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Anos 80: Livro reúne entrevistas com astros da década

Por Roberto Rillo Bíscaro
Postado em 27 de dezembro de 2018

História Oral é ferramenta acadêmica muito importante para dar voz a quem não tem muita. Trabalhos com os mais diversos grupos minoritários – mas não apenas – têm produzido registros corretores da "História Oficial" e/ou capazes de motivar adoção de políticas públicas e no mínimo discussão sobre temas por vezes pouco abordados.

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Indiscutível a função social da HO, mas, também é valido usá-la para entretenimento, como em Mad World – An Oral History of New Wave Artists and Songs that Defined the 1980’s (2014) concebido e executado pelo escocês Jonathan Bernstein e pela norte-americana, duranie assumida, Lori Majewski. Prefaciado por Nick Rhodes (Duran Duran, Arcadia) e pósfaciado pelo não tão mais contemporâneo Moby, o livro traz 36 entrevistas com artistas New Wave falando sobre suas carreiras e o processo de composição das canções, que, segundo os autores, definiram uma época.

New Wave é termo guarda-chuva para tentar caracterizar a fragmentação de estilos da música pop após o esvanecimento da explosão punk. Bernstein e Makewski consideram que o período foi de fins dos 70’s até a gravação do single inglês Do They Know It’s Christmas? para angariar fundos para os famintos etíopes. A partir daí, a festa e o glamour acabaram e o pop passou a ser mais planejado e com pretensões a sério. A segunda metade dos 80’s caracterizou-se na Inglaterra pela enxurrada de pré-fabricados pela usina de hits de Stock, Aitken and Waterman e a Segunda Invasão Britânica nos EUA cedeu lugar ao predomínio do rap e de artistas locais.

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Os curtos prefácios dos autores e de Nick elencam fatores que levaram à explosão oitentista, dentre outros o barateamento da tecnologia; a influência de David Bowie, tido como pai da década; a MTV que possibilitou a Segunda Invasão Britânica nos EUA, porque como não possuíam vídeos para rodar as 24 horas da programação, tiveram que ir atrás das "estranhas" bandas europeias. No caso da Inglaterra, a fusão de glam, disco, punk, electronica (Kraftwerk na cabeça!) possibilitou mistura muito maior do que comumente aconteceu nos EUA.

Claro que essas são as visões dos prefaciadores, que pintam a metade inicial dos 80s como a última era dourada de criatividade pop em contraste com o hoje pré-fabricado mundo dos artistas que já vem prontos da gravadora, escolhidos em programas de talentos, gratos e humildes por haverem sido escolhidos, por isso, menos ousados. Além disso, o autotune permite que qualquer um cante. Por outro lado, Rhodes destaca o papel da internet como possibilitadora e facilitadora da exposição de novos talentos e criação de nichos de gosto e consumo. Os autores reconhecem defeitos da década como bizarrice e exagero nos cabelos, maquiagem e roupas, predominância da forma sobre conteúdo e até a estupidez de clássicos do período, mas transformam tudo em positividade alegando que era sinônimo de independência e personalidade, quando rádio e público estavam mais abertos para se aventurarem em abraçar coisas bizarras, diferentes.

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A ideia de entrevistar membros das bandas a partir de canções selecionadas como fundamentais causará polêmica entre oitentistas mais renhidos. Alegações contra a ausência de clássicos como Karma Kameleon, do Culture Club, podem ser contemporizadas com a promessa reiterada de segundo volume. Mas, há a inclusão de delícias tão fabricadas como as detratadas canções atuais, como no caso de Obsession, do Animotion.

Unanimidade é difícil, mas como discordar de canções tão fundamentais como The Killing Moon (Echo & The Bunnymen), How Soon is Now (The Smiths), Blue Monday (New Order) ou Love Will Tear Us Apart (Joy Division)? Ultravox, Spandau Ballet, Gary Numan, The Human League, Mad World passa em (ent)revista todos esses artistas que proporcionaram a trilha sonora de uma década nada perdida em canções executadas/regravadas até hoje. Além disso, em cada capítulo há um box com canções ligadas de alguma maneira à tematizada na seção. Volta e meia aparece "novidade". Os 80’s são um saco sem fundo.

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Curioso constatar que a criação das canções quase sempre é contada como obra do acaso ou que tomou muito pouco tempo, como se produzir um hit fosse superfácil (por que tantas produziram apenas um se é tão simples?). Cada capítulo tem um box relatando o que os artistas fazem na atualidade; então, os entrevistados sempre fazem questão de esclarecer que a reunião deles não é por dinheiro ou falta de opção, mas sobram alfinetadas em rivais em turnê por grana. Esse pessoal já foi estrela de primeira grandeza em sua maioria, por isso não espantam resquícios de arrogância.

Na verdade, isso que torna tão divertido Mad World – An Oral History of New Wave Artists and Songs that Defined the 1980’s. Traições, alfinetadas, arrependimentos e a crônica de fatos de bastidores que deram forma a bandas e canções componentes da memória afetiva de uma geração.

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Talvez a função social desse trabalho de História Oral seja precisamente alimentar nosso banco de memória, traçar elos de solidariedade entre diversos fãs em distintas partes do globo.

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Sobre Roberto Rillo Bíscaro

Roberto Rillo Bíscaro é professor universitário e edita o Blog do Albino Incoerente desde 2009.
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