Alice Cooper e o "Welcome To My Nightmare"
Por Rubens Lessa
Fonte: Phoenix New Times
Postado em 01 de janeiro de 2007
(A matéria que segue foi publicada no Phoenix New Times - confira ao fim o link para o original em inglês)
ALICE COOPER está procurando dar um molho especial no seu "Christmas Pudding" este ano, evento realizado pela "Tia Alice" com objetivo de arrecadar fundos para a Solid Rock Foundation, fundação beneficente de assistência a crianças e adolescentes criada por Alice e Chuck Savale, em 1995. Então ele entrou em contato com três dos membros remanescentes da ALICE COOPER BAND - o guitarrista e tecladista Michael Bruce, o baterista Neal Smith e o baixista Dennis Dunaway - caras que o apoiaram em clássicos como 'I'm Eighteen', 'Be My Lover', 'School's Out', e de uma série de hits do disco "Billion Dollar Babies", de 1973.
Esses primeiros discos representam o mais emocionante capítulo no legado de uma das bandas pioneiras de rock menos valorizadas – e um "negligenciado" compositor, de acordo com BOB DYLAN em pessoa!
Cooper (nascido Vincent Furnier), filho de um pastor religioso, formou uma primeira versão do grupo em Phoenix, estabelecendo o hit 'Don't Blow Your Mind', com a então banda THE SPIDERS. Naquela época, eles foram para a estrada, em 1969, com um disco chamado "Pretties For You". Se mudaram para Los Angeles, alteraram o nome do grupo e chamaram a atenção de FRANK ZAPPA que produziu o disco e o lançou pelo seu selo (Straight Records). Cooper encara esse trabalho como um disco psicodélico decente, mas sem rumo. "E é por isso que Frank gostou tanto dele", diz rindo, "porque aquilo não fazia sentido algum sequer para ele."
Depois trocaram a cena de Los Angeles pela de Detroit, onde abriram shows para THE STOOGES e MC5. Lá, o grupo foi apresentado ao guitarrista solo que se uniria a eles, Glen Buxton, falecido em 1997. A banda encontrou também Bob Erzin, ou como Alice Cooper gosta de chamá-lo, "nosso George Martin". (Nota: renomado produtor responsável por todos os trabalhos dos BEATLES)
"Ezrin veio ver o grupo tocar", diz Cooper, "e ele nos chamou, ‘a galera ama vocês, que sequer têm um contrato. Não há nada nesses discos, nesses dois primeiros, que quando vocês ouvirem no rádio dirão, ‘nossa, é Alice’. Então, passamos onze meses fora da estrada e nos enfiamos dentro de um celeiro e re-aprendemos a tocar".
O que eles aprenderam naquele celeiro reflete-se no seu debut, "Love It To Death", de 1971, que trazia 'I'm Eighteen', seu hit supremo. "Aquele disco soava como se tudo estivesse no lugar certo", diz Cooper. "Havia uma coesão que nunca tivemos anteriormente, uma voz totalmente minha, uma guitarra soando como a do Glen. Daí você ouve e diz, ‘Ah, isso é Alice’. Para mim, esse é o primeiro verdadeiro disco de Alice Cooper."
Depois que o ano acabou, a banda tinha outro clássico nas mãos com "Killer", de 1971, uma obra-prima com oito canções destacando a buzina fanfarrona da música 'Under My Wheels' e a bizarra 'Dead Babies', sem contar a brilhante e subversiva faixa título. Em 1972 foi a vez do 'School's Out', que chegou ao número 2 das paradas, enquanto o disco ‘Billion Dollar Babies’, do ano seguinte, chegou ao topo das paradas e emplacou três Top 40, incluindo 'No More Mr. Nice Guy' e a favorita eleita por JOHN LENNON, 'Elected' - uma música cuja letra pode ser considerada como "politicamente incorreta".
Cooper relembra: "Tínhamos um acetato da música antes de ser lançada, e ele (Lennon) ficou três dias em uma sala ouvindo a gravação, porque, você sabe, ele era politicamente motivado. No terceiro dia, ele saiu no instante em que eu cruzara o corredor e me disse, ‘ belo disco’. Então eu disse, ‘Oh, obrigado cara’. Ele deu mais quatro passos, parou, e disse, ‘Paul não teria feito melhor.’"
Tão grandiosa quanto "Billion Dollar Babies" foi a turnê, ainda maior. Uma festa de horror misturada a comédia podendo culminar, a cada noite, na morte de Cooper pela guilhotina, cadeira elétrica ou a forca. Mas era um humor negro – algo que pais, em particular, tinham problemas em entender. Cooper nunca mostrava seu horror diretamente.
"Você tem que fazer isso contra alguém", diz Cooper, "Eu sempre fui do contra, mas com um pouco de comédia. Alice poderia furar sua garganta, mas ele provavelmente escorregaria em uma casca de banana alguns segundos depois. Havia um pouco do Inspetor Clouseau em Alice (personagem principal dos filmes da Pantera Cor de Rosa, comédia cinematográfica consagrada com o falecido ator Peter Sellers no papel do atrapalhado e divertido inspetor). Ele era Jack, o estripador, misturado com Rip Taylor (comediante norte-americano)."
Menos de um ano antes de alcançar o topo das paradas com ‘Billion Dollar Babies’, a ALICE COOPER BAND acabou. Mas Cooper voltou às paradas, em 1975, sozinho, com o disco ‘Welcome To My Nightmare’, um estouro platinado cujo single bombástico era, surpreendentemente, uma bem pensada e provocativa balada chamada "Only Women Bleed" ("Somente as Mulheres Sangram").
Faz um bom tempo desde o último grande single de ALICE COOPER, a canção ‘Poison’, do disco Trash (1988), e após três décadas ladeira a baixo desde "Nightmare", ele ainda acrescenta algo ao seu legado. Cooper retorna aos sorrisos sinistros e seus primeiros dias de rock de garagem com o disco de 2003, ‘The Eyes Of Alice Cooper’, e a seqüência de 2005, ‘Dirty Diamonds’, e ele está começando a trabalhar em seu próximo disco nas próximas semanas, que conforme diz será "mais próximo ao ‘Nightmare’".
O impacto musical de Cooper têm preenchido o cenário musical por mais de três décadas, do glam-rock ao punk-rock, do SLIPKNOT ao MARILYN MASON, do teste de Johnny Rotten para vocalista dos SEX PISTOLS, a expressar-se sozinho com a ajuda de 'I'm Eighteen'. E o que é o KISS senão uma banda de quatro Alice Coopers?
Mas assim como continua a abrir novos capítulos em seu legado, Cooper ainda se apresenta para seus fãs, e dá-lhe 'I'm Eighteen' sempre que está no palco. "Você pode pensar 42 anos depois, quando 'Eighteen' começar, ou 'Billion Dollar Babies', você diria, ‘ah não, de novo não’", Cooper diz a risadas, "e nos ensaios, apenas digo, ‘hã... rapazes, não posso ensaiar essa canção. A conheço da cabeça aos pés, de trás para frente, em espanhol ou francês’. Mas você a toca no palco perante dez mil pessoas, 'Billion Dollar Babies' começa e a platéia reconhece. De repente, é como se você estivesse tocando a música pela primeira vez. E você nunca se enjoa dela."
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