pro estúdio.
Tínhamos planejado gravar as partes de baterias de forma analógica. Tanto Phil quanto eu achamos que era importante ter um som "real" de bateria neste álbum, então nós encontramos um grande estúdio com um gravador de fita de 24 canais para editarmos as faixas básicas. É claro que não foi fácil, principalmente se você lembrar que estamos na era digital!
Infelizmente a tal máquina quebrou no primeiro dia de gravações (dá pra imaginar porque o sistema digital substituiu o analógico) e, como o único técnico que podia consertá-la não podia sair de Munique, fomos forçados a abandonar essa idéia e passar pro digital. Foi a primeira vez que eu trabalhei com um sistema totalmente digital. Pra ser honesto, eu achei que foi muito tranqüilo. Quando gravei as partes de bateria, ficamos só eu e Tommy Newton no estúdio, então foi muito mais fácil me concentrar no que estava tocando. Não estou dizendo que vai ser sempre assim, mas neste caso estávamos com pressa (tínhamos perdido um dia de gravações) e isso realmente acabou facilitando as coisas para nós. E, graças à experiência do Tommy com o Pro Tools, eu acho que o resultado final ficou tão bom quanto o analógico. Porém, eu acho que uma faixa chamada "Smoke Too Much" (Fumar Muito) seria mais apropriada no caso do Tommy!
No caso dos shows ao vivo, digo que foram fantásticos! Eu fico muito à vontade naquele banquinho. A banda está muito motivada atualmente. A tensão que eu sentia no passado desapareceu completamente. Isso foi devido, em grande parte, ao Vinnie. Além de ser um incrível guitarrista, ele também é um cara honesto e de personalidade forte. Phil está tocando melhor do que nunca e Pete e Paul são puro rock and roll – é sempre um prazer tocar com eles.
Qual você considera o melhor álbum do UFO até agora – e por quê?
Eu sempre achei que "Strangers In The night" foi provavelmente o nosso melhor álbum, porque ele realmente capturou a essência do UFO. Mas, desde que terminamos o "Monkey Puzzle", eu não consigo parar de tocá-lo – então acho que esse pode acabar sendo o meu nº 1.
E quais são as suas músicas do UFO que você prefere tocar – e ouvir?
Músicas favoritas... difícil – Provavelmente "Love To Love" devido à sua diversidade. Também gosto muito de "I’m a Loser".
No passado, enquanto você estava trabalhando com o UFO, você chegou a ser procurado por outras grandes bandas?
Na verdade não. Eu recebi algumas ofertas interessantes, mas meu coração sempre pertenceu ao UFO. Durante seu curto trabalho com Ozzy, Pete pediu ao Jake E Lee que arranjasse um lugar pra mim na banda. Mas eu não acho que isso conta...
No caso do álbum "Walk On Water", como as coisas aconteceram, como você foi procurado e, quando você foi pro estúdio e começou a trabalhar nas músicas, você percebeu que estava participando de algo realmente especial?
Eu tinha acabado de me mudar da Califórnia de volta pra Inglaterra e começado a trabalhar para a minha família. Eu recebi uma ligação dos caras me dizendo que uma gravadora japonesa tinha colocado dinheiro para que o álbum fosse feito. Então eu simplesmente usei toda a minha cota de férias do ano seguinte e voltei pra Los Angeles. Nós ensaiamos por duas semanas e voltamos pro estúdio com Ron Nevison. Conseguimos gravar todas as faixas sem os vocais em uma semana, o que foi muito bom, considerando todo o tempo que costumávamos levar com o Ron.
Essa foi uma das razões que me fizeram ter muito orgulho daquele álbum. Todo mundo trabalhou muito para terminá-lo no tempo que tínhamos disponível. Infelizmente, a tensão na banda que mencionei antes estava muito forte, então, quando chegou a hora de fazer a turnê, eu recusei a oferta e voltei pro meu trabalho normal. Uma decisão difícil mas, olhando para trás, foi definitivamente a melhor para mim naquele momento.
Quem o influenciou como baterista e quais são os seus bateristas favoritos, vivos ou não?
No início, definitivamente Keith Moon, ele era simplesmente maluco. Depois, bateristas como Ian Paice e Cozy Powel e, mais recentemente, Vinnie Colaiuta. Mas para mim, o nº 1 de todos os tempos é o John Bonham (Nota: curiosamente o filho dele, Jason, já passou pelo UFO). Na minha opinião, ainda não há ninguém que chegue perto dele.
Quais são as sua opiniões sobre as eras de Bolton e Wallis? Sobre a primeira era Schenker? A era Chapman? E as eras de Atomik Tommy e Lawrence Archer?
A era de Bolton – o nascimento do UFO – dias memoráveis, grande cara – ainda somos amigos. A era de Wallis – Na verdade nunca funcionou, não é? Triste... A era de Schenker – Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos (Nota: ele está mencionando uma passagem do livro "Um Conto de Duas Cidades", de Charles Dickens).
A era de Chapman – Muito trabalho. Muita música. Muitas drogas. Quanto às outras duas eras, não posso comentar – Eu não estava lá - ou se eu estava, não me lembro!.
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