Pirate Bay: julgamento será lição punk para a era digital
Por Felipe Augusto Rosa Miquelini
Fonte: New Music Express
Postado em 24 de fevereiro de 2009
A matéria abaixo foi publicada no NME:
"Pirata", como "terrorista", é uma palavra cujo significado depende da sua perspectiva. No século 16, os espanhóis viam o Francis Drake como um pirata. Eles o chamavam de 'El Draque' (o dragão) porque eles incendiavam seus navios e roubavam suas mercadorias. De acordo com os livros de história ingleses, no entanto, ele é um herói nacional.
Você vai encontrar uma polarização similar de opiniões em relação ao The Pirate Bay, o maior portal do mundo para downloads ilegais de filmes e músicas. Para os gigantes da mídia como a Warner Bros e Sony, o site é inimigo público número 1, responsável por criar um buraco enorme nos seus balancetes comerciais.
É por isso que eles levaram os fundadores do site a juízo, acusados de infração a direitos autorais (ou, mais especificamente, "promover" a infração de direitos autorais que os outros cometem).
Para os seus usuários, no entanto, o Pirate Bay representa a máxima expressão articulada anti-autoritária; um inspirador ato de rebelião contra os interesses opressores das corporações.
O que separa o Pirate Bay de outros mártires de compartilhamento de arquivos que vieram e foram (Audiogalaxy, Napster Mark1) é a renegada qualidade de Jack Sheppard das evasões dos organizadores. Em 2006 os servidores do site baseado em Estocolmo foram perseguidos pela polícia. Três dias depois o site estava funcionando novamente.
Durante o atual julgamento, Peter Sunde Kolmsioppi, um dos fundadores, vem expressando seu infinito desgosto. "Vitória épica", ele gritou em 17 de fevereiro, depois de reclamar que o julgamento era "chato".
Há algo incrivelmente legal e tranquilo sobre isso. Lembra a entrevista do Bill Grundy do Sex Pistols, ou a cena no "The Breakfast Club" onde Bender é punido severalmente, deixando que o diretor Vernon o punisse mais.
Da mesma forma, os donos do site sabem que são intocáveis, então eles não precisam mostrar remorso. Isso é (para usar uma frase antiga mas esclarecedora) uma atitude puramente punk rock.
Sunde e seus co-fundadores agora têm servidores em localidades secretas em vários continentes, e dizem com orgulho que se derrubarem o site, eles podem voltar em questão de minutos. Mesmo que eles acabem na prisão, a importância e a magnitude da sofisticação do site permite que ele rode por si mesmo. Além do mais, onde está o medo em ser açoitado quando você não tem o dinheiro do lanche para dar em troca?
"Não importa se eles querem milhares, milhões ou um bilhão", disse Sunde numa transmissão pela web no domingo dia 15 de fevereiro. "Nós não somos ricos, e não temos dinheiro para pagar".
Mesmo que o julgamento do Pirate Bay seja meramente o maior esquema glamouroso numa batalha difícil sobre direitos autorais, ele parece se acelerar em direção à mais interessante e apreensiva batalha final.
Na Nova Zelândia uma nova lei ameaça os provedores de serviço de internet à responsabilidade legal de processar os que baixam arquivos considerados ilegais. Em protesto, usuários de internet ao redor do mundo começaram a esconder seus avatares para ilustrar o que a internet se pareceria se a lei tivesse efeito. Stephen Fry (ator britânico) é apenas um de muitos usuários da internet que dão apoio à causa.
Acrescente a essa recente vitória do Google em um caso privado em relação à sua ferramenta, Street View, e a tormenta sobre o direito do Facebook de reter informações do usuário, e adicione um perceptível nível, intenso e incômodo sobre o debate.
O Pirate Bay pode perder o julgamento atual, mas os princípios que ele representa - escolhas ilimitadas, a liberdade de fluência de informação - não ficarão neutralizados por muito tempo. Daqui em diante a coisa ficará muito interessante.
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